Caravana da alegria

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

por Hosana Souza e Jéssica Oliveira

Para quem dormiu em praias e ganhou a vida recitando poesias aos amantes do mar, ficar parado com os braços cruzados vendo a vida passar de forma inútil é quase um martírio. Aos 33 anos, o malabarista Mozart Guida carrega uma história onde aprendeu que se deve correr atrás de seus objetivos ao invés de ficar esperando tudo cair do céu. E foi imbuído desse espírito que o jovem ativista cultural pôs a cabeça para pensar e o corpo para trabalhar em busca de formas que agilizassem a implantação dos projetos contemplados nos editais da SEMCTUR, ambos oferecendo oficinas de malabares e circo para as crianças da rede municipal de Nova Iguaçu. “Quando eu vi que a grana do Fundo Municipal de Cultura ia sair em um mês, eu pensei: ‘Se eu ficar esperando a grana sair para começar a articular as coisas, não dará para realizar o projeto esse ano’”, explica.

Para que as atividades nas escolas não ficassem para 2010, ele elaborou uma lista de escolas municipais e procurou suas respectivas diretoras, sempre com a justificativa de que tinha um grande presente para oferecer a cada uma delas. “A gente não acredita que vá fazer só se a grana vier”, disse ele na entrevista concedida em meio ao corre-corre da III Conferência Municipal de Cultura de Nova Iguaçu, que superlotou o auditório do Espaço Cultural Sylvio Monteiro no último fim de semana. “Até porque, se a grana não vier algo, já foi iniciado e nós arrumamos o dinheiro de outra forma. Não ficamos esperando ninguém, nós temos que fazer por eles e ponto”. Foi assim que, com o dinheiro no bolso, só precisou levar sua equipe para as 12 escolas que aceitaram as oficinas malabares e circo que propôs: além de as escolas já terem sido contatadas, o roteiro já estava escrito e, mais importante, a divulgação nos bairros estava a mil e não faltavam alunos interessados em aprender a arte milenar do circo.

Começou então um período de cerca de um mês em que Mozart Guida e sua trupe praticamente moraram na Kombi que os levou por praticamente todas as escolas da Estrada de Madureira, região criteriosamente escolhida exatamente pela carência de opções culturais para as crianças. “Na Kombi combinávamos as apresentações, cantávamos, ríamos, contávamos piadas e praticamente nos tornamos uma família, que batizamos de “Caravana da Alegria”, conta o artista. Os números provam o acerto da decisão de Mozart Guida, que foi o primeiro contemplado do Fundo Municipal de Cultura Escritor Antônio Fraga a concluir seu projeto. “Levamos um espetáculo de circo com duas horas de duração e oficinas de malabares aos alunos, que em média atraiu 150 crianças, mas que em algumas delas chegou a ter 350”, comemora ele, feliz com o fato de ter proporcionado o primeiro contato com o circo com a maioria do público para o qual levou sua mensagem.

Voltem mais vezes
Mozart Guida conta que a receptividade não só dos alunos, como também do corpo docente, foi emocionante. “As diretoras das escolas viravam pra gente e falavam: ‘Nós nunca recebemos nada assim, nada igual. Nós adoramos; voltem mais vezes’”. O resultado do trabalho animou-o a querer organizar, até o fim do ano, um grande sarau para a exposição dos trabalhos. “Nós não queremos formar artistas de circo”, contemporiza ele, que está feliz com a velha Rural que acabou de ganhar do pai, que será usada em suas excursões pela cidade. “Queremos formar jovens com espírito de cultura e que valorizem Nova Iguaçu. Nós preparamos eles para trabalhar com tudo, não só o circo ou o teatro. Nós formamos agente participativos e multiplicadores, que podem fazer o teatro ou malabares, podem também mexer com eletricidade, tocar violão, montar o cenário.”

Quando acabou o Fundo Municipal de Cultura, a Caravana da Alegria adotou a mesma estratégia para implantar o Pontinho de Cultura a partir da próxima semana. “Nós vamos dar aula na FAETEC de teatro com arte circense, para os alunos da instituição, do Monteiro Lobato e outros, que sejam moradores de Nova Iguaçu”, anunciar Mozart Guida, que acredita que atenderá cerca de 350 jovens da cidade com seu novo projeto. Depois disso, ele vai iniciar um projeto itinerante para, durante as férias escolares, levar espetáculos em praças públicas. As crianças aguardam, ansiosas.

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