Juventude vai ao paraíso

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

por Fernanda Bastos da Silva e fotos por Edson Borges Vicente


A juventude invadiu o escritório do CISANE no Jardim Paraíso na noite da última segunda-feira para fazer da VI Pré-conferência Municipal de Cultura a mais irreverente do processo de preparação para a Conferência Municipal de Cultura, no próximo fim de semana, no Espaço Cultural Sylvio Monteiro.


O debate, moderado pela antropóloga paulista Marcella Camargo, começou por volta das 19h30. A também secretária adjunta da SEMCTUR saiu impressionada do encontro, no seu entender o mais rico de todos que presenciou nesses últimos quinze dias. Além da presença dos jovens, duas coisas chamaram a atenção da antropóloga. “Não há nenhum acessório cultural no bairro e os jovens promovem todas as suas ações culturais na rua”, diz Marcella Camargo.

Marcella Camargo abriu os trabalhos do dia falando das ações culturais do governo Lindberg Farias, como a escola de pesquisa e a escola de comunicação. Em seguida, passou a palavra para o poeta iguaçuano Jorge Cardozo, que também é presidente do Conselho Municipal de Cultura da cidade. “O governo não vai fazer ação social”, esclareceu Cardozo. “Queremos apoiar as ações sociais promovidas pela comunidade”.

O anfitrião da noite, o produtor social Edilso Maceió, deu as boas-vindas para o deslocamento da comunidade da cultura até a ong que ajudou a fundar. “Acho importante virmos para os bairros longe do centro de NI, porque os jovens não vão pegar um ônibus para ir ao Espaço Cultural Sylvio Monteiro”, afirmou.

Uma das mais bem-sucedidas estratégias de moderação de Marcella Camargo foi perguntar aos jovens o que eles entendiam por cultura, e para que ela servia. Uma das respostas poderia se tornar um slogan tão poderoso quanto o “todo mundo é cultura”, com que o escritor e cineasta Marcus Vinicius Faustini cunhou sua gestão à frente da SEMCTUR: “A cultura serve para caracterizar as pessoas, os lugares, o vocabulário e até os alimentos. A cultura de Jardim Paraíso é a amizade, a igualdade, é o saber respeitar o espaço do outro”.
De igual para igual

O jovem Jéferson, 18 anos, lembrou o dia em que os frequentadores do CISANE conheceram o elenco de Malhação, novela da Rede Globo voltada para o público jovem: “Todos achávamos que seríamos menosprezados”, contou. “Nós somos da Baixada e estávamos ali representando o CISANE, mas eles nos trataram super-bem, de igual pra igual”. A expectativa do jovem era que o grupo fosse recebido de forma preconceituosa.

Dispostos a protagonizar o debate, os jovens do Jardim Paraíso questionaram a distinção feita entre duas culturas – uma que seria útil e uma outra que seria inútil – defendida por um dos engravatados adultos presentes à pré-conferência. Para esse jovem, a cultura iguala as pessoas. “Um exemplo disso é que nós estamos aqui de chinelo discutindo cultura com vocês, todos arrumadinhos”, afirmou. A plateia jovem foi ao delírio com essa intervenção.

Essa diferença também foi acentuada quando os jovens explicaram a ausência dos funkeiros na pré-conferência. “Eles acham muito chato”, afirmaram. Mas são esses mesmos funkeiros que protagonizam a grande cultura de rua do bairro, o que em tese minimiza a grande reivindicação por equipamentos culturais em Jardim Paraíso, desobrigando-os a ir tão longe para assistir a uma peça ou a um filme.

A apropriação da rua pela juventude de Jardim Paraíso impressionou o produtor cultural Lino Rocca, um dos adultos “arrumadinhos” presentes na pré-conferência: “Existe a possibilidade de abranger o projeto na rua?”, perguntou. Segundo os jovens, o desafio não seria de todo impossível. Ele chegaram a admitir a possibilidade de ganharem mais possibilidade se trocassem o CISANE pelas ruas.


Grupo faz a casa
Os jovens sustentaram a mesma linha de raciocínio quando Anderson Barnabé, o coordenador das escolas livres de cinema e música eletrônica de Nova Iguaçu, perguntou o que fariam sem o CISANE. “Se a gente não existir, o CISANE também não existe”, afirmaram. “Nós somos um grupo e é um grupo que faz uma casa e não a casa que faz o grupo”.

Quem ficou mais satisfeito com a intervenção dos jovens foi Edilso Maceió, para quem a autonomia faz parte da linha de trabalho da ong que dirige. “Nós estamos preparando esses jovens para que eles mesmos possam criar seus projetos”, afirmou ele, cuja pretensão é fazer com que o CISANE se torne um espaço cultural gerido pelos jovens que atende.

José Gonzaga, o coordenador do escritório do CISANE em Jardim Paraíso, falou da velocidade com que as coisas estão acontecendo na vida desses jovens desde que entraram no projeto. “Essas mudanças geram um pouco de dúvidas e conflitos na cabeça deles”, disse Gonzaga. Mas todos deram certeza de que estariam presentes na Conferência Municipal de Cultura no próximo final de semana.

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