Enciclopédias do cinema

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

por Jéssica de Oliveira. 

Os alunos da Escola Livre de Cinema passaram o último fim de semana nadando pela história da sétima arte, durante o chamado Mergulho Cinematográfico. No sábado, o crítico de cinema Rodrigo Fonseca fez uma longa exposição sobre a relação entre as histórias em quadrinhos e o cinema. No domingo, foi a vez do também crítico de cinema Daniel Schenker conduzir os frequentadores  da escola de Miguel Couto pela história do cinema brasileiro.

“Ele parece uma enciclopédia humana!”, espantou-se a estudante de cinema Josy Antunes no fim da aula de Rodrigo Fonseca. “Citou até personagens que nasceram no início do século, como o ‘Pafúncio’, de 1912”. Para quem não sabe, as tiras de George McManus narravam as peripécias de um ex-casal de operários para ser aceito pela aristocracia norte-americana do início do século passado. Adaptada para o cinema, teatro e televisão, Pafúncio foi a primeira HQ a ganhar repercussão mundial.


Rodrigo Fonseca traçou o desenvolvimento das histórias em quadrinhos até os dias de hoje, relacionando-o com o cinema. Um dos assuntos discutidos pelo crítico de cinema foi a acusação de plágio que recai sobre Shazam, publicado inicialmente pela Fawcett Comics como Capitão Marvel. Foi exatamente por causa da acusação plágio do Super homem que esse personagem cuja imagem física foi moldada à semelhança do ator Fred MacMurray passou 20 anos no ostracismo, voltando apenas na década de 1970. Sobre esse assunto, Rodrigo recomenda o livro “Shazam”, de Álvaro Maya.

A principal fonte de Rodrigo Fonseca foi sua assustadora memória, à qual recorreu para discutir clássicos da década de 1940 como “O Fantasma – O homem que nunca morre”. Comentando, tirando dúvidas e ensinando N técnicas sobre os quadrinhos, ele dava um verdadeiro mergulho no passado, falando de suas influências e de tudo que o levou a ter tanta coisa pra contar. No entanto, para mostrar a evolução das HQs, ele sacou duas obras: um novíssimo exemplar do Batman, trazido de Portugal, e um almanaque que parecia conter todas os quadrinhos desenhados até hoje. Sua dica foi “A História das histórias em quadrinhos”, de Moacyr Cirne: “Todos os livros desse cara são imperdíveis", recomenda.

“A aula foi maravilhosa”, conta Milena Manfredini, visitante assídua da Escola Livre de Cinema, apesar de não fazer parte das turmas de alunos fixos da escola. “O Rodrigo fez com que ficasse mais interessante do que o esperado porque ele foi puxando ganchos com outros assuntos, explicou técnicas e ‘porquês’. Foi muito bom.”

Períodos do cinema
No domingo, foi a vez de Daniel Shenker, crítico de cinema do Jornal do Brasil e do site criticos.com dar seu show. Ele começou contando a história da produção cinematográfica no Brasil, dividindo-a em seis períodos: chanchada, pornochanchada, cinema marginal, cinema novo, retomada e os diretores que começaram a produzir nos anos 2000, a geração de diretores como o pernambucano Cláudio Assis, que ainda não foi batizada.

O crítico de cinema do JB exibiu trechos de filmes como “Eles Não Usam Black Tie”, adaptação da peça de Gianfracesco Guarnieri em que o cinemanovista Leon Hirshman discutiu as relações de uma família da baixa classe média durante uma greve operária na ditadura militar. Ele comparou essa obra, na qual se destaca a interpretação naturalista da atriz Fernanda Montenegro, com “Nunca fomos tão felizes, do diretor Murilo Salles, baseado no conto “Alguma coisa urgentemente”, de João Gilberto Noll. Para Daniel Schenker, os dois filmes, embora tenham sido produzidos na mesma época e falem do mesmo tema, fazem uma abordagem diferente dos chamados anos de chumbo.

Daniel Schenker recorreu a outro filme de Murilo Salles para discutir a relação entre som e imagem. Foi “Nome Próprio”, uma adaptação do livro “Máquina de pinball”, de Clara Averbuck, estrelada por Leandra Leal. Para falar sobre o processo de criação das atrizes, o crítico do JB recorreu a “Jogo de Cena”, um perturbador misto de documentário e ficção em que o cineasta Eduardo Coutinho coloca em questão os limites da verdade e da mentira no cinema.

Assim como no sábado, a aula de domingo foi 100% interativa. Daniel respondeu com perfeição – usando apenas a memória, claro – a todas as perguntas dos alunos,  comentando sobre obras, autores e diretores com riqueza de detalhes. Quem presenciou, com certeza, tem uma pilha nova de informações para seu acervo pessoal cinematográfico. Quem perdeu, fique ligado no Cultura NI e nas dicas dadas para não deixar passar da próxima vez.

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