Potencial dos negões

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

por Larissa Leotério


Nova Iguaçu não quer ficar de fora da verdadeira revolução em curso no Estado do Rio de Janeiro, o único a conseguir prender alguém por crime de racismo. Por isso, os líderes do movimento negro estão promovendo uma série de parcerias com o poder público a fim de criar redes entre as instituições e a sociedade civil. “Fizemos importantes parcerias com as secretarias de Educação e Cultura”, exemplifica Paulo Santana, presidente da Coordenadoria de Promoção e Políticas da Igualdade Racial (COPPIR).

Além de garantir acesso a livros e textos sobre a história da África para professores, alunos e comunidade, a parceria com a SEMED vai oferecer um curso de extensão para que os professores possam contar a história dos nossos ancestrais para as crianças da cidade. “O tempo todo, nós cobramos que se estude menos história da Europa e mais história dos nossos ancestrais”, lembra Paulo Santana. “Mas como um professor pode lecionar sobre este assunto, se não há cursos de especialização para ele?”

Parece que a ideia está sendo muito bem assimilada dentro das escolas municipais, como se pode auferir pela adesão de cerca de 100 professores a um seminário promovido em novembro pela COPPIR. Também foi estimulante a participação dos professores às palestras, shows e a exposição itinerante João Cândido durante o mês da consciência negra. Nada menos do que 15 setores do governo foram mobilizados, participando com estrutura e apoio para esses eventos.

Presidente da Frente Parlamentar da Igualdade Racial, o deputado Carlos Santana é um grande defensor da necessidade de se divulgar a história de João Cândido junto à rede municipal de escolas. “João Cândido foi um dos maiores heróis brasileiros”, afirma o deputado. “Mas quantas das nossas crianças o estudam? Depois de 2 milhões de negros assassinados sobre essas terras brasileiras, levaram um grupo pra estudar na Inglaterra. Fazer ‘negão’ saber do seu potencial. Quantos sabem disso?”.

Passividade dos cotistas

O deputado espera que o exemplo do líder da Revolta da Chibata dê um novo ânimo às lutas raciais no Brasil, estranhamente estagnadas mesmo com a inclusão das cotas raciais. “Como não conseguimos colocar os cotistas num movimento?”, pergunta-se Carlos Santana, para quem os jovens esquecem que a forte presença negra nas universidades públicas brasileiras foi fruto de muitas passeatas e abaixo-assinados.

A passividade dos afro-descendentes também estaria por trás de perdas dramáticas para a memória do nosso povo. “Um exemplo disso é a terra dos quilombolas”, conta Carlos Santana. “A Restinga da Marambaia, antigo lugar de engorda de negro pra venda, hoje é propriedade do Exército Brasileiro.”

Também faz parte do mesmo contexto a guetificação das casas-de-santo de Nova Iguaçu, ainda que segundo o censo a cidade tenha mais terreiros do Salvador. “A religião não consegue se unir e eleger um representante”, indigna-se o deputado. “É por isso que somos condenados aos programas assistencialistas desde a infância”.

Apesar de todas as dificuldades, a resistência negra pode apresentar um acordo com o Vaticano que reafirmou o Brasil como um Estado laico, cujo objetivo é minimizar a perseguição às religiões afro-descendentes. “Esse acordo é um instrumento de combate, não às outras religiões, mas à intolerância”, afirma o líder da frente parlamentar, cuja ação visa aglutinar os religiosos afros e também os evangélicos que têm a essência de Martin Luter King.

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