Pipoca na Central

domingo, 24 de janeiro de 2010

por Josy Antunes 
 
Durante 30 dias, iniciados em outubro de 2009, a estação Central do Brasil e seus arredores foram transformados num grande set de filmagens. Mais de 200 pessoas participaram da primeira edição do Festival Estética Central, munidas de celulares e câmeras digitais, que estiveram disponíveis no núcleo criativo estabelecido no interior da estação. Além dos equipamentos necessários, o estande possuía ilhas de edição e uma equipe de jovens aptos a oferecer o suporte necessário aos novos produtores.

A proposta era simples, porém inédita: capturar a essência da Central através do audiovisual, resultando num vídeo com duração entre 15 e 90 segundos. As criações que surgiriam dessas premissas não poderiam ser vetadas nem mesmo pelos carrancudos seguranças da SuperVia, que emudeciam perante um "Participante" escrito no crachá roxo.

No site do Festival, o www.esteticacentral.com.br, os vídeos produzidos estiveram disponíveis para exibição e votação popular, pela qual foram eleitas as 50 melhores obras. E na tão aguardada noite de sexta-feira, 22 de janeiro, conforme fortemente anunciado no Twitter, o majestoso lançamento aconteceu, com direito a pipoca e guaraná.

Dezenas de puffs espalhavam-se diante do telão, na área entre a estação e as grades da rua. Dois moços fortes distribuíam, em enormes ganchos - daqueles tradicionalmente vistos em ônibus -, uma diversidade de doces como paçoca, jujuba e amendoim, divididos em porções dentro de saquinhos plásticos. Canhões de luz lançavam cores e fumaça. Das enormes caixas de som, saíam o funk, o forró, o axé e outro punhado de sons e misturas. Ao fundo, as caixas de isopor comportavam as bebidas geladinhas tradicionalmente vendidas a R$1: todas de graça. E as balas de tamarindo giravam no baleiro.

Realizadores, trabalhadores que voltavam pra casa, senhores bêbados, cinéfilos, meninos que vendem doces e as populares "figuras" da Central formaram uma só massa de espectadores. A programação estava dividida em 3 blocos, de 25 curtas cada: os mais vistos e votados do site. No meio daquela multidão, era possível ver desconhecidos oferecerem pipoca uns para os outros, transformando o ambiente numa grande sala de uma casa em festa. A apresentação ficou por conta de Diego Bion, coordenador do cineclube Buraco do Getúlio, que acabou por envolver os participantes que lá estavam, levando-os ao palco para breves e bem-humoradas "entrevistas".

Julia Argalji, uma moradora do Leblon, de 17 anos, foi a primeira "vítima". Sentada na primeira fileira, a moça foi logo convocada para falar de seu filme, o "Central Noel". "A gente ficou se perguntando o que fazer. Aí passou um papai noel, uma figura! E resolvemos fazer com ele", explicou Júlia, que foi acompanhada por dois amigos na co-produção. Chamando o segundo bloco, Bion anunciou, mirabolantemente: "Vamos lá pra mais um bloco dos incríveis videos produzidos no maravilhoso mundo da Estética Central". Personagens como o "Paulinho", o Paulo de Almeida, de 49 anos, eram identificados e apontados. O morador de Nilópolis fazia divertidos passos monstruosos em frente à câmera, além de declarar frases cômicas.


Contudo, a projeção passou por problemas técnicos, sendo interrompida antes que todos os vídeos fossem vistos. A confraternização foi mais longe, assim como a apresentação dos realizadores no palco do Festival. Vindo de Nova Iguaçu, Danton Sarmento foi logo entregue por Bion: havia feito pelo menos 3 vídeos durante o período de captação. "Eu vinha todo dia. Arrumei até esposa aqui", confessou Danton, de 26 anos, que produziu o filme "Remando contra a maré". "Gostei muito de ver gente que nunca tinha tido acesso a esse tipo de mídia participando", elogiou.

No palco, houve espaço até para a apresenção de José da Silva, um senhor - não muito sóbrio - que cantava Raul Seixas e explicava algumas teorias próprias. Ao final, os participantes ali presentes foram convidados a receber as premiações: kits do projeto com camisa, bolsa e catálogo. A vencedora, pelo júri popular, tem 17 anos e é moradora de Nova Iguaçu: Ana Lívia de Oliveira conquistou o maior número de votos ao mostrar as relações de tempo e espaço na Central, no filme "Tempo", de 70 segundos. Os cinco primeiros colocados serão premiados com bolsas de estudos na faculdade CCAA e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. A próxima edição do Festival já é mais aguardada do que a próxima estação.






2 Comentários:

Wanderson Duke disse...

Assisti alguns desses curtas - dentre eles "meu amigo xixi", ou seria "pipi"?. Enfim, adoro sua forma de descrever os fatos, acontecimentos e personagnes irreverentes que desfilam pelo local do evento. Parabéns,JOJO rs

Anônimo disse...

oi mqu querido voce teria mais fotos desse evento do dia 22

grata

marcelaoliveira318@gmail.com

Postar um comentário

 
 
 
 
Direitos Reservados © Cultura NI