O paraíso de Levi

quarta-feira, 31 de março de 2010

por Hosana Souza

A máxima do cineasta Glauber Rocha “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão” tem revelado grandes artistas. O jovem de 17 anos Levi Andrade Meirelles é um desses exemplos. “Minha imaginação não tem limites. Meu melhor presente foi uma câmera digital, que não largo nunca”, conta.

Aluno de escola pública, morador de Santa Eugênia e filho de uma professora da rede municipal, Levi sempre se destacou pela criatividade, embora alguns o percebessem apenas pelas dificuldades que carrega. O jovem possui uma doença conhecida como lábio leporino, que tem um tratamento muito caro e dificulta sua fala. “Eu odeio a minha voz”, diz o estudante. “Mas sei que o preconceito é apenas falta de informação sobre a minha doença, sobre a minha pessoa”, explica.


Com 14 anos, Levi comprou briga em casa, pois desejava entrar na Escola Livre de Cinema. “Minha mãe não permitia. Para ela, quem vive de arte é maluco ou drogado, um preconceito bobo. Até hoje, depois de anos, ela não aceita. Na época eu fiz a redação, quase escondido, e enviei”, relembra. Qual não foi a surpresa de receber em 2008, do próprio Marcus Vinicius Faustini, a notícia de que tinha sido aprovado. “Então eu fui. E quando cheguei lá à única coisa que pensava era: ‘O que eu tô fazendo aqui?’. Eram pessoas maravilhosas, que cursavam cinema, que sabiam muita coisa e eu era só um moleque que brigou com a mãe para realizar um sonho”, confessa Levi.

Em um ano de curso, Levi aprendeu sobre produção, roteiro, edição, ajudou na montagem de curtas, além dos tão aguardados exercícios de aula e oficinas. “Era tudo o que eu mais queria, era o meu paraíso. Aproveitei muito, aprendi muito com todos. Até levei minha mãe lá para conhecê-los”, conta.

Depois de toda experiência, Levi resolveu arriscar, começando a escrever uma paródia sobre o filme Harry Potter, O Harry Pobre. “Nós gravamos em 2009. Foi aqui na escola, só com os amigos. Colocamos no You Tube e ficou popular”, relembra. Aproveitando o sucesso, Levi deseja gravar, agora, uma nova paródia, dessa vez sobre o fenômeno juvenil Crepúsculo. “Já comentei com meus amigos, vamos gravar antes das próximas férias. Iremos filmar aqui na escola, mas também na Serra do Vulcão e no centro do Rio de Janeiro”, conta ansioso.

Portas abertas
Infelizmente em 2009 Levi se afastou da Escola Livre de Cinema, devido à morte de seu pai. “Foi muito difícil, eu não conseguiria levar tudo, então dei um tempo. Mas o Faustini me disse que sempre terei uma vaga lá, as portas da ELC estarão sempre abertas”, diz, emocionado.

Entretanto, o tempo afastado das câmeras não o afastou de novas ideias. Voltou, no início de 2010, a gravar mais uma de suas brincadeiras, que acabou se tornando um trailer, que foi inscrito em um festival de cinema promovido por um site de relacionamento. “Fiquei muito surpreso em ser convidado para a premiação e mais ainda em ganhar. Eu não esperava, há muito tempo eu não gravava, pensei que tinha perdido os traquejos”, conta. “Eu quase enfartei quando recebi a premiação como o melhor trailer original. Um dos produtores da Paris Filmes veio conversar comigo, foi muita emoção”, relembra Levi, que hoje torce para ser chamado para algum projeto com o produtor.

Ainda em conflito com a mãe, Levi promete não desistir de seus sonhos. “Minha mãe deseja uma carreira mais sólida, como analista de sistemas. Eu até gosto de mexer com computadores e tal, mas o cinema é minha vida, meu sonho”, diz. Seu próximo projeto é um curta para o Iguacine 2011, desta vez investindo ou na dramaturgia ou no romantismo. “Vou evitar ao máximo colocar violência, sexo ou drogas. Esses elementos em nossos filmes normalmente são exagerados demais. É claro que é a realidade, mas somos mais que isso. Eu quero mostrar a cultura brasileira com as pessoas maravilhosas que são, não as besteiras que elas fazem”.

0 Comentários:

Postar um comentário

 
 
 
 
Direitos Reservados © Cultura NI