Encontro às escuras

quinta-feira, 8 de abril de 2010

por Luz Anna

Joana conheceu Marcos em contato telefônico e por dois meses passaram a conversar periodicamente até que resolveram se encontrar para finalmente se ver pessoalmente. Ela com roupa branca e ele de camisa verde. O encontro seria em uma praça no centro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Joana ligou para sua amiga Isabel. Juntas, as duas ficaram escondidas esperando por Marcos. De longe, as duas viram quando ele chegou ao local de encontro alguns minutos depois. Joana não acreditou no que viu.


Era um menino magro, com espinhas no rosto e um jeito desengonçado de andar. Ela chegou até a duvidar que aquela voz tão bonita fosse a dele. Depois de alguns minutos argumentando com a amiga, resolveram fugir antes mesmo de conhecer o menino.

Isso aconteceu com Joana Leandra Ribeiro em 1982, quando ela tinha apenas 16 anos. Mas como fica hoje, com a internet e os sites de relacionamento? "Fica como uma forma bem tranquila de se conhecer várias pessoas interessantes e até de iniciar um relacionamento", diz Luciana Torquato, de 25 anos. “Muitas pessoas se conhecem assim.”

Emotions
Entre essas “muitas pessoas” estão Michelle Maron, de 18 anos, e Wesley Silva, de 21 anos. Eles se conheceram em uma comunidade do “Orkut”, depois que ela leu seu perfil e resolveu mandar um comentário que não foi nem um pouco discreto: “Oi Wesley, gostei do seu rosto, do jeito do teu perfil”, escreveu ela. “Ele revistou meu perfil e me adicionou”, lembra ela, sorrindo. Depois de pouco tempo veio o “Msn” e as longas conversas, os risos e os “emotions” , e até as brigas.

Michelle diz que quase teve medo de conhecer Wesley. “Eu vivia algo tão bom e tão seguro ali, que cheguei a ter medo de conhecê-lo e ele não ser a mesma coisa.” Essa também foi a realidade para Priscila Queiroz, uma menina de 22 anos que sempre se sentiu feia, baixa e muito gorda, mas que ali, teclando, se sentia a poderosa. Priscila já se encontrou com alguns rapazes que ela conheceu na “net”, e que não era a mesma coisa.

Mas e aí nos vem a dúvida: o relacionamento pela internet é ou não é possível? “É!”, garantem Mariana Santos, de 22 anos e Miguel Belion, de 23 anos, que se conheceram numa sala de bate-papo do site UOL, e se tkram pouco mais de um mês até se encontraram e se apaixonaram. “Eu tinha medo de botar tudo a perder, de decepcionar ele ou me decepcionar com ele”, lembra Mariana, que temia ter sido falsa ou ter passado uma imagem diferente. ”Mas acho que não, porque eu me senti segura na hora e eu o vi e ele também, e parecia mesmo que a gente se conhecia e de verdade e há muito tempo. Ficamos juntos logo de cara e estamos juntos até hoje.” Isso faz dois anos.

Mentiras
Mas e a mentiras não acontecem? “Pode até acontecer, mas acho que faz parte, e no fundo o outro sabe que tem a mentira, mas faz parte do jogo“, afirma Manuela Nascimento, de 24 anos, que diz já ter ser encontrado com alguns rapazes que conheceu em salas de bate-papo, e acha estimulante esse “jogo”, que adora.

Camila Amoedo, de 16 anos, conhece os riscos de uma relação iniciada nas comunidades virtuais, que foi tomada pelo medo quando Antônio, um rapaz “lindo e carinhoso e que se importava” com ela, propôs um encontro real, de carne e osso, para aquela menina que sempre teve dificuldade de namorar. “Procurei uma professora, que não me disse pra me afastar dele nem que ele poderia ser um bandido e tal. Tipo ela me disse dos riscos e que eu deveria observar mais e prestar atenção nas coisas que ele dizia.” Ela ligou o sinal de alerta e percebeu as contradições em que ele incorreu ao falar de uma irmã de sua idade, que no dia seguinte virou irmã e depois se tornou uma “fiquete”. ”Mas eu já gostava tanto dele, e queria que gente se visse. Então minha professora disse para eu dizer pra ele que havia falado com minha mãe e ela queria conhecê-lo. Ai ele sumiu. Eu fiquei triste, mais eu acho que ele não era uma coisa de verdade.”

Seria então a internet, o resgate do romantismo no namoro às escuras? Ou atraso, e um perigo, diante das reais necessidades afetivas das pessoas? O namoro via internet nada mais é que um reflexo do nosso tempo, com pontos positivos e negativos. Há quatro importantes pontos, desse novo tipo de relação: a adaptação, a intenção, o encontro e a verdade.

Adaptação:
Não dá mais para dizer que namoro virtual é uma perda de tempo. Afinal, os tempos mudam e hoje em dia esse tipo de comportamento faz parte do nosso cotidiano.


Intenção:
A intenção inicial das pessoas é geralmente fazer amizades e aqueles que gostam de fazer amizades eventualmente tropeçam em alguém legal. A internet, ou melhor, o namoro virtual não é bom para desesperados.

Encontro:
É natural que depois de contatos e conversas on-line, a pessoa já está gostando da outra e o encontro imperativo. Caso contrário, o romance ficará apenas no virtual e aí podemos pensar num leque de motivações, emocionais ou físicas, para tal.

Verdade:
Já que a presença física não é real, a informação tem que ser real. Do contrário, causa situações embaraçosas e até mesmo perigosas.

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