Herdeiras de Nair Teffé

sexta-feira, 9 de abril de 2010

por Luz Anna


Reza a crônica do Rio de Janeiro que, por volta dos anos 20 do século passado, uma jovem corajosa resolveu desafiar a sociedade da época e passou a frequentar um espaço até então proibido para mulheres: um bar.

Quem era essa mulher, que, numa época em que as mulheres atravessavam a rua e baixavam a cabeça ao passar na frente de um bar, invade o lendário “Bar do Jereminas”, um espaço no centro do Rio de Janeiro frequentado por intelectuais e boêmios da época? Era Nair de Teffé, cartunista e escritora, que, ao se casar com o Marechal Hermes da Fonseca, se tornaria a primeira dama do Brasil.

Mas hoje quem é essa mulher que frequenta as noites nos bares da cidade?

Segundo Nathália Stephanely, uma frequentadora de 30 anos do bar Amarelinho, na Cinelândia, Centro do Rio, frequentar os bares é algo muito comum para mulheres, em grupo, ou mesmo sozinha. Já Viviane Santos, uma historiadora de 28 anos, acha uma conquista poder frequentar o Sinuca da Lapa. “A mulher há bem pouco tempo só podia ir a um bar se estivesse acompanhada ou logo seria vista como alguém disponível.”

Um pouco mais novas que a historiadora, Lorena, de 21 anos, e Michele, de 23 anos, não se sentem nem um pouco constrangidas quando adentram o Arco-íris do Lavradio atrás de companhia. “Saímos bem bonitas, arrumadas e esperamos sempre encontrar boas companhias, que sabem que isso é bem comum na noite”, diz Lorena.

Musa de artistas
A webdesign Lilina Lemos, uma moradora de 24 anos de Santa Teresa, se sente dialogando com a tradição das mulheres boêmias do século passado, como a cantora e compositora Dolores Duran, que confessava rondar os bares da cidade à procura do seu amor. “Como eu não sou artista, quero ser musa de artistas e que lugar melhor para encontrá-los se não num bar?”, confessa Lilina.

Como os homens, as mulheres procuram os bares para chorar suas mágoas. “Para toda mulher carente, sempre tem um homem grosso e injusto, não é?”, diz Márcia Regina Neves, de 48 anos, sentada sozinha num barzinho chamado Toca do Petisco, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Engana-se quem pensa que as mulheres vão aos bares atrás de uma boa cerveja ou um bom papo. As mesas de sinuca, até recenetemente o mais machista dos redutos, têm atraído cada vez mais as espécies do sexo feminino. Ainda que os homens ainda sejam a maioria, dizem as pesquisas que nos bares especializados elas são mais de 40%. “Sempre preferia a amizade dos meninos e por isso comecei a frequentar os salões de sinuca”, lembra Rita Guedes, uma professora de educação física de 27 anos, que conheceu o namorado em um desses botequins. Rita Guedes jamais perdeu uma partida de sinuca para o namorado.

1 Comentários:

Josy Antunes disse...

E é importante também reparar na adequação desses bares, com o passar do tempo, pra receber o público feminino...
Ótimo texto!

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