Nova Iguaçu na teia

terça-feira, 6 de abril de 2010

por Josy Antunes / Fotos do arquivo de Egeu Laus

Um slogan anunciava: “A diversidade cultural brasileira se encontra em todos os pontos”. E todos eles se encontraram em Fortaleza, Ceará, no Centro Cultural Dragão do Mar, para a 4ª edição do Teia Brasil, que uniu mais de 2 mil representantes dos pontos de cultura de todo o país. Durante a realização do evento – entre os dias 25 e 31 de março – foi possível acompanhar em tempo real todos os acontecimentos do Teia, graças aos participantes adeptos ao Twitter e à excelente estrutura tecnológica local. “A rede sem fio era perfeita. Tinha wi-fi direto. Você podia twittar de qualquer lugar sem problemas e sem gastar”, conta Egeu Laus, secretário Adjunto de Cultura de Nova Iguaçu, que manteve informados seus 218 seguidores.

Poucos dias antes da viagem para o encontro, Egeu organizou uma reunião entre as pessoas que iriam representar a cidade, para que fosse criado um grupo no Gmail, onde eles pudessem manter a comunicação durante o Teia. No grupo, que foi transformado num fórum de discussões e informações, ficava disponível toda a grade de programação e os contatos dos participantes iguaçuanos. “Hoje eu coloco a questão da tecnologia como um trem em alta velocidade: ou você está dentro do trem, ou você está na beira com a mão levantada aguardando a migalha que as pessoas estão jogando”, compara o articulador, atribuindo a isto a ausência de alguns Pontinhos de NI no Teia, já que a divulgação foi feita basicamente via internet. “Eu acho que é vital para os pontinhos estarem preparados pra isso. Você tem que estar nesse trem”, assegura. “Você pode não gostar, mas tem que ter alguém que goste pra fazer isso pra você. Se não tiver, você dança”

Cerca de 10 de nossos Pontinhos estiveram representados no encontro nacional, exibindo orgulhosamente uma faixa simbolizando Nova Iguaçu, onde existem 49 Pontinhos, gerenciados por 28 entidades. “Só não houve uma presença maior, porque não houve articulação maior pra isso. Mas era possível que todas fossem”, lamenta o Secretário Adjunto. Ainda assim, quantitativamente, NI só “perdia” para a cidade do Rio de Janeiro, que já possuia 72 pontos de cultura e passou a ter mais 150 com o mais recente edital.

“Não tem nenhum município no Brasil que tenha a quantidade de projetos que Nova Iguaçu tem”, declara Egeu, pontuando a diferença entre “Pontos” e “Pontinhos” de cultura – nomenclaturas que ainda podem causar dúvidas em suas definições: “Os Pontos de Cultura são um determinado tipo de convênio e os Pontinhos de Cultura de Nova Iguaçu são um convênio à parte, feitos diretamente com o Ministério da Cultura. Mas na verdade, no perfil, eles são Pontos de Cultura também, como todos os outros”. A diferença de “convênios”, trata-se da inclusão dos Pontinhos de NI no programa Bairro-Escola. Logo, o foco específico desses projetos estão nos alunos das escolas municipais, enquanto os Pontos são mais abrangentes. “Essa forma de convênio só existe em Nova Iguaçu”, garante , Egeu Laus, que também é designer e gestor cultural. No município, porém, também encontram-se os chamados Pontos de Cultura. São os do CISANE e da Casa de Anyê.

Registros no blog
Durante um dos poucos momentos livres da agitada convivência na Prefeitura de Nova Iguaçu – a hora do almoço –, Egeu concedeu seu relato sobre sua participação no Teia, vestindo uma das camisas que projetou especialmente para usar na ocasião. “Eu fiz uma pra cada dia da semana, só mudei a cor da camisa”, explica. Uma mochila, contendo um gravador, um tripé, uma câmera fotográfica e outra de vídeo, era sua companheira inseparável. Com o equipamento, foram colhidos inúmeros registros que em breve serão publicados em pontinhosdecultura.blogspot.com, entre eles, entrevistas com quase todos os representantes de Nova Iguaçu.

Numa descrição minuciosa sobre o espaço que abrigou o encontro, Egeu transportou o relato para o Dragão do Mar, mostrando o valor dos registros visuais também na memória: “O Dragão do Mar é um grande centro cultural em Fortaleza, muito bonito. Ele tem duas alturas. A parte de cima, onde passa a estrada, um pequeno morrinho e a parte de baixo, onde fica a parte velha da cidade. O Centro Cultural integrou esses dois espaços através de uma passarela de ferro. Tem um centro cultural, propriamente dito, que tem sala de exposição, auditório, teatro e todo o tipo de coisas. E a área de baixo, onde ficam os restaurantes recuperados da cidade antiga”, detalha ele, comparando esse espaço à área que circunda o CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

O encontro realizado no majestoso local trouxe dois principais saldos positivos, segundo Egeu: Em primeiro lugar, o entendimento de que os Pontinhos de Nova Iguaçu não realizam um trabalho solitário e a possibilidade de contato e aprendizagem com os outros grupos. E, em segundo lugar – somente em ordem de citação – a oportunidade de trocas entre os próprios Pontinhos. “Eles se conheceram um pouco mais. Pelo fato de ficarem 5 dias no mesmo local, houve uma aproximação que é uma coisa que eu acho que falta aqui. Os projetos são muito isolados, então isso foi um ganho”, garante o secretário adjunto.

Além da realização dos fóruns reginais, que inseriram Nova Iguaçu nas perspectivas no estado e da Baixada Fluminense, havia os grupos temáticos. Eles dividiam todos os representantes de Pontos de Cultura do país em 25 grupos de debates, intitulados: LGBT, Gênero, Matriz Africana, Cultura de Paz, Juventude, Rede dos Estudantes, Legislação, Sustentabilidade, Pontões e Redes, Patrimônio Material, Audiovisual, Rádio Comunitária, Hip Hop, Economia Solidária, Artes Cênicas, Criança e Adolescentes, Literatura, Música, Ribeirinhos, Patrimônio Imaterial (Culturas Tradicionais e Indígenas), Rede da Terra, Ação Griô, Escola Viva, Cultura Digital e Amazônico. “Você participava de articulações maiores. Era um espaço de articulação”, garante Egeu, alertando para a atenção que deve ser despendida em ocasiões como a citada. Os participantes tinham a liberdade de pensar projetos que agregassem diversas partes do Brasil, independentemente de articulações políticas.

Leis efetivas
Um dos objetivos do Teia 2010 era a transformação de decisões em leis efetivas. Entre elas, estava a garantia por lei dos Pontos de Cultura. “Ou seja, qualquer governo que venha de qualquer outro partido no futuro tem que preservar a existência dos Pontos”, explica o gestor, que só tem uma crítica ao encontro: “As atividades artísticas eram no início do Teia e a discussão era no final. Isso é mortal”, brinca ele. “Você não pode se divertir primeiro e depois trabalhar. Os fóruns de discussão eram nos três últimos dias, quando você já estava morto por tudo que tinha feito na semana toda”. As atividades artísticas citadas por Egeu incluíam espetáculos apresentados pelos próprios Pontos, que haviam feito inscrição prévia para inclusão na programação. “Tinha tudo que você possa imaginar: circo, teatro, musica, tudo...”, relata.

Voltando ao campo da memória, Egeu descreve com encantamento os momentos que só poderiam ser vistos no encontro em Fortaleza: “A cena bonita é ver gente do Brasil inteiro... Ver um índio passando, uma velhinha fiandeira de Goiás, essa diversidade de gente”. Ilustrando essa diversidade, o designer comenta sobre o índio que portava uma Flip Cam, registrando o Teia 2010 com uma câmera ainda nem disponível no Brasil. Munida de tecnologia high tech, que permite a edição e envio de vídeos no próprio monitor, a câmera ainda possui acesso à internet e uma ligação direta com o site You Tube. “Então você vê que o tempo é outro. Gente que estaria num estágio primitivo com ampla tecnologia na mão”, admira-se Egeu. “No encontro não havia barreiras. Você via o Célio Turino, que era o grande secretário mentor dos estudos, conversando com todo mundo”, relembra ele, que tem registrada em seu gravador uma entrevista com Turino, feita por um rapaz cego, cujo Ponto de Cultura consiste em trabalho com rádio.

A diversidade e os encontros pessoais que se tornavam acessíveis como em nenhuma outra ocasião foram os elementos fundamentais na concepção de Egeu, que conta sobre um dos momentos finais da grande teia armada. “O Edilso, do CISANE, protagonizou o ponto alto da Teia 2010. Ele fez aniversário e fez um lual em frente ao hotel. Fechou um bar pra gente e comprou 10 caixas de cerveja. Todo mundo foi pra lá”. E o popular “todo mundo”, desta vez inclui pessoas de todo o Brasil.

Ainda que tenha ocorrido uma finalização em grande estilo, o Teia manterá sua vida pelas mãos de cada Ponto de Cultura. Serão realizadas as chamadas “Micro Teias”, pequenos encontros dentro dos estados, divididos por regiões, onde Nova Iguaçu se incluirá novamente nas discussões da Baixada Fluminense.

“Uma coisa que a gente não faz aqui, mas que as pessoas sentiram necessidade, é quando você executa alguma coisa, precisa fazer uma avaliação do que fez. Porque senão você comete os mesmo erros da próxima vez”, ressalva Egeu. Buscando atender essa precariedade, Gledson Vinícius, um dos coordenadores da Ong Laboratório Cultural, está convocando todos os Pontos que participaram para uma avaliação do sobre o Teia 2010 e articulações para novos projetos. “Eu acho que muita coisa precisa ser feita ainda. Isso foi só o começo. Mas só o fato de eles se sentirem fazendo parte de uma coisa maior, já dá uma outra aproximação”, finaliza Egeu Laus.


2 Comentários:

Hosana Souza disse...

Eu quero ser como a Josy quando eu crescer.

Foi maravilho participar da TEIA 2010.Ver a cultura refletida em tudo e em todos.Participar de tanta cultura só agregou valores as diversidades eram muitas. Parabéns! Egeu, definiu muito bem tudo que aconteceu. CISIN-Arlene de Katende

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