Samba do crioulo doido

quarta-feira, 21 de abril de 2010

por Lívia Pereira

Crítica Loucura suburbana

Em curtas-metragens de todo o Brasil, no dia 18 de abril de 2010, foi exibido o curta Loucura Suburbana. O documentário dirigido por Felipe Figueiroa retrata um projeto de integração da loucura à sociedade realizado pelo Instituto Nise da Silveira, localizado no Engenho de Dentro, RJ.

Inicialmente a imagem de um bloco de carnaval repleto de loucos saídos de um hospício causa um estranhamento muito grande.

Segundo o diretor do instituto, “a loucura estabelece uma relação de amor e ódio, aversão e fascínio”. É impactante ver fantasiados, alegres e, por que não, “de pé”, pessoas que, segundo a sociedade, são meros indigentes.

A psicóloga Ariadne Moura explica que os internos do instituto não têm grandes possibilidades de comunicação, muitas vezes, revelando até mesmo um comportamento catatônico. “Ao som da música eles se levantam”, ela conta.

Através do samba, os “loucos” se permitem a uma linguagem acima da linguagem verbal convencional: a arte, como deixa claro o documentário. Estabelecem assim uma comunicação.

Segundo a terapeuta musical Raquel Serqueira, o samba proporciona movimento, já que, assim como o coração, tem compasso binário.

Conta o diretor do Instituto, Edmar de Souza, que o bloco enfrentou muito preconceito no início do projeto e que um dos comentários que marcou foi “soltaram os loucos!”, mas que hoje, após oito anos de desfiles, já se ouvem outros tipos de comentários pelas ruas, como “a bateria está melhor esse ano!”.

Um projeto que visa a aceitação através da neutralização momentânea da fronteira entre a sanidade e a loucura vê hoje resultados que se instauram gradativamente entre os moradores do Engenho de Dentro.

Ao longo do documentário foi notável também o assentamento do estranhamento inicial por parte da platéia. E no fim das contas, vale lembrar que de loucos, todos temos um pouco.

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