Palácio de Cristal

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

por Vinícius Tomás

Durante a reunião com a LIQUAJUNI, eu perguntei para alguns quadrilheiros em qual grupo eles apostariam para vencer o campeonato de quadrilhas desse ano. Um deles, que pediu para não ter seu nome revelado, foi categórico: “Esse ano tem muitas quadrilhas boas, como a 100nome e a Xodozinho, mas quem vem forte mesmo é a Renovação Junina”. E eles iam dançar na festa do Arraial Chega Mais em Cabuçu, que, segundo o Presidente da LIQUAJUNI João Gomes, é “a arraial mais bonito do Rio de Janeiro”. Não pude resistir a uma equação que misturava quadrilha favorita com o arraial mais bonito.

Em Cabuçu antes de chegar na festa já se via a movimentação das pessoas e as luzes do Arraial. Quando cheguei, fui conversar com Antônio Magalhães o Presidente e fundador do Chega Mais, nascido em Portugal e morador de Cabuçu há 40 anos. E ele me contou a historia da festa. “Começou há 35 anos sempre aqui em Cabuçu. Houve uma pausa de 12 anos e nós resolvemos voltar no ano passado. A festa começou mesmo em um dia que eu fui brincar aqui no bairro, no quintal da minha casa. Botaram-me um chapéu de palha e um paletó e eu dancei até de tamanco. Então juntamos várias pessoas para fazer a festa.“

Seu Antônio me mostrou o Arraial do Chega Mais, que ele chama de “Palácio de Cristal” A ausência de postes no terreno onde foi montado e no entorno torna as várias lâmpadas penduradas entre bandeirinhas e balões as únicas a iluminarem o arraial, dando um efeito especial. “As luzes refletem nas bandeirinhas de plástico e elas brilham, parece realmente um cristal”, diz Antônio Magalhães. Uma solução simples, mas que impressiona.

A quadrilha Acredite se Quiser chegou com fantasias luxuosas, com muito brilho, realçado pelas luzes do arraial. Distante da imagem tradicional de festas juninas e mais próximo de fantasias de desfiles de carnaval, o grupo é mais um de Nova Iguaçu que tem história e tradição, como conta Pedro Paulo Monteiro, o Presidente do Acredite se Quiser. “O grupo existe há 28 anos, foi fundado pela minha família", diz ele que, no próximo ano passará o cetro para a filha Paula, que será a terceira geração da família a comandar a Acredite se Quiser.

O parentesco se via na relação entre os 40 integrantes, muitos dos quais pais mães e filhos. “Só não temos avós dançando, esses estão do lado de fora assistindo, mas já dançaram também”, garante Pedro Paulo. Essa face familiar das quadrilhas juninas está presente também no público que comparece. “Eu já dancei aqui, minha filha também dançou aqui, meus netos estão por aí brincando pela festa", afirma Almerinda de Souza, moradora da mesma rua de Cabuçu há 65 anos.

O grupo deu um show no arraial com um tema que fala sobre os povos do Brasil. Os 40 integrantes compuseram um retrato da miscegenação que formou o povo brasileiro. O grupo, que chegou com fantasias luxuosas, já preparava para começar de novo tão logo acabou a apresentação. “Daqui, nós vamos para outra festa em Cabuçu e depois vamos para Padre Miguel, dançar na quadra da Mocidade Independente. Primeiro viemos cumprir o nosso compromisso com a LIQUAJUNI”, diz Pedro Paulo.

Na concentração, já se via que a Renovação Junina vinha com uma proposta diferente. O grupo de Comendador Soares trouxe para o arraial sua “Fantástica Fábrica de Brinquedos” Integrantes maquiados com esmero, meninas vestidas de boneca de pano, marionetes, mágicos, tudo remetia ao mundo infantil. “É como se fosse um conto de literaura infantil“, diz o presidente da quadrilha, Wagner Vinicius Leite. As fantasias do grupo são coloridas e feitas com um cuidado que só faz confirmar o trabalho que vem fazendo desde janeiro.

A apresentação começou com as “bonecas de pano” dentro de caixas, de onde seus pares as tiravam para dançar. Foi uma introdução para a grande festa que veio a seguir. O grupo cantava junto nas músicas e nos gritos de guerra e a dança tinha elementos cenográficos e efeitos especiais.

Na hora da apresentação da Renovação Junina, o arraial estava cheio. Gente de todas as idades passava por lá, comendo e bebendo nas barraquinhas ou se procurando um lugar privilegiado para ver a quadrilha. "É a melhor festa daqui. É só você ver o volume de gente que vem. Hoje está relativamente fraco, nas noites passadas veio bem mais gente . Por que o sucesso? Porque a nossa festa passa credibilidade e organização, o povo confia que aqui tem paz, o povo confia e vem, não temos problemas ou brigas de qualquer tipo, garante Seu Antônio. E foi acompanhado por Dona Almerinda. ”Já conheço essa festa há muitos anos, sempre foi boa, não dá briga, não dá confusão. É só alegria pro bairro”.

Ao final, já perto da meia-noite, foi a hora da Quadrilha da Comunidade que ganhou um exclusivo efeito especial. As luzes do arraial foram reduzidas e a organização acendeu tochas altas espalhados e a Chega Mais executou a tradicional quadrilha junina com direito a um casamento cheio de bom humor encerrando a festa iluminada pela luz do fogo.

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