Silêncio do universo

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

por Larissa Leotério

Na última quarta-feira (28), o ciclo “A Teatralidade do Humano II” teve a presença do cientista social português Boaventura de Sousa Santos. Além da palestra “Fim do que não tem fim – Capitalismo e Colonialismo”, foi lançado o livro “Rap Global”, e leitura musicada.

Boaventura de Sousa Santos é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É ainda diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, do Centro de Documentação 25 de Abril da mesma Universidade e coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa.


A palestra, de nome já sugestivo, discorre sobre o pensamento moderno ocidental, dividido por linhas cartográficas “abissais”, as mesmas que demarcavam Velho e Novo mundo na era colonial. As linhas continuam a existir no pensamento moderno, mantendo as relações políticas e culturais excludentes. O autor defende ainda que somente organizações e movimentos sociais podem mudar a linha abissal.

Em “Rap Global”, Boaventura assume a personalidade de um rapper português de nome Queni, que faz música da sua frustração e indignação com a situação mundial. Durante maior parte do tempo, Boaventura de Sousa Santos se compara a Queni, fazendo dele um tipo de alter-ego: “Enquanto eu tenho que estudar para dizer o que penso, Queni vive”, analisa. Essa vivência, segundo o autor, traz um conhecimento fora do teórico. Enquanto os ditos ‘teóricos da retaguarda’ rebatem as perguntas fortes de nosso tempo com respostas fracas.

“Compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo”, afirma Boaventura. E explica que nada tem a ver com radicalismo: isso é possível enxergar pelos olhos de Queni. Porque existe alguma coisa ao invés de nada. “O personagem aprendeu com Saramago que Deus é o silêncio do universo”, satiriza o autor.

O rapper anda numa luta quase perdida contra o tédio. O novo repetido tantas vezes fica entediante. E a monotonia alimenta o novo. Boaventura finaliza explicando o “Fim do que não tem fim”: "É tão difícil imaginar o fim do capitalismo quanto imaginar que não tenha fim."

Como não poderia ser diferente, a leitura musicada do livro acontece na levada do rap. E ganha vida na voz de Rafael Soares, o nosso Nike, e da psicóloga e MC Numa Ciro, musicado pelos dois e também por César Lacerda, DJ Machintal e Combatente. A letra do rap é uma síntese do "Rap Global" e foi musicada pelos rappers Dudu de Morro Agudo e Combatentte, e tem duração de, aproximadamente, 15 minutos. Houve também uma intervenção audiovisual do escritor e cineasta Marcus Vinícius Faustini, com auxílio do VJ Paulo China.

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