Um blog para sensibilizar

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

por Lucas Lima

Registrar, tornar pública a memória e reconhecer a profissão de crecheira. Esses são os objetivos principais de um grupo de mulheres do municipio de Nova Iguaçu, que trabalham em diferentes creches da cidade há pelo menos 20 anos. O primeiro passo nessa direção foi a reunião que promoveram na manhã da quinta-feira 19 de agosto, na Prefeitura Municipal. Essas histórias e lembranças serão narradas e publicadas em um blog sob a responsabilidade dos jovens repórteres da SEMCTUR.

Como o próprio movimento das crecheiras, a ideia de reuni-las surgiu de Deia da Cruz Moreira. "Contando as nossas experiências, nossas conquistas e nossos sofrimentos, podemos sensibilizar muito mais gente", contou essa senhora de 62 anos, que na virada da década de 1980 para 1990 tocou o maior terror na cidade para fazer com que as autoridades assumissem as creches criadas pelo movimento de moradores em seus respectivos bairros. A última façanha de Dona Deia, que deixou de ser crecheira por questões econômicas, procurou a prefeita Sheila Gama, que conhece desde a época em que ela era secretária de Promoção Social do seu marido, para apresentar a proposta. "Ela me recebeu com muito carinho e pediu para que procurasse o secretário de Cultura".

Uma das histórias que Dona Deia pretende registrar para as próximas gerações é a manhã em que duas crianças esfomeadas bateram em sua porta logo depois de voltar da lua-de-mel em Mangaratiba. "Coloquei as duas pra dentro, dei banho e comida", lembra ela. Na hora do almoço, as duas crianças voltaram acompanhadas de uma coleguinha e na janta já havia seis delas instaladas na sua copa. O marido só percebeu que a casa estava sendo frequentada diariamente por 30 crianças quando a comida comprada para um mês inteiro terminou na primeira semana. "Meu marido começou a reclamar, pois a comida do mês acabava em menos de uma semana".


Ela procurou um amigo político, que na ocasião estava com ótimas relações com governo Brizola. "Pedi comida a ele", lembra Dona Deia, que recorreu a esse mesmo político quando, exatamente por ter conseguido muita comida, atraiu ainda mais crianças para a sala de sua casa. Seu amigo a autorizou a usar uma creche construída pela Prefeitura, que no entanto nunca tinha sido usada porque fora abandonada ainda no tijolo. "Os próprios moradores então tomaram o espaço, pintaram, terminaram as obras, e trouxeram de tudo: desde fogão e talheres até o próprio feijão".

Rita de Cássia lembra que, na Tia Patrícia, as crecheiras não se preocupavam apenas com as crianças que tomavam conta. "Tivemos que instruir os pais também, que eram totalmente sem experiência. Mesmo sem instrução, nós éramos médicas, enfermeiras, psicólogas e professoras, e isso tudo sem instrução", conta Rita.

A demanda da comunidade obrigou-as a voltar para a escola e muitas delas concluíram os estudos superiores. "Voltei a estudar, fiz formação de professores, ensino superior em Pedagogia e estou atualmente na pós-graduação para poder me tornar professora", conta a mesma Rita de Cássia.

A partir de agora, as crecheiras vão se reunir semanalmente para registrar a memória de uma história emocionante, informativa e divertida.

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