Combustível do suingue

sábado, 11 de setembro de 2010

por Vinícius Tomás


O som do chocalho anunciava o começo do espetáculo ‘Gás Como Combustível de Luta’ do BAC, Balé Afro Contemporâneo, a companhia de dança da Casa da Cultura da Baixada Fluminense. O grupo, formado pelos bailarinos Fagner Santos, Vania Massari, Veronice Line e Jamile Bento, inicia a exibição com os corpos dos quatro bailarinos estirados no palco. Um a um eles levantam e iniciam a interação com os sons. A um grito de um bailarino, começa a forte coreografia sincronizada.

A apresentação é um “mix” de espectáculos anteriores do grupo, sempre com uma temática social. Através dele não vemos apenas o trabalho que o BAC desenvolveu, mas também os temas abordados pelo trabalho da Casa de Cultura, que escolhe um tema e é acompanhada pela Cia de dança.



A exibição, que alterna dança e poesia, começou contando a história da chegada dos escravos para o Brasil, com o poema “Navio Negreiro” de Castro Alves. São tocantes as palavras que remetem aos navios negreiros, à violência sofrida pelos negro e ao banzo, a saudade que os negros sentiam da África. O som dos atabaques dava o tom para a evolução dos bailarinos, todos banhados pela iluminação comandada por Stênio Otávio, que usou a excelente estrutura de luz e som do Teatro do SESC com maestria. Os figurinos dos bailarinos era composto de shorts e camisetas pretas, com apliques plásticos parecidos com papel nacarado e joelheiras, úteis quando se passa parte da apresentação agachado no chão.

Não é um balé suave: é robusto, vigoroso, a palavra aqui é força, mas sempre com um objetivo. ”A dança afro é marcante, cada movimento tem um significado", diz Fagner. A dança tem a força, a energia dos nossos ancestrais, do sofrimento deles. A diferença dele em relação a outras danças é a força. E eu considero uma forma de protesto e reafirmação da identidade negra."

Na segnda parte, o tema abordado foi a violência contra a mulher, com solos de dança dos bailarinos e poesia-denúncia em que perguntam “até quando a mulher vai sofrer com a violência?”. Em contraponto a Castro Alves, “Haiti”, de Gilberto Gil. E de Gil para a Farofa Carioca, com ”Moro no Brasil”. O papel e os direitos dos jovens na sociedade foi embalado pelos atabaques, sinos e chocalhos das percussionistas Tauna Faria e Drika Rodrigues, esta também diretora da companhia, e na intervenção poética com a letra de “Comida”, dos Titãs.

Na suíte seguinte, o grupo pergunta: “O que falta ao homem?” Saem as percussionistas e as caixas de som entram em ação com música mais suingada, assim como a performance dos bailarinos. A apresentação termina ao som do Hino Nacional Brasileiro, em em uma curiosa, e deliciosa, versão afro. Nos agradecimentos, Drika faz um desabafo: ”Dizem que artista é vagabundo, leva vida fácil. Mas o Fagner dançou com um problema sério de furúnculo no joelho e a Vânia veio para cá mesmo tendo crises no ciático.”

Uma bela apresentação, mas prejudicada pela falta de foco, que torna tudo confuso. A escolha de apenas um tema seria mais apropriada, mas ainda assim é válido por ser um resumo do trabalho que o Balé Afro Contemporâneo vem fazendo. Os dancarinos, mesmo com os problemas citados por Drika, foram excelentes, é visivel que eles estão bem ensaiados. "Mais de 50 jovens já passaram por aqui", diz Drika, que está na companhia desde seu início, há 9 anos, e na Casa de cultura há 15.

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