Parte I – Desde o início

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

por Jéssica de Oliveira

Toda história tem início meio e fim. E esta, que será contada a partir de agora, teve seu começo em 1962, na favela Nova Holanda, Rio de Janeiro.

Ainda pequeno, Edilso Gomes Maceió, filho de mãe pernambucana e pai alagoano, dava seus primeiros passos na vida da arte, indo na contramão da Nova Holanda, favela do Complexo da Maré em que nasceu. “Nova Holanda era um lugar muito perigoso, a criminalidade tomava conta do lugar. E pra mim, nascer numa favela onde as famílias tinham oito filhos, procurar saber de que forma eu poderia alegrar e contribuir para melhoria da vida daquelas pessoas, impedindo que as crianças entrassem para a vida da crime, foi natural”, conta.


Em entrevista ao Cultura NI, Edilso conta um pouco sobre a longa trajetória que o levou a ser Diretor Executivo de uma das mais influentes ONGs da Baixada Fluminense, o CISANE – Centro de Integração Social Amigos de Nova Era.

Aos oito anos, já carregava em si um espírito de inovação. Uma pequena prova disso foi sua ideia de fazer sessões de cinema na porta de casa, o que para um menino de origem pobre parecia ser impossível. “Na volta da escola, eu passava perto de um brejo catando com uma lata de óleo vazia peixinhos de vala. Quando eu chegava em casa, colocava os peixinhos dentro de uma lâmpada queimada e a aproximava de outra acesa, projetando os movimentos do bichinho na parede”.

A brincadeira boba de criança era motivo de muita agitação na comunidade. Logo, aprendeu outra técnica: a de fazer cinema a partir de desenhos. “Eu pedia pra que as crianças fizessem desenhos em papéis de pão e depois eu os colava um no outro pra passá-los num caixote que a gente pegava da feira e movimentava as figuras enroladas com uma manivela”, relembra sorrindo, assim como o fez enquanto contava as vezes que catava sucata para fazer brinquedos e distribuir às outras crianças no Natal.

As lembranças e fortes emoções tomaram conta do bate-papo que continuou: “Lembro que eu brincava com uma menina chamada Cecília, filha de um cara que a gente dizia ser ‘O Lampião da Nova Holanda’. O sujeito andava com um chapéu de cangaceiro e uma peixeira pra cima e pra baixo e era muito bravo! Não deixava a gente jogar bola porque ele a rasgava com o facão. Pra ele, tinha que brincar de teatro ou cinema”. Parece que foi daí que Edilso começou a ter essa “mania” de ser artista e “inventar ideia”.

O tempo foi passando e Edilso foi crescendo. O menino que fazia bagunça na porta de casa foi deixado pra trás, dando espaço ao rapaz que aos 15 anos andava de Bonsucesso a Irajá para comprar laranjas que revenderia na rua e com o dinheiro das vendas, comprava mantimentos para sua casa. Entretando, assim como é típico da fase adolescente, houve um momento em que Edilso se revoltou: “Eu tenho um irmão mais velho que na época trabalhava e gastava todo dinheiro com roupa, sinuca e festa, sem ajudar a nossa mãe. E eu não gostava de ver aquilo, porque ela, mesmo sem falar nada, ficava incomodada. Eu fiquei revoltado, mas para não arrumar briga, resolvi fugir de casa”. A decisão veio aos 17 anos de idade. “Mas ir para onde?”, pensou. A resposta que surgiu foi surpreendente: para o alojamento de estudantes da UFRJ.

Enquanto estudou na Escola Nova Holanda, Edilso conheceu Wali Rocha, estudante da Escola de Belas Artes da universidade do Fundão. Foi aí que se deu sua grande parceria artística e uma grande amizade, pois foi Wali quem cedeu espaço em seu dormitório para Edilso morar. “Eu vivia como um estudante. Quando não estava trabalhando, eu almoçava no bandejão e até assistia as aulas”.

Foi nesse período que Edilso começou a se envolver ainda mais com as artes e com a questão social. Com o amigo, escreveu peças, organizou eventos e se inseriu cada vez mais em projetos sociais - um deles, o Maré Limpa, que era desenvolvido nos CIEPs das comunidades da área da Maré.

Tempos depois, após a Chacina de Vigário Geral em 1993, Edilso foi convidado para fazer uma intervenção artística pela Casa da Paz, instituição criada a fim de promover a inserção social, educacional e cultural de crianças e jovens de Vigário. Daí em diante, o jovem passou a ser membro permanente da instituição, até que a mesma foi fechada, devido a alguns problemas jurídicos. “Eu me lembro que eu estava saindo quando o José Junior, fundador do Afro Reggae, me parou na rua e disse: ‘irmão, não vai embora, não. Fica aí com a gente’. E eu fiquei. A partir dali, eu comecei a fazer parte da história do Afro-Reggae”, conta, chegando a mais um capítulo de sua história.

0 Comentários:

Postar um comentário

 
 
 
 
Direitos Reservados © Cultura NI