Uma peça pra chorar

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

por Yasmin Thayná e Amanda Duque


    Leandro Santana interpreta Antenor. Retirada do álbum de fotografias do Centro Cultural Queimados Encena

Nesta sexta feira, o Baixada Encena exibiu ao público do Sylvio Monteiro pontualmente às 20 horas a peça "Qual a idade é a melhor idade," da Companhia Teatral Queimados Encena. A companhia é um dos braços do Centro Cultural Queimados Encena, criado pelo ator Leandro Santana.




Dirigido e escrito pela atriz, de 33 anos formada pela UNIRIO, Andreia Morais, o espetáculo vai do cênico ao audiovisual. Inicia-se com um sonho lindo de lembranças e juventude. O desenrolar desestimulado e ímpar que o ator Leandro Santana, que interpreta Antenor, transmite ao público, resulta em uma mistura peculiar entre a sua esposa Alice e sua neta Isabel, que a todo momento tenta mudar o pessimismo e o conformismo de Antenor em relação a sua idade.

É absolutamente comum ver divergências entre pessoas de idade já avançada. A cadeira de balanço, a bengala pendurada e a televisão conseguem controlar todo o pensamento de "fim próximo" às pessoas que atingem o auge da experiência humana. "Sempre fui muito ligada a essa questão de idosos. Não tenho mais meus avós, mas antes eu curtia muito. A Isabel tem um pouco de mim, com toda esse seu jeito de se importar com os avós. Escrevi essa peça pensando no Circuito Sesc, mas terminamos não entrando e hoje resolvi apresentar por aí," disse a simpática diretora.

Isabel, neta do casal Alice e Antenor, resolve virar uma "fada da juventude" que vai rejuvenescer o pensamento arcaico de seu avô. Antenor cogita a possibilidade da loucura. Pensa em mil coisas e faz um pedido à fada: a sua juventude.

Após o retorno à juventude, Alice - esposa de Antenor, já de idade avançada, porém disposta a curtir a idade - se prepara para caminhar e se surpreende com a disposição de seu companheiro em querer acompanhá-la. Combinados, resolvem ir ao cinema pós atividade física.

A maior emoção e capricho que a equipe de produção aplicaram sobre o texto de Andréia Morais acontecem no momento em que os atores deixam o palco e vão ser públicos-atores do público, que se desmancha por trás dos lenços descartáveis.

Passam-se, nesse momento, fotografias do amor entre idosos que conseguiram conquistar todas as bodas durante a vida. E a voz de Maria Bethânia, que introduz e firma a percepção do público, emocionando-o quando diz que anda devagar agora porque já teve pressa e leva o sorriso porque já chorou demais, garante e explica as lágrimas derramadas. "É muito difícil tocar a emoção de um adolescente com esses temas. São poucos ligados a esse assunto tão bonito e ao mesmo tempo tão esquecido pela sociedade. Escolhi falar disso por conta da margem que o assunto se firma e a minha paixão por essas pessoas," contou Andréia.

O desfecho e a generosidade com o público, que já estava com todos os lenços gastos, se deram por conta de uma volta à realidade, onde a neta Isabel mostra que Antenor era jovem o todo o tempo. E mesmo com toda a crueldade da mídia, do meio e do tempo em causar essa falta de estímulo dentro do jovem há mais tempo, Isabel desempenhou um papel tão humano naquele momento de vida dos seus avós quanto a mensagem e a alegria que o público teve ao entrar na história compartilhando a dança onde Alice usava o vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar. Depois os dois - Alice e Antenor - deram-se os bracos como há muito tempo não se usava dar. Cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abracar. E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou. E foi tanta felicidade que toda cidade enfim se iluminou. Foram tantos beijos loucos,tantos gritos roucos como não se ouvia mais que o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz.

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