Carona pública

sábado, 18 de dezembro de 2010

por Josy Antunes

Diego Jovanholi e Rodrigo Caetano - Foto por Bruno Baketa
De carona com os organizadores do evento Cinerock – um festival de cinema e rock que ruma para a terceira edição – conversei sobre as ideias que iniciaram o projeto e as motivações que perpassam as duas edições realizadas no Centro Cultural Donana, em Belford Roxo.

Diego Jovanholi, Rodrigo Caetano, e Vagner Vieira, todos moradores da Baixada Fluminense, são integrantes da Pública Alternativa, identificada pela enigmatica logomarca em forma de coroa, vista nas divulgações do Cinerock. Em comum, os rapazes possuem o desejo de fazer alguma coisa positiva pelo local onde moram, a paciência de quem espera por resultados gradativos e, é claro, a música.

O que é o Pública Alternativa?
Diego Jovanholi: É um coletivo produtor de audiovisual, design, eventos de música e cinema.

O Cinerock é um produto do Pública?
Rodrigo Caetano: É um produto que junta tudo o que a gente faz no Pública: A música, o vídeo e etc.
Diego Jovanholi: É uma história meio comprida... O Cinerock é "filho do Pública".

Qual é a história comprida?
Diego jovanholi: Numa bela manhã, eu e meus amigos estávamos conversando que em Belford Roxo não tinha nada, então a gente decidiu fazer um coletivo pra tentar mudar essa situação. Criamos o Cinerock. Foi a primeira “cria” que acabou virando uma marca independente.
O Pública ficou um pouco esquecido, mas quando a gente começou a lidar com audiovisual decidimos voltar.

Qual foi a proposta inicial do Cinerock?
Diego Jovanholi: O Cinerock era um projeto simples, pra mostrar o trabalho das bandas novas da Baixada Fluminense, além do conteúdo audiovisual.

Quantos amigos trabalharam na ideia do primeiro Cinerock?
Diego Jovanholi: No início eram umas dez pessoas, todos da Baixada.

Desses dez amigos, quantos são agora? Tem alguém que está no projeto desde aquela época?
Diego Jovanholi: Tem sim: A Erika Nascimento, o Rodrigo Caetano, a Lia Wandemur... Tem também o Diogo Vila, que está meio sumido, e o Marcio Graffiti que sempre dá uma força com o Coletivo Anti Cinema.
Imagem de arquivo dos organizadores do Cinerock 1
Como aconteceu a junção do projeto Cinerock com o Centro Cultural Donana?
Diego Jovanholi: Depois que a gente fez o Cinerock, a gente ficou tão empolgado com com a história do Donana voltar à ativa que decidimos focar no Donana. Por isso que só rolaram duas edições do Cinerock até agora.

E como foi a ideia de realizar a primeira edição do Cinerock no Centro Cultural Donana - que até então estava desativado?
Diego Jovanholi: Eu nunca imaginei que seria no Donana. Eu estava desesperado pra encontrar um lugar e falei com o Dida(Nascimento). E ele falou “Faz lá!”. Então foi lá. E foi mágico.

Qual foi a diferença entre a empolgação de fazer no Donana para o estado em que vocês o encontraram?
Diego Jovanholi: De início a gente quase desisitiu. Mas era aquilo: Tinha que fazer, então “vamos lá”!

Como vocês encontraram o Donana?
Diego Jovanholi: Sujo e cheio de lixo.
Rodrigo Caetano: As atividades do Centro Cultural estavam paradas. Lá era o ateliê do Dida. Então tinha móveis velhos, restos de obras, telas, tintas... A gente foi lá limpar uma bagunça de 15 anos pra tentar fazer o Cinerock.

Centro Cultural Donana - início de 2009.
E quanto tempo levou pra arrumar a “bagunça de 15 anos”?
Diego Jovanholi: Uma semana direto, indo lá todo dia.
Rodrigo Caetano: Mas o Cinerock surgiu sem pretensão nenhuma de desdobrar o ressurgimento do Donana.
Diego Jovanholi: A gente ficou assustado com a proporção que o Cinerock ganhou por causa da internet. Com a divulgação online, em menos de 2 semanas todo mundo já conhecia.

Como funcionou essa divulgação?
Diego Jovanholi: Basicamente em e-mails para os amigos, que passaram para os amigos dos amigos e redes sociais. Nem existia Twitter na época.
A gente queria alcançar o pessoal de Belford Roxo. Divulgamos em faculdades e escolas também de Nova Iguaçu, município vizinho.

No meio da bagunça em que se encontrava o Donana, vocês fizeram algum “achado” em especial?
Diego Jovanholi: Um case lindo de Gibson, todo aveludado por dentro, maravilhoso. E muita coisa de festa antiga do Donana, tipo faixa do Lumiar, que hoje é a Cidade Negra.
Rodrigo Caetano: Um pick-up, uns “300 milhões” de discos, fotos e cartazes. Até digitalizamos algumas coisas.

Vocês usaram alguma coisa que encontraram para formar a própria decoração do Cinerock?
Rodrigo Caetano: Os cartazes e as fotos.
Diego Jovanholi: E o case da Gibson!

Vocês não esperavam continuar com as atividades do Donana? E o que mudou para que vocês decidissem continuar?
Rodrigo Caetano: Eu conhecí mais sobre a história do Donana e fui conhecendo um pessoal que frequentava quando era jovem.
Diego Jovanholi: Rolou tipo uma magia...

Rodrigo Caetano: Acabou desencadeando no Cineclube e veio a criançada “invadindo”. Começaram a rolar as festas de diversidade, com poesia, teatro e etc... E as coisas foram se desdobrando. Foi bonito.

Da primeira edição do Cinerock para a segunda, quais foram as diferenças? Qual foi o caminho percorrido?
Rodrigo Caetano: Em infra-estrutura estava bem melhor. No primeiro a gente não sabia muito bem como fazer. No segundo a gente já tinha 30% de “manha”. Os equipamentos estavam melhores...
Diego Jovanholi: Teve o apoio da MENS - Música Entretenimento Noção Social - que é a ONG do Lauro Farias, do Rappa, que se sensibilizou com o projeto e patrocinou o som.
Rodrigo Caetano: Teve uma galera que ajudou. O Vicentinho (Vicente Freire) ajudou com o palco...
Diego Jovanholi: O pessoal de Belford Roxo formou uma grande “teia” pra ajudar.
Rodrigo Caetano: Teve um pessoal de outros municípios também, como o Cine Goteira, do Mateus Topine, que contribuiu também com a fundação do Cineclube, além de fazer o link entre nós e o Marcio Graffiti, do Coletivo Anti Cinema. E o Marcio fez link com várias outras pessoas...
Diego Jovanholi: Como o Slow da BF, o pessoal do Rap e de Caxias.

Nessa transição do primeiro para o segundo Cinerock, o Donana já estava em funcionamento?
Diego Jovanholi: Já rolava sessões do Cineclube com o equipamento do Emerson Pires, lá de Belford Roxo. Ele é do Conselho de Cultura da cidade e um dos nossos parceiros.

Pensando num lado prático, a estrutura das duas edições já realizadas do Cinerock se manteve?
Rodrigo Caetano: No primeiro a gente chamou as bandas Alícia, Odisséia, Surfinbirds, Repúplica 01, MC K-bide e MC Slow.
No cinema, chamamos uma galera que já faziam filmes. E teve exposições de cartazes da Ivone Landim e do Dida Nascimento. Não houve inscrições. A gente tentou fazer bilheteria, mas não deu muito certo.
Diego Jovanholi: Era bem simbólico, R$1, pra tentar cobrir o custo do equipamento que foi alugado.
Rodrigo Caetano: Mas depois de um tempo a gente já abriu as portas e deixou todo mundo entrar.
Diego Jovanholi: O Donana nunca pode cobrar ingresso pra nada. É a “casa do povo”.

Qual foi a avaliação pós-Cinerock?
Diego Jovanholi: Foi incrível, porque todo mundo estava falando que ía dar errado.
Rodrigo Caetano: A gente não teve apoio de ninguém na primeira edição. Só tinha braços e a vontade de fazer. E o “patrocínio” do Diego e da galera.

Rodrigo e Vagner - Foto por Josy Antunes
Houve uma “vaquinha” pro aluguel dos equipamentos?
Rodrigo Caetano: A vaquinha nunca mais voltou... (Risos)
Vagner Vieira: A gente estava conversando com o Lauro(Farias, baixista da banda O Rappa) agora pouco, e ele falou a mesma coisa, de que ninguém apoiava ele na época que ele queria ser músico. E hoje ele é quem é.
Eu tenho alguns amigos que realizam festas de música eletrônica e eles costumam colocar no flyer: “Patrocício: Deus. Apoio: Nós mesmos”.
Quando a coisa tem que acontecer, as pessoas começam a divulgar e a coisa toma forma. O evento não precisa ser a última maravilha do mundo. Basta ser bem planejado e ser feito com profissionalismo e com o coração, porque senão, não adianta.
Rodrigo Caetano: A gente lotou a parada lá. Tanto com público de banda, quanto da galera que não conhecia o Donana e queria conhecer. E também com a galera da antiga do Donana, que queria ver o que essa molecada estava fazendo.
O Cacau Amaral foi lá também gravar uma cenas do documentário sobre o Donana.

Quando vocês decidiram que deveria haver uma segunda edição?
Rodrigo Caetano: Depois que passou o primeiro, todo mundo perguntava: “Quando vai ter o outro? Quando vai ter o outro?”. Aí a gente viu que tinha uma necessidade de rolar.

Todas as atividades que aconteceram de lá pra cá no Donana, podem ser consideradas realizações do Pública?
Rodrigo Caetano: O Pública é mais o lado profissional, no Donana é mais uma doação. Mas são atividades produzidas pelas mesmas pessoas, que surgiram do Cinerock.

Por que no começo haviam tantas pessoas e depois o grupo foi diminuindo?
Diego Jovanholi: Porque não tem retorno no início. Você tem que ficar lá virando noites, escrevendo projetos, ficar pra cima e pra baixo carregando caixas... Quando não tem um retorno imediato, as pessoas vão encontrando outras coisas pra fazer também, né... Ficar só fazendo isso não bota comida no prato. Acho que esse foi o principal motivo da galera ter diminuido.

Agora indo para a segunda edição, que é mais ou menos quando o Vagner Vieira entra...
Vagner Vieira: Um pouco depois do segundo Cinerock, eu voltei a frequentar o espaço, onde eu já tinha ido umas 3 ou 4 vezes. Eu sempre gostei muito, em particular das festas da diversidade cultural. Nas primeiras vezes eu fui para encontros cineclubistas. Em outubro de 2009, na segunda festa da diversidade cultural, eu comecei a ir direto. E aí também rolou a conexão com o Cineclube Digital, que foi aonde eu aprendí o que é ser cineclubista e tudo mais.

Uma vez eu tive que levar umas pessoas pra sonorizar uma sessão em homenagem ao Chaplin, lá no Cineclube Digital, e junto com a Melise(Fremiot) escolhi o Diogo(Vila). E o Diogo escolheu pra acompanhar o Rodrigo(Caetano) e o Diego(Jovanholi), que eram do Donana. E aí sem querer aconteceu essa conexão. De lá pra cá, a gente não parou mais de realizar coisas juntos.

O “enlace” foi a sessão com o filme “Herbert de perto”, que foi a última de 2009 do Cine Donana.

Voltando pra segunda edição, como foi a estrutura? E por que vocês decidiram fazer no Donana de novo?
Rodrigo Caetano: A gente decidiu fazer no Donana porque deu certo no primeiro e a gente imaginou que também daria no segundo. Até porque já estava rolando uma série de eventos fora o Cinerock.

Houve um momento em que a ideia era fazer do Cinerock um projeto itinerante. Por que ela foi descartada durante a realização da segunda edição?
Rodrigo Caetano: Dinheiro. Era inviável porque a gente fazia meio que do bolso.
Fizemos no Donana, abrindo inscrições para participações através do site do Cinerock. Teve banda de toda Baixada e do Rio. E a mesma coisa com o cinema.
Diego Jovanholi: Houveram exposições de fotografia de Bruno Maia e de Bianca Radics.
Rodrigo Caetano: A gente fez camisa pro pessoal da equipe. O pessoal até hoje pergunta quando a gente vai colocar pra vender e tal... A gente se preocupou com a decoração, quisemos usar um tema mais circense. Fizemos as almofadas vermelhas e amarelas que até hoje são usadas no Donana.

Pública Alternativa - por Bruno Baketa
Nas duas primeiras edições, como foi a participação do pessoal que mora nas proximidades?
Diego Jovanholi: “Cinerock” é só um nome, a gente quer abranger todo tipo de música. Hoje em dia rola um respeito com o evento em si. No primeiro eles ficaram meios desconfiados.
Rodrigo Caetano: Mas molecada foi em peso. Acho que por ser feito por jovens, acaba atraindo mais esse público. E é isso aí, o nome “Rock” não é só de “Rock in Rool”, mas de atitude e de música. Teve banda de reggae tocando lá, teve pessoal do rap fazendo som, pessoal do pop... queremos mesclar tudo mesmo - o que é uma das qualidades do Donana: juntar tudo.
Vagner Vieira: Esse foi um dos motivos pra eu participar do Donana, porque eu me sentia atraído em todos os sentidos por essa mistura. Todo mundo faz tudo lá no Donana. A gente acabou de sair de uma gravação super realizados. E do Donana a gente sai da mesma forma.

E como está a preparação para a terceira edição?
Rodrigo Caetano: A gente está entrando em parceria agora com o SESC NI. No Donana, a gente fez uma série de “Maratonas pré-Cinerock”, que rolaram com algumas bandas. A terceira edição vai rolar em fevereiro.

As inscrições estão abertas no site? Até quando?
Rodrigo Caetano: Cara, vai estar aberta meio que pra sempre. O foco do Cinerock agora é criar um grande banco de dados para as bandas tocarem. Você vai se inscrever lá e em algum Cinerock você vai tocar.
Diego Jovanholi: O festival vai rolar a cada 3 meses. As inscrições vão estar permanentes através do site http://www.cinerock.com.br/

Isso é válido pra banda, exposição e cinema?
Rodrigo Caetano: Sim. Se você tem banda, se você tem filme, se você é artista plástico, envie seu trabalho para a terceira edição do Cinerock!

2 Comentários:

Anônimo disse...

eu to aqui maravilhada
cara e coragem no BRASIL
É UMA moeda VALIOSISSIMA!

PARABÉNS d+!

EXCELENTE exposição Srta Antunes.

Exúvia Magenta

Erika Nascimento disse...

Cinema+Música+Artes plásticas
Participem dessa união! Enviem seus trabalhos:
http://www.cinerock.com.br

Parabéns pela matéria Jô!!

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