Espaço vivo em São João

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

por Felipe Branco


Dia desses me convidaram para ir ao Algaraiva, um bar na Vila Operária, em São João de Meriti. Era uma inauguração de um bar alternativo, aberto a para todos tipos de manifestações artísticas e culturais. O dono da parada é o Gabriel Pimentel, 27 anos, conhecido como Soneca. Gabriel se diz anarquista e viveu um tempo junto a outros ocupantes da Okupação Flôr do Asfalto, na zona Portuária do Rio. A Flor do Asfalto surgiu da necessidade de alguns indivíduos se expressarem culturalmente. “Mas uma cultura à margem, não essa cultura “normal”, explica Soneca, que morou naquela área de cerca de 2500 metros quadrados, dividida em duas partes, com mais de 20 famílias. A outra era um espaço anarquista autogerido, a Flôr do Asfalto.


Lá a produção cultural é intensa e foi com esse espírito anarquista que Soneca montou o bar. “Aluguei esse espaço com a ideia de trazer um espaço cultural aqui pra São João de Meriti, porque eu achava esse espaço muito morto de coisas e diversidades”, conta ele, que chamou alguns amigos para dar cursos, oficinas e criar suas próprias bandas. O próprio Soneca fez uma oficina para os moradores locais sobre como reciclar óleo usado em sabão. “Também tenho a ideia de fazer uma biblioteca popular aqui, tentar preservar a literatura, no caso o texto escrito”, acrescenta.

O Algaraiva tem espaço para grafite, exposição de quadros, intervenções e apresentação de bandas, além, é claro, da tradicional cervejinha. Quem chega vê o grafite de Bruno Zagri e Coletivo Artefeito nas paredes do lado de fora do bar. Lá dentro, atraentes quadros de Bruno Zagri e alguns “zines” do próprio Soenca. Zine é o “diminutivo” de Fanzine, que é uma revista menor feita por fã, ou seja, é uma revista feita com pouco zelo e de forma bem simples e despretensiosa. Soneca faz seus zines, escreve poesias, contos e está fazendo um livro com a capa feita com colagens de revistas e jornais. O livro de poesia se chama “Cultura Marginal” e o de crônicas é “Algaraiva”.

Decoração alternativa
Além dos zines e dos quadros de Zagri, há alguns papeis de textos reflexivos acerca do pensamento anarquista e sobre nossa sociedade. Com uma decoração bem alternativa e pouco preocupada com os padrões estéticos contemporâneos, o espaço não chega a ser pequeno. “O espaço é do tamanho ideal para a galera ficar junta e curtir as bandas”, diz Rodrigo Barreto, um dos frequentadores. De fato o espaço é ótimo.

Na festa da inauguração, a primeira banda a se apresentar foi a Genomades, bastante conhecida do underground iguaçuano. Em seguida, foi a vez da Clube Solitário do Éden fazer o debut e da All Cool e Bettie Page, sendo que essa última se propôs a ajudar Soneca com o bar. Os próprios integrantes, mais sua amiga e produtora Dannis Heringer, ajudaram a construir e contribuir para a formação de um público leitor no bairro, com a formação de uma Biblioteca Comunitária no espaço.

O espaço é uma resposta à carência do bairro por esse tipo de entretenimento e uma confirmação da crescente cena underground da Baixada, que vai ganhando novas produções, novas bandas e novas casas. No bar funcionará uma biblioteca, e o evento tinha como principal motivo arrecadar livros. O bar certamente será uma referência para se ter um local para se sentir à vontade para ler e praticar cultura “não careta”, haja vista a atividade de Soneca, mais a da sua mulher, que também escreve zines e participa dos seus agitos, além de amigos e colaboradores. O espaço é aberto a toda essa galera que faz.

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