Eldorado iguaçuano

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

por Vitória Tavares


Nova Iguaçu não para de crescer. E o setor da economia que mais se beneficia desse crescimento é a construção civil. Novos prédios comerciais e residenciais, novas lojas, novas casas....Vivemos algo como um “boom” das construtoras na cidade. A explosão imobiliária cria oportunidades de emprego, como o que promete mudar a vida do estudante Breno Marques, um estudante de engenharia da UERJ de 21 anos que desde a semana passada aborda os transeuntes do Calçadão oferecendo o que ele chama de "altos empreendimentos de empresários importantes". Ele está entusiasmado com seu trabalho, ainda que a concorrência seja grande. “As metas de venda da empresa são altas, assim como as próprias vendas. A área da construção vem superando seu crescimento a cada ano.”

A locomotiva desse "boom" imobiliário é o Minha Casa, Minha Vida, um programa de financiamento de imóveis criado nos estertores do Governo Lula com verba da Caixa Econômica Federal. Com ele, é possível financiar um imóvel para famílias com renda mensal de até R$ 1.395,00. No entanto, a ascensão econômica das classes populares, um dos maiores legados da Era Lula, está impedindo que muitos dos interessados fechem negócio com Breno Marques. “Muita gente vai na empresa procurar esse financiamento e não consegue por conta da renda da família ser um pouco mais alta do que a renda máxima estipulada pelo programa, mas ainda assim não tem recursos para adquirir uma casa de outra maneira."


O eldorado do Minha Casa, Minha Vida é Cabuçu, onde se multiplicam apartamentos de nível médio, conforto e lazer dentro do condomínio. Esses apartamentos custam em média R$ 120 mil, bem abaixo dos cerca de R$ 1 milhão das unidades que estão acompanhando a valorização dos imóveis em Nova Iguaçu, que tem o quartor metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro. "Outro lugar muito procurado pelos clientes do Minha Casa, Minha Vida é Belford Roxo", conta o corretor.

Quando uma cidade cresce, alguns fatores sociais são postos à prova. A melhoria da qualidade de vida nas regiões centrais da cidade atraiu muitos empreendimentos imobiliários, mas, por outro lado, só as camadas mais altas da população podem desfrutar desse crescimento economicosocial. “No centro de Nova Iguaçu, o padrão é Zona Sul. Morar no Centro da cidade é tão caro quanto morar num apartamento bom no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro”, conta Breno Marques, para quem a segregação espacial se deve à necessidade das autoridades de “esconderem” a pobreza. Por conta disso, muitas famílias que antes moravam no centro de Nova Iguaçu procuram complexos habitacionais do Governo em zonas mais afastadas, como Cobrex e Barro Vermelho.

Uma das vítimas desse processo é o aposentado Fernando Teixeira, 64 anos. Por conta dos altos preços de aluguel, ele teve de deixar a casinha na parte alta do centro de Nova Iguaçu (lugar onde estão sendo construídos condomínios de alto luxo). “Fui nascido e criado aqui. Só que agora não tem mais como. A vida está muito cara por aqui... Aqui pobre não mora mais não”, desabafa o aposentado, que recorreu ao programa Minha Casa, Minha Vida para conseguir uma casa dentro de suas possibilidades.

Ter uma casa própria é uma sensação tão maravilhosa que Fernando Teixeira está relevando a saída do local onde nasceu, mas não é por causa da felicidade de ter um lugar para chamar de seu que o aposentado concorda com o apartheid iguaçuano. “É um absurdo que tenhamos que, ganhando pouco do jeito que ganhamos, sair do lugar onde vivemos nossa vida só porque alguém com mais dinheiro que a gente entrou na nossa frente e quis o nosso espaço", diz ele. E o jeito que encontraram para nos desapropriar foi aumentando radicalmente o preço de tudo. É inadmissível que as autoridades não pensem em um desenvolvimento que seja repartido.”

1 Comentários:

Yasmin Thayná disse...

Maneiríssima. É uma pena mesmo o caso do seu Fernando. O desevolvimento nem sempre favorece a todos.

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