Isso ou aquilo

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

por Abrahã Andrade

“As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”. De fato,Vinicius de Moraes foi muito feliz, ao dizer esta frase infeliz. Todo o preconceito que se preze fica muito bem guardado e só vem à tona em situações especiais. O bombardeio de informações vindas de todo o meio de comunicação de massa cria um fenômeno social e faz com que mais pessoas acreditem no que começam a ouvir desde a infância.

O resultado dessa “aculturação” é que mais mulheres deformem e forcem seus corpos a se encaixar no padrão estético vigente: quanto mais parecida com a fulana da revista, melhor. A mulher “não bonita” aparece no subgrupo, e quando está na mídia, aparece quase sempre de forma caricata e depreciativa. A beleza pode até estar nos olhos de quem vê, mas estes “olhos de quem vê”, são vendados ou simplesmente cegos. Não há homens que desejem mulheres não-belas simplesmente porque este direito lhes é tomado,socialmente. A mulher perfeita dá ao indivíduo mais status, sim, ele fica bem na fita.


Mesmo com essa procura desesperada pela mulher perfeita, as “feinhas” entram nesse jogo como um “petisco”, sempre por debaixo dos panos. Qualquer amigo seu já teve um noite de luxúria desregrada com a mulher feia. Ele vai culpar a cachaça, vai culpar a pressão feita por ela, vai inventar mil artifícios pra explicar o motivo disso ter acontecido. Ele nunca dirá que sentiu desejo. Issoé inconcebível, é risível.

Andei conversando com algumas dessas meninas e mulheres que aquele seu amigo não andaria de mãos dadas. Seria uma grosseria entrevistá-las como “mulher feia”. Foi uma conversa comum, com mulheres comuns. “Meus ficantes quase nunca são os meninos que eu estou a fim, sempre é um cara que me aborda sem mais nem menos”, diz a moça que vou chamar de “Renata”.

Fiquei olhando de longe, do lugar onde eu estava, e tive a sorte de presenciar uma dessas abordagens ao vivo. O cara não se deu ao trabalho de paquerar. Foi logo mandando uma cantada direta. Os homens acham que elas não precisam ser conquistadas. Pensam que estão fazendo um favor, e se sentem ofendidíssimos quando a resposta é não.

Nessa mesma noite, conheço a “Fernanda”. Tive de explicá-la pacientemente que estava apenas querendo conversar. No meio daquela música alta, a última coisa que você pensa, sendo mulher, é que está sendo entrevistada. Fernanda era bem mais desinibida. “Quando saio pra uma balada é pra me libertar,não dou a mínima se essas patricinhas acham que sou isso ou aquilo. Não vou em cima dos caras. Eles é que vêm em mim”. Pode ser, mas ela encarava mais de um homem de uma só vez.

As moças entrevistadas revelam que, além de suas vidas sexuais serem tão ou mais agitadas que a das meninas bonitas, elas possuem interesses em comum com as hostilizadas “patricinhas”. Arrumam-se com o mesmo capricho, gostam das mesmas músicas, usam roupas muitas vezes idênticas, e acham Robert Pattinson o maior gostoso da atualidade.

Beleza é fundamental? Sim, e quem disse que elas também não são bonitas?

1 Comentários:

Renato disse...

Eu pegaria a Beth dito! :D

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