Imperdível

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

por Jéssica de Oliveira

A Associação Paraense de Jovens Críticos de Cinema e o Centro de Integração Social Amigos de Nova Era promovem, nos próximos dias 4, 5 e 6 de fevereiro (sexta a domingo), um conjunto de ações arte-educativas de cunho cineclubista na cidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.

O projeto de intercâmbio cultural visa a troca de olhares e experiências na fruição crítica de obras cinematográficas através de duas atividades: um minicurso de teoria e história do cinema no quão serão abordados três temas-chave do percurso cinematográfico, e a Mostra APJCC de cinema paraense, na qual diversas produções amazônidas serão exibidas e debatidas.

Além de viabilizar o acesso democrático a parte importante do audiovisual artístico, nacional e internacional, as atividades permitem o aprofundamento crítico e reflexivo sobre questões estéticas e políticas da prática cineclubista. O movimento cineclubista brasileiro é um dos mais expressivos dentro do contexto internacional, seja através das políticas públicas de incentivo ou da histórica militância da crítica alternativa. Entretanto, o problema de comunicação e integração destas práticas é patente, espelho de uma política cultural centralizada, que desconhece a dimensão das práticas no próprio território nacional. O intercâmbio firmado pela APJCC e a CISANE mostra que a possibilidade de trocas de vivências é simples e imprescindível para o fortalecimento deste movimento.



Programação:
Minicurso de teoria e história do cinema (12h/aula)
Ministrante: Miguel Haoni (APJCC)
Período: 4 a 5 de fevereiro (sexta a domingo) das 14 às 18 h.

Local: Sede da ONG CISANE (Rua Sebastião de Melo, 384 - Jardim Nova Era - Nova Iguaçu - RJ)

Inscrições gratuitas no local
Informações: (21) 3103-9495

A perspectiva histórica é fundamental para o entendimento do movimento cinematográfico perpetrado nos últimos 115 anos. Os três capítulos abordados no minicurso pretendem através desta perspectiva refletir acerca da linguagem audiovisual e como ela se configura como elemento formador da cultura contemporânea.

dia 4 (sexta-feira)
1 Por um realismo mais poético: o cinema francês do entreguerras (2h/aula)
Nada mais terno e forte do que um povo lançado em seus limites. No entreguerras, a Europa mergulha na crise e um grupo de jovens franceses pegam câmeras e dão seu quinhão de poesia e denúncia no front do totalitarismo da mediocridade. Através da leitura teórico-histórica da produção de homens como Renoir e Vigo, entenderemos um dos momentos-chave da história do cinema.

Exibição do filme A Grande Ilusão, de Jean Renoir, seguida de debate (2h/aula)
Durante a Primeira Guerra Mundial, num campo de prisioneiros na fronteira franco-alemã, as dificuldades levam homens antes inimigos a se unirem. Os gestos de solidariedade prevalecem sobre o conceito de nacionalidade e razões políticas. As ligações entre os dois oficiais inimigos parecem mais fortes que as de soldados de um mesmo exército.

dia 5 (sábado)
2 Sangue de Poetas: panorâmica sobre a violência no cinema (2 h/aula)
Desde sua gênese, a história do cinema confunde-se com a história do cinema de violência, seja nos clássicos filmes de gênero hollywoodiano, ou os gritos de fome no Cinema Novo latino. Espetáculo vulgar ou expressão lírica, a violência sempre foi grande parceira do cinema, e em torno dela, suas vantagens e desvantagens éticas e estéticas, compreenderemos as funções das tripas e miolos na arte contemporânea.



Exibição do filme The Beyond, de Lucio Fulci, seguida de debate (2h/aula)
Lucio Fulci é um dos maiores gênios da sétima arte. Louvado por muitos como o “Edgar Allan Poe do cinema”, “Godfather do gore”, o italiano foi, por muito tempo, desprezado por crítica e público, enquanto Federico Fellini e Luchino Visconti o aplaudiam de pé nos cinemas.
Em 1981, Fulci entrega a sua obra máxima: The Beyond. Filme apresentado em formato anamórfico (primorosamente utilizado com jogos de foco que são verdadeiras aulas de cinema), com história de Dardano Sacchetti, e atuações de Catriona MacColl, David Warbeck e Cinzia Monreale, é cultuado no mundo todo por especialistas como uma das obras-primas do fantástico em toda a história da arte.
O poema visual que o diretor constrói é embaraçoso para qualquer crítico. Inefável é a palavra que melhor o descreve. Em 87 minutos, Lucio Fulci nos convida para o outro lado: o seu. O poema nervoso e calmo, belo e triste, nos comunica, através de nossa contemplação muda, todo o ser de um artista, toda uma reflexão sobre seu objeto de expressão. A reflexão vai tão longe que não pode mais ser dito com palavras, explicado racionalmente. É o próprio ser do grande artista que se imprime em cada plano. É o amor – e nada mais – o amor à sua obra de arte, e à sua ferramenta de expressão.

Mateus Moura (2009)

dia 6 (domingo)
3 Realismo e opacidade: a gênese do Cinema Moderno (2h/aula)
Em meados de 1940, o cinema passa por uma modificação radical na sua concepção expressiva e na forma de abordar os fenômenos humanos. Através da influência revolucionária de Cidadão Kane e Roma, Cidade Aberta a década pavimentou o terreno para o desenvolvimento de novas formas de conceber e realizar filmes através do mundo: nasce o que se convencionou chamar de “Cinema Moderno”. E nada mais foi como era antes.



Exibição do filme Persona, de Ingmar Bergman, seguido de debate (2h/aula)
A atriz Elizabeth Vogler deixa de falar durante uma representação teatral de Electra. Seu mutismo em relação aos que a rodeiam é total, sendo então internada numa clínica. Não está doente, simplesmente optou pelo silêncio. Alma, uma jovem enfermeira, fica encarregada de tratar dela. Quando, a conselho médico, as duas se isolam em uma ilha, passam a desenvolver uma intimidade e cumplicidade crescentes. Com isso se estabelece uma constante troca de identidades.

Mostra APJCC de cinema paraense
Curadoria: Miguel Haoni (APJCC)
Período: 4 a 5 de fevereiro (sexta a domingo) às 19h.

Local: Sede da ONG CISANE (Rua Sebastião de Melo, 384 - Jardim Nova Era - Nova Iguaçu - RJ)
ENTRADA FRANCA
Informações: (21) 3103-9495


A mostra oferece em três sessões um panorama dos mais interessantes na produção cinematográfica paraense.

dia 4 (sexta-feira)
1 Apresentação - Cinema e cineclubismo na Amazônia: desafios e perspectivas
Sessão 1: Geração 00

1 “Açaí com Jabá”, de Alan Rodrigues, Marcos Daibes e Walério Duarte
Um duelo entre um paraense e um turista para ver quem consegue tomar mais açaí com jabá. Baseado nesse costume do homem da Amazônia.

2 “As Mulheres Choradeiras”, de Jorane Castro
Um dia, numa cidadezinha da Amazônia, o corpo de um morto desaparece. Três senhoras, carpideiras de enterros e velórios, se tornam as principais surpeitas. Por que querem acusá-las?

3 “Dias”, de Fernando Segtowick
Dias acompanha um dia na vida de três pessoas que estão próximas, mas não se conhecem. Encontram-se na vida, mas não se ajudam, até um acidente as colocarem lado a lado.

4 “Quero Ser Anjo”, de Marta Nassar
O filme conta a história de desejo, traição e revolta, tendo como pano de fundo a procissão do Círio de Nazaré, em Belém do Pará, uma das maiores festas religiosas do Brasil e do mundo.

dia 5 (sábado)
Sessão 2: Belém, ilha urbana

1 “Malditos Mendigos”, de Vicente Franz Cecim
Apesar de ser reconhecido por sua obra literária, o paraense Vicente Franz Cecim sempre teve a imagem como uma aliada, por isso fez dela uma característica marcante na sua produção. Uma provável contribuição foram suas experiências, em super-8, na década de 70 com a realização do ciclo de filmes KinemAndara que era composto por cinco títulos: “Matadouro” (1975), “Permanência” (1976), “Sombras” (1977),“Malditos Mendigos” (1978) e “Rumores” (1979). O nome KinemAndara surge como o ‘Cinema de Andara’, a terra do íntimo do autor. Sua ficção poética está ambientada em Andara, vilarejo que transfigura a Amazônia, com anjos deserdados, mulheres que levitam e animais escuros. Só que Andara não é uma cópia da Amazônia. Ao invés de regionalizar a fala, universaliza o timbre.


2 “Brega S/A”, de Gustavo Godinho e Vlad Cunha
Gravado entre os anos de 2006 e 2009, o documentário Brega S/A fala sobre a cena tecnobrega de Belém do Pará. Feito por artistas pobres, gravado em estúdios de fundo de quintal e com relações profundas com a pirataria e a informalidade, o tecnobrega é a trilha sonora da periferia da cidade, uma espécie de adaptação digital da música romântica dos anos 70 e 80.
No filme, vemos qual a relação entre o tecnobrega e a popularização da tecnologia a partir do final da década de 90, bem como a maneira como esse estilo musical se associou à pirataria para criar uma rede de distribuição alternativa ao modelo proposto pelas grandes gravadoras.
Entre os principais personagens estão o MC de tecnobrega Marcos Maderito, o “Garoto Alucinado”; DJ Maluquinho, uma espécie de Iggy Pop brega da periferia de Belém; e os DJs Dinho, Ellysson e Juninho, ídolos das aparelhagens, enormes sistemas de som que realizam festas itinerantes pelos bairros mais pobres da cidade.

dia 6 (domingo)
Sessão 3: O cinema de Márcio Barradas

1 “A Janela”
Uma visão urbana da cidade de Belém do Pará.

2 “A Poeta da Praia”
O filme 'A poeta da praia' conta a história de uma filósofa moradora de rua, que vive refugiada numa ilha e foge do contato humano. Por conta disso, passa seus dias caminhando pelas praias, onde escreve seus pensamentos na areia. Mas a presença daquela mulher estranha logo é notada pela população local, que não entende as atitudes da desconhecida e passa a hostilizá-la. Sua vida, então, fica mais exposta às mazelas de uma sociedade contraditória e violenta.


3 “O Mastro de São Caralho”
Tradição com pelo menos 20 anos de história, o Mastro de São Caralho se apresenta como marco diferencial, por não existir como parte constituinte de festividade nenhuma, mas sim por ser ele mesmo a própria festividade. Some-se a isso o fato de propor uma recusa à tradição sincrética, por ‘inventar uma tradição’ própria de profanidade, remontando ao mitológico deus grego Príapos, o São Caralho daquela época. O São Caralho é milagroso e phoderoso; sua índole, contestatória e anti-hipócrita; sua longa e dura luta sempre será contra qualquer forma de discriminação, não aceitando interferência alguma de qualquer tipo de “otoridades”, quaisquer que sejam. Sua festividade não tem fins lucrativos. E como o mastro é reciclado, é também, enfim, um “santo” ecológico. Por isso, seu número de ‘devotos’ vem se expandindo numa proporção geométrica. Trata-se de uma divindade do povo, não das elites.

1 Comentários:

Yasmin Thayná disse...

Se eu fosse vocês, leitores, eu ia para essa oficina e levava o amiguinho. Eu fui e foi MUITO BOA. E se eu fosse a Jéssica, me ensinaria a escrever assim!

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