Claustrofobia

terça-feira, 5 de abril de 2011

por Leandro Oliveira de Aguiar


Os cariocas amantes do futebol que estão acostumados com os jogos imemoriais no Maracanã hoje têm de se adaptar a uma nova realidade no Engenhão, nome popular do estádio João Havelange, localizado no bairro Engenho de Dentro, na Zona Norte carioca e que ainda sofre alguma resistência de alguns torcedores. A impressão é que sempre falta alguma coisa, incluindo transportes públicos e segurança no seu entorno. ”Eu morro em Jacarepaguá e para mim fica difícil vir aos jogos, principalmente quando são no meio de semana e à noite“, diz Ruan Queiroz, torcedor vascaíno que trabalha como vendedor, que só vê seu time jogar nos fins de semana.

Construído para os jogos Pan-Americanos de 2007, o estádio poliesportivo é um ponto estratégico para os jogos olímpicos no Rio de Janeiro. Projetado com áreas bem delimitadas e sem zonas mistas para as torcidas, o Engenhão acabou com o velho costume do torcedor de ir com um amigo ou namorada de times rivais. Quem planeja esse tipo de aventura deve se sacrificar e assistir à eventual partida na zona rival. Tricolor desde que me entendo por gente, passei por uma situação um tanto tensa no último domingo, quando fui ver o jogo contra o Vasco no último domingo com minha namorada. "Vamos ver o jogo juntos", desafiou ela.



”Antes sempre sentava em uma área mista e ficava contemplando as festas da torcidas nas cadeiras do Maraca“, diz Ruan Sampaio dos Sousa, torcedor tricolor de 57 anos e freqüentador assíduo desde a década de 1970, quando acompanhou de perto a chamada máquina de jogar futebol, comandada por Rivelino.

O clássico tinha tudo para ser um grande jogo, mas não foi o suficiente para atrair mais de 27 mil torcedores para o Engenhão. Invicto a sete jogos, o Vasco entrou em campo com moral de favorito ao som do novo ritmo consagrado pela torcida: o trem bala da Colina. Apesar dos ecos da crise que culminou com a demissão do técnico Muricy Ramalho e a exposição da péssima estrutura do clube das Laranjeiras e do futebol carioca em geral, o tricolor das Laranjeiras entrou em campo com o ânimo renovado após uma virada histórica na Libertadores nos últimos minutos.

O jogo em si foi morno e os times insistiram em errar na pontaria. No primeiro tempo, o atacante vascaíno Eder Luiz fez uma bela jogada e acertou um chute furioso no travessão, levando a massa vascaína ao delírio. O máximo que eu podia fazer a cada lance de gol armado pelo meu time era esboçar um leve sorriso para os amigos. Nada mais claustrofóbico do que ver um belo ataque do Fluminense esbarrando nas mãos do goleiro adversário sem poder fazer um uuuuuuuuuuuuuu.

Aos 24 minutos do segundo tempo, a chance mais clara de gol esquentou a partida. Marcio Careca lançou Eder Luis (de novo ele), que ficou de cara para o gol, mas chutou bisonhamente, com a bola saindo pela linha lateral. Troquei olhares com a minha namorada, a pessoa que mais se divertia com minha situação. Já estávamos à beira de uma guerra psicológica, que só não chegava aos tradicionais xingamentos pelo receio de ser descoberto e linchado.

No fim a grande chance do Fluminense nos pés do lateral Julio Cesar, que terminou nas mãos do goleiro Fernando Prass e um palavrão impublicável, que para o meu próprio bem podia ser interpretado como uma frustração ou uma alegria. Fica a dica para quem se aventurar nesse tipo de experiência: nunca a expressão rodriguiana “a arquibancada é a pátria dos palavrões“ deve ser levada tão a sério.

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