Coisa de macho

terça-feira, 5 de abril de 2011

por Jonatan Bissoli

Tem que ser muito macho para ficar a noite toda num salto de 24 cm de altura.

Preconceitos, baixos cachês e um mercado de trabalho restrito são os problemas mais comuns enfrentados pelos artistas performáticos, mais conhecidos como ‘Drag Queens’.

Wallace dos Santos, 25 anos, morador de Nova Iguaçu, conta como através de uma brincadeira passou de mero espectador a artista e, hoje em dia, se divide entre Wallace e Lanna Wolkman. “Duas personalidades completamente diferentes”, explica ele.



Aos 16 anos, Wallace foi pela primeira vez a uma boate GLS e assistiu ao show da Suzy Brasil e Rose Bombom, dois dos ícones do performismo caricato no Brasil. Ele ficou encantado com o show, mas jamais imaginou que um dia estaria se apresentando naquele palco também.

No entanto, um amigo, como ele frequentador da Via Light, ponto do público GLS na época, propôs que Wallace se montasse determinada noite. "Me elogiaram tanto que resolvi criar um personagem", conta Wallace, que adotou o nome Lanna Taylor em homenagem à drag em que se inspirou. "Todas as afilhadas da drag que te lança no mercado usam o mesmo sobrenome", explica. Wallace começou a procurar outro sobrenome quando percebeu que nem todas as Taylor faziam um show legal. Descobriu o novo sobrenome em CD de Whitney Houston, dedicado a uma amiga chamada Layna Volkman.

Apresentando-se em boates e eventos mistos, como hostess (uma espécie de recepcionista de festas ou boate), casamentos e outras coisas, Lanna Volkman esbanja talento em suas apresentações de dança e dublagem. Há quase 10 anos trabalhando como drag queen, Lanna orgulha-se de ter participado de grandes eventos para o público GLS em Nova Iguaçu. “O que eu gosto de fazer com muito carinho é apresentar a parada gay e a vontade de ver Nova Iguaçu crescer com esses eventos. Eu posso parar de fazer shows, mas uma coisa que eu nunca vou abrir mão de fazer é a parada gay”. E acrescenta: “Não é uma coisa fácil de fazer, colocar cem mil pessoas na principal avenida da cidade dá uma dor de cabeça do caramba, mas quando chega o dia é uma emoção que não tem igual”.

Em 2006, através de um amigo, Wallace teve a oportunidade de ir para fora do Brasil e, com apenas 20 anos, foi convidado para se apresentar em Macau, na China, conhecida como a Las Vegas Asiática. “Fui sozinho, na cara e na coragem. Foi uma experiência muito boa. Acrescentou muito na minha vida passar quatro meses em um país de cultura completamente diferente."

Wallace afirma que viver só de shows é utopia. A falta de valorização é apenas um dos inúmeros problemas que os transformistas encontram para cobrir os grandes gastos com produção, acessórios exuberantes, maquiagem e, o mais importante, uma atitude corajosa e desafiadora para sair de casa, sem medo, para mostrar seu talento. “Eu conquistei muita coisa com a Lanna, mas hoje em dia eu não posso dizer que ela me sustenta, a gente gasta muito e não é valorizado”.

Quanto aos investimentos em eventos e artistas da Baixada, Wallace não pensa duas vezes antes de responder. “Falta investimento, até aqui só apareceram aventureiros. Tá faltando alguém que faça por Nova Iguaçu um investimento com qualidade”.

Sempre esbanjando simpatia e carisma, Wallace orgulha-se da sua criação. “Drag queen é alegria, drag queen também é carnaval, drag queen é brilho, drag queen é glamour, a beleza e principalmente o humor”.

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