A luz no fim do túnel

quarta-feira, 27 de abril de 2011

por Leandro Oliveira de Aguiar


Qual cidadão não sonha ou já sonhou em tirar a carteira de motorista? Afinal, sempre cultivamos a imagem de poder sentir o vento da estrada em nosso rosto, assim como nos filmes hollywoodianos que invejamos por uma vida inteira. Tentar reduzir o tamanho da cidade, outrora enorme e cansativa, acaba sendo uma doce tentação. "Passei minha vida toda andando de ônibus e tendo que me virar com transporte público", desabafa o estudante de direito Rafael Vieira, 22 anos, que conseguiu sua carteira na primeira tentativa. Ainda bem. Porque ele quer mais do que tirar uma onda pilotando. "Cansei."


Para ter direito de atravessar o caótico trânsito da cidade numa caranga, o aspirante deve superar o teste psicotécnico e teórico para o qual ele se habilita depois de um calvário de no mínimo 45 horas de aulas teóricas e outras 20 de prática. A última barreira é a temida prova prática. O índice de reprovação é altíssimo.

O semblante dos concorrentes não esconde o nervosismo e o estresse de se fazer o exame no mesmo dia em que dezenas de autosescolas mandam seus alunos para decidir o seu destino no mesmo local. No meu caso foi em frente à reitoria da UFRJ, na Ilha do Fundão. A formalidade exige que os carros sejam devidamente vistoriados na nossa frente, o que em tese é uma garantia de que todos seremos avaliados dentro dos padrões técnicos. Parece que tudo é sadicamente planejado, a fim de aumentar nosso desconforto. Para que será então que, dependendo do nosso lugar na fila, vemos várias pessoas sendo reprovadas? Para acabar de piorar, o candidato a motorista vive o mesmo drama que as escolas de samba, que podem perder seu carnaval se estourar o tempo pré-determinado. “É principalmente um teste de nervos. O cara que me examinou me induzia ao erro de forma sutil, avisando, por exemplo, quando eu perdia ponto”, conta o garçom Gerônimo Almeida, de 19 anos.


Como nossa sociedade foi tradicionalmente moldada por um estado patrimonialista, onde o público e o privado sempre estiveram lado a lado, o consagrado jeitinho Brasileiro não poderia ficar de fora dessa matéria. Relatos sobre o famigerado suborno é o que não falta e o já folclórico “quebra” vai muito além do caso isolado. A prova disso é o indecoroso incentivo que ouvimos de conhecidos, amigos e parentes. “Quem nunca escutou: 'dá um trocado para o cara que tá tudo certo?', pergunta a secretária Jessica Chrysostomo.

Em minha própria experiência houve sim conversas que indicariam que poderia ocorrer essa extorsão. Segundo um instrutor de autoescola que estava no dia do teste, essa pratica é bem velada. "Não são todas que fazem isso. Se você insinuar alguma coisa é capaz de sair no camburão', conta ele, que por questões óbvias pediu para não ter seu nome revelado. "Pelo que escuto, os valores giram em torno de R$ 800."

Após algumas horas de espera, senti o gosto amargo de entrar para a estatística dos reprovados e a cada fim de teste era fácil notar o desespero de cada um que se juntava ao enorme grupo. Pessoas chorando pela decepção, alguns que chegaram confiantes no final colocavam a culpa na distração e sobrava ate para um eventual e mirabolante defeito do carro. "Agora são mais R$ 200 para eu poder ter o direito de fazer uma nova prova. Você acha que eu sou playboy? Esse dinheiro me faz muita falta!", desabafa o ambulante João Ferreira, incorfomado com as pessoas que trabalham nos órgãos responsáveis pelo trânsito brasileiro.

1 Comentários:

Juliana Portella disse...

ótima matéria!
conheço uma moça lá da minha autoescola que já está na sua 5º tentativa(pasmem). Eu tô nos treinos e morrendo de medo de reprovar.. rs

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