Mulher Bombril

quarta-feira, 6 de abril de 2011

por Yasmin Thayná

"Eu sou boazinha, mas não sou idiota."
Moradora de Ramos, candomblecista, formada em marketing com especialização em marketing pessoal, monitora da árvore, dançarina de charme, personal sex trainee, colunista do Jornal do Lavradio, cineasta e produtora da Black Music, Joana Cardozo tem 31 anos e muita história para contar.

Seu pai sempre achou que ela devia fazer administração de empresas, por ter um mercado amplo. Largou a faculdade ainda no primeiro período. "Estava certa de que tornaria um pai feliz, mas não uma profissional," comenta.

Foi atrás do sonho comunicação social e se tornar jornalista, matriculando-se na antiga UNI-SUAM no mesmo período em que desistiu de fazer administração. Três períodos depois conseguiu uma bolsa para a Facha, uma das faculdades de jornalismo mais tradicionais do Rio de Janeiro. "Estudei muito longe da minha casa por conta de duas matérias. Mas eu ia mesmo assim para Botafogo."



O desconto de 70% oferecido inicialmente foi reduzido para 30% e Joana Cardozo se viu obrigada a se transferia para a Universidade Estácio de Sá, onde faria designer gráfico por ser um curso cuja mensalidade era compatível com a crise econômica do seu pai. Desistiu no primeiro período e colocou um ponto final na história, já que não podia ficar mudando de curso toda hora. "Vou fazer Marketing", disse para si mesma, com a determinação que a tornou na profissional que é hoje.

A vida de Joana é dividida em segmentos, o plano A e o plano B. O plano A é o que sustenta o plano B. "Eu gosto de cinema, mas não tenho tanto dinheiro para produzir o que eu quero. Eu sou classe média baixa e tenho que seguir o plano A, que envolve trabalho. Com o dinheiro que ganho, realizo os luxos do plano B."

Orixás
O cinema chegou a sua vida no período em 2005. Candomblecista assumida e com orgulho, Joana justifica o interesse pelo cinema com a religião. "Um dia eu acordei e disse: ‘será que existe filme de orixás?’ Pesquisei e encontrei documentários. Achei alguns e comecei a escrever histórias sobre orixás."

Foi por intermédio da internet que Joana conheceu as técnicas de cinema, que não estava no seu plano A. "Entrei na internet e comecei a baixar apostilas. Tenho muita apostila de cinema. Tudo que você quiser de técnica de cinema, eu tenho," conta ela, que, além de ter se tornado leitora assídua de técnica de cinema, foi a set de filmagens, participou do Sítio do Pica Pau Amarelo como figurante, da novela Vidas Opostas e fez alguns comerciais.

Uniu o útil ao agradável por intermédio das aulas de cinema que passou a assistir na Cufa, a partir de 2008. "Não posso deixar de trabalhar para estudar cinema. Mas quando posso, sempre faço um curso."

Além da Cufa, fez Glauber Rocha e os cursos de verão oferecidos pela Estácio. "Adquiri muito conhecimento. Eu sinto que o cinema precisa renovar porque o Brasil é muito inovador. Quero produzir minha literatura", conta ela, que já tem em mente pelo menos quatro projetos cinematográficos: Orixás do Mundo, que ela pretende filmar na África, Amazônia 2070, Capadócia. “Venderia o roteiro do Capadócia, porque o Brasil não tem estrutura para fazer o filme."

A preferência em filmar na África se deve à busca em tornar o filme mais realista. "O céu da Bahia é diferente do Rio de Janeiro Na Bahia, de tarde, você vê o céu cheio de manchinhas. No Rio não tem isso. Na África, a areia da praia é diferente do Brasil."

"Pra que nascer?" foi o primeiro curta-metragem que Joana escreveu e dirigiu. Filmado no Arará e produzido pelo Comando Selva, o filme fala sobre violência doméstica. "Dirigi com duas fitas minidv."

Joana no Arará no dia da filmagem do curta-metragem Pra que Nascer?

Criação coletiva
Depois da experiência como produtora de elenco do concurso Mesa de Bar e assistente de direção do filme a Era Digital na Terceira Idade, Joana usou sua facilidade para escrever e inventar histórias para estruturar Amazônia 2070. Mas decidiu escrever o roteiro com pessoas na internet. "Disponibilizei no blog a ideia e quero que as pessoas dêem continuidade. Todos serão roteiristas. A Amazônia 2070 é um nome forte para a televisão. Quero as pessoas participando e não vou ser oportunista a ponto de dizer que a história é minha. Quero que a história seja de todos."

Frequentadora das casas de charme de Madureira desde 1996, Joana escreveu o roteiro de um média-metragem sobre os três lados de Madureira: Tem tudo, Sesc e Portela. O DocFic conta uma história abrangente do subúrbio carioca.

Cacau Amaral, James Cameron, Tony Scott e Eric Bress ajudaram-na a desenvolver o gosto pela profissão que abraçou, mas ela também gosta da literatura espírita de Zibia Gasparetto.

"Sou mulher bombril." Produtora de eventos no ramo da black music, realizou, pela primeira vez como produtora, um show do dia dos namorados com o cantor Darrius Willrich. "Foi sensação. Eu também fui diretora do documentário que fizemos do projeto do evento." Trabalhou no evento Back2Black, um festival que teve na Leopoldina e que deu um gás pro mundo black.

O Harmonicanto é um projeto social musical voltado para as crianças do Cantagalo que não tem vínculo com a Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Lá, ela capta recursos e divulga os eventos.
Joana e as meninas do Harmonicanto

A mulher bombril ainda encontra tempo para militar pelo meio ambiente. "Eu sou muito chata com esse negócio de planeta. Lá em casa eu separo lixo, verifico a limpeza de caixa dágua e reciclo os materiais." Formada em monitora da Árvore pelo clube da árvore, deu palestras no Cantagalo, Morro do Juramento, Anchieta e Viva Cazuza sobre reciclagem. "Eu achava que era triste até ir à Fundação Viva Cazuza. Lá, eu vi que eu era feliz demais," comenta.

Na adolescência, foi presidente do fã-clube do Rappa e se tornou amiga da banda, que a ajudou no momento de desemprego. "As pessoas me diziam que eles nem sabiam que eu existia. Eu não falava nada. Hoje, eles passam e falam: e ai, Jô, como você tá?" E não morre aí a amizade com a banda. "No dia do meu aniversário, o Falcão pediu para eu subir no palco da Olimpo e eu cantei com eles Pescadores de Ilusão," relembra emocionada.

época de fã clube

Sexo
O Personal Sex Trainee é uma das coisas alternativas que Joana Cardozo faz no twitter. Diariamente, ela posta de 5 até 20 dicas, dependendo do dia, sobre relações sexuais. "Eu tenho muitos amigos homens, gays e poucas mulheres. A Companhia de Teatro Tumulto e o Palco Social me deram a chance de falar sem pudor sobre sexo e outros assuntos. Eu noto que, numa rodinha de conversa, as pessoas se soltam quando eu começo a falar", explica.

Apesar do vasto conhecimento da área, ela conta que não faz tanto sexo assim. Recebe emails diariamente e tem uma filosofia: "Sexo é como vestir roupa, mas tem limite". E ainda aproveita a oportunidade para dar dicas. "Uma boa receita para um bom relacionamento é um bom sexo."

As frases tuitadas são conclusões a que ela chega após ler algum assunto específico
sobre sexo. Normalmente, as dicas são sobre corpo, micos, comida e como segurar o orgasmo. "Censura é palhaçada. Sexo tem que tá na escola."

O mais famoso e a hora em que todos os seguidores sexuais de Joana ficam atentos é quando ela puxa o Cavalo de fogo, que é a cavalgada, o esquenta da relação. "E te digo mais: na hora do sexo mulher não gosta de beijo na boca. É o único momento que a mulher despreza. A mulher faz sexo porque consegue fazer sem se excitar, o homem faz amor porque só faz se estiver excitado."

Mesmo com o engajamento e a sagacidade em falar do assunto, Joana afirma: "Domino, mas não faço. Eu faço esses blocos no twitter, mas não quero deixar isso em muita evidência porque não quero abrir mão de outras coisas. Eu gosto de atuar. A vida é uma atuação. Todo dia você atua. Atuar não é mentir. É atuar", conclui.

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