Quem tem um sonho não dança

terça-feira, 19 de abril de 2011

por Leandro Oliveira de Aguiar


O sonho é uma palavra que possui significados distintos, porém é sempre um substantivo que nos remete a algo longe, inalcançável. ”Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?", pergunta uma famosa música do grupo Skank. Para inúmeros jovens, é um doce momento de devaneio para esquecer as injustiças de nosso país, que cultiva as maiores desigualdades sociais ao mesmo tempo que se autointitula o “pais do futebol”, ingredientes perfeitos para encher o mercado europeu e mundial de craques.

Estádios lotados, torcidas ensandecidas, glamour, fama e mulheres bonitas! Realmente mexem com a cabeça de qualquer mortal , mas o caminho para chegar a esse glamour não é nada fácil e esconde uma verdadeira maratona de sangue, suor e lágrimas. As famosas peneiras são um exemplo do tortuoso caminho, pois nada mais são do que um processo seletivo em que os clubes de futebol de maior ou menor porte organizam jogos e testes para descobrir novos talentos para as chamadas categorais de base.



Acordar cedo, respirar fundo e pegar um colete avulso para entrar em campo com o peso de tentar mudar seu destino: um passe errado, uma jogada que não dê certo, pode custar a boa impressão do olheiro; um chute a gol ou um drible que não for bem executado pode ser mais frustrante psicologicamente do que perder um pênalti na final da Copa do Mundo. “Já tentei uma vaga no Madureira e no Flamengo", conta Jonatas Henrique, morador do Jacarezinho. "São vários testes e sonho ser federado , mas sinceramente nesse meio tem muito peixe, coisas podres e empresários que indicam jogadores.”

Geralmente a notícia se espalha e dezenas de jovens dos mais variados lugares se encontram para ir atrás do seu espaço ao sol, geralmente depois de pagar uma salgada taxa de inscrição. “Já deixei de sair num final de semana com a minha namorada pra poder economizar a grana", conta o estudante Felipe Medeiros, um jovem de 18 anos que ainda sonha com uma vida no futebol. "São pessoas de todos os lugares, como Baixada Fluminense e até de outros estados. È muito difícil, mas não vou desistir, pois quem tem um sonho não dança.“

Pedro Henrique Braga, 21 anos, conhecido como Pedro Carioca nos campos de futebol, é mais um exemplo de um desses caudilhos da bola. Morador do Cachambi, na Zona Norte carioca, e de classe media , ele chegou a sentir o gostinho que tantos jovens almejam nesse cruel vestibular . “Joguei no juvenil do Fluminense, juniores do Botafogo e cheguei no profissional no Vila Nova. No profissional, cheguei a disputar uma semifinal contra o Goiás com 20 mil pessoas gritando o meu nome", orgulha-se ele, que guarda um DVD com as imagens do seu dia de glória.

Da época que se profissionalizou, guarda lembranças para todo o sempre, como a experiência de jogar com Túlio Maravilha, que via quando moleque e na época ainda buscava o gol 800 da sua carreira. “Ele é bom, fazia gol pra cacete, foi muito doido eu jogar com o cara que via pela TV quando criança.”

Sua história de vida, porém, demonstra que a pior peleja só começa quando você está dentro do sistema. “Desisti porque me senti enganado pelo meu empresário. Não via minha família e amigos aqui no Rio havia um ano. Tive duas propostas. Optei por voltar para o juniores do Botafogo, pois estava com saudades de todos aqui e me ferrei. Meu empresário me largou de mão e acabei discutindo com o diretor“, conta o hoje estudante de administração da Univercidade, que nos faz rever a imagem de “bom vivant“ que temos dos profissionais da bola quando ligamos nossas televisões nas tardes de domingo.

1 Comentários:

Dine Estela disse...

Lendo sua exelente matéria, Leandro. A gente percebe como ainda falta incentivo ao esporte num país que foi escolhido para ser a sede da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016. Não nos faltam apenas arenas belas nem estádios com rampa de acesso ou glamour, nos falta incentivo ao "sonhador" que ainda treina descalço e com fome.

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