Retratos da vida

terça-feira, 5 de abril de 2011

por Fernando Fonseca

Alegrias, tristezas, lembranças, memórias e nomes. Conquistas, idades, valores, significados e pensamentos. Tantas coisas perdidas, esquecidas ou ocultas em uma fotografia. Momentos registrados aos quais jamais serão contados em sua totalidade por quem os presencia. Contudo, estão ali, prestes a serem decifrados, relembrados, interpretados. É neste mundo de interpretações que vive Carlos da Silva Rodrigues.

Folclórico personagem de Nova Iguaçu, fotógrafo há mais de trinta anos, Carlos é funcionário da mais conhecida loja de fotografias de Comendador Soares, em Nova Iguaçu, a Loja Objetiva. Nascido e criado em nosso município, nosso personagem carrega em seu rosto e em seu discurso as marcas do peso e da paixão de se viver no mirabolante mundo da fotografia, em pleno século XXI. “Trabalho aqui há mais de cinco anos e, há três, trabalho com câmera digital. Os recursos da câmera digital são melhores, sem dúvida, entretanto, mudanças nunca são simples. Trabalhamos, especialmente, com fotos 3x4 e venda de películas para câmera fotográfica analógica”.


Desgarrado das lembranças de um passado em que, para se obter algumas poucas fotos 3x4, levavam-se dias. Carlos diz alegremente que hoje se leva no máximo 24 horas para a obtenção do mesmo. “Antigamente, com os filmes em negativo, era preciso esperar completar o filme inteiro para podermos enfim revelá-los. Se o filme tivesse doze poses, tínhamos que esperar que 12 clientes viessem nos procurar pra tirar fotos para que não tivéssemos prejuízo. Agora, todos os dias nós mandamos os negativos para revelação, já que este serviço é terceirizado, e entregamos as fotografias no outro dia”, explica. Mas, como diz o ditado, nem só de alegrias vive o homem. Pois, apesar das facilidades criadas com o advento das câmeras fotográficas digitais, outros fatores tornaram o trabalho com fotografias bastante complexo. “Hoje em dia, o trabalho com negativos é uma arte pouquíssimo procurada. Temos grande demanda em janeiro e fevereiro, por conta das fotografias 3x4 exigidas nas escolas, para serem colocadas nas cadernetas escolares. Inclusive este é o nosso maior público, os estudantes. No restante do ano somos procurados para tirarmos fotos para documentação. Mas, a procura não é tão grande."

Lembrancinhas
Todavia, nem sempre a carreira de Carlos caminhou sobre as estradas da incerteza. Na parte talvez mais bela de sua trajetória fotográfica contemplamos uma analógica e bela origem artística rumo à mimesis de um mundo fotográfico digital. “Eu nasci respirando fotografia. Trabalhei junto ao meu pai, senhor Jandir Pinheiro
Rodrigues, brilhante fotógrafo, numa empresa iguaçuana de fotografia chamada Foto Palácio, da qual meu pai era dono. Com isso, posso resumir, brevemente, a minha introdução a esse ramo. Há cinquenta anos, só havia quatro empresas que trabalhavam com fotografia em Nova Iguaçu: Foto Palácio, do meu pai, Foto Marilice, de uma família de Nova Iguaçu, Foto Nakay, de uma família japonesa, e Foto Sereso, de uma família espanhola. Todos nós trabalhávamos apenas com fotografias em preto-e-branco e o mercado era muito mais abrangente. Com o tempo, fui tornando-me cada vez mais íntimo do mundo fotográfico. Havia estúdios onde todos os familiares iam tirar fotos juntos em cabines fotográficas. Tinham as lembrançinhas de
aniversário, batizado e diversas outras coisas que foram sendo deixadas pra trás com o tempo. Em 1983 ganhei o prêmio de melhor fotógrafo do ano de Nova Iguaçu. Herdei todas as ferramentas do meu
pai, que faleceu há algum tempo. Já trabalhei em outros lugares, fotografando tudo que era possível. Hoje trabalho somente aqui”.

O fotógrafo enumera os pontos positivos e negativos de se trabalhar em uma loja afastada do centro comercial da cidade. “O bom de trabalhar aqui é que não há concorrência, tanto é que sou bem conhecido. O ruim é que, como essa é uma atividade supérflua e nosso serviço é pouco utilizado, não somos tão procurados.” Olhos que captam, dedos que gravam, luzes que revelam. Uma revelação em parte, claro, porém, capaz de cristalizar momentos únicos e, na grande maioria das vezes, singelos que ficarão para sempre à disposição de quem os puder ver. Um mundo mágico de cores, tamanhos e formatos localizado na Rua Ângelo Gregório, nº 50, Comendador Soares – NI.

2 Comentários:

Julio Ludemir disse...

bela matéria, poética até. só não ficou perfeita por causa da ausência de fotos.

Hosana Souza disse...

Tenho cada dia mais orgulho de você

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