Saudade do que ainda não foi

quinta-feira, 28 de abril de 2011

por Dandara Guerra


Foi em uma  quinta-feira, no dia  9 de  dezembro de 1992,  mais precisamente à meia-noite que a professora Aline dos Reis sentiu as primeiras contrações do parto. A placenta se desfazia em uma espécie de parto seco, sem que saísse água, apenas uma quantidade mínima de sangue.  Ela saiu correndo para a maternidade São José, em São João de Meriti com o pressentimento de que perderia seu bebê. Esse pressentimento durou os três dias que passou na sala de pré-parto, ouvindo as orações de uma irmã da Assembleia de Deus.

Era noite de lua cheia quando no dia 11, às 21h35min, nascia o bebê Luiz Gabriel Martins, no embalo do som de Lover Why , da banda Century. Parece estranho, mas é  verdade. Na sala do parto, os médicos trabalhavam ao som de um rádio de pilha permanentemente sintonizada na 98 FM.  Foi com alívio que sua mãe tateou o corpo do bebê, certificando-se de que, apesar de todas as dificuldades do parta, dava à luz uma criança saudável. 

Aquela dúvida pairou no coração de Aline dos Reis desde o traumático assalto de que foi vítima em um ônibus, em que o bandido chegou a colocar a arma na sua cabeça. "Quase morremos", conta Luiz Gabriel, com base nas histórias ouvidas de sua mãe. "Graças ao bom Deus, isto não  aconteceu.” 

O nome do menino saiu de improviso no cartório, depois da lembrança de um trecho da música "Pais e Filhos", em que Renato Russo dizia que seu filho teria um nome bonito e de santo. "Meus pais gostavam da banda Legião Urbana", conta o jovem repórter. Seu Altamiro sugeriu Luiz, que significa lutador. E dona Aline escolheu Gabriel, o “anjo mensageiro enviado por Deus”. Para não ter briga, fizeram uma junção dos dois nomes.  Mas o nome que pegou mesmo foi Biel, dado pelos avós. 

Gabriel era um menino bastante travesso, que adorava fazer bagunça, correndo sem parar de um lado para outro nas mais variadas brincadeiras infantis: pique-gelo, pique-pega , pique-esconde e claro que não poderia  faltar “aquela brincadeira de beijar”. Seu primeiro beijo foi em Thayane Hatakeyana, menina  de descendência japonesa. “Eu tinha dez anos, me recordo como se fosse hoje, estávamos em frente ao portão de casa juntos com Lucas, Lohane e os demais amigos. Usávamos uma venda para tampar os olhos, mas pedi para um dos meus companheiros que me avisasse quando fosse a vez dela e escolhi a melhor opção da brincadeira, a famosa salada mista.”

A paixão pela música veio desde o ventre, das mãos  suaves de dona  Aline, que cantarolava ao acariciar a barriga. "O apego pelos sons  só fez aumentar com o passar dos anos", conta Gabriel, que no início da adolescência começou a frequentar os grupos de dança da igreja São Sebastião.  “Descobri  o sentido real da dança em minha vida e sofri muito quando tive que sair, por falta de tempo”, lamenta Biel, que hoje faz funk, axé e às vezes forró na academia Sagetch. 

Luiz Gabriel faz o tipo eclético, que gosta de Gilberto Gil a Ivete Sangalo. “Curto de tudo um pouco". O jeito extrovertido cativa as pessoas, que não param de ligar para seu celular convidando-o para tomar umas e outras nas mais diversas tribos.  “Como já tenho 18  anos  e adoro uma festa, vou para  aonde tem movimento, pessoas, agitação,  independentemente de qual  for o lugar", diz ele, que gosta de ser cabeça aberta.
                                  É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem.
A maioridade também lhe serviu para fazer uma tatuagem no ombro direito, com a figura de uma clave do sol confirmando seu amor pela música. “Fiz em de dezembro do ano passado, quando completei 18 anos.” Um dos momentos mais sofridos foi a morte de seu avô, um estivador do cais do porto, no Centro do Rio de Janeiro, um homem que vivia para trabalhar e fazer a felicidade do neto querido. “Ninguém imaginava que  um homem como meu avô, tão ativo, sofreria um derrame", conta Luiz Gabriel para quem foi horrível ver Altamiro Martins entrevado na cama.

Nada foi pior, no entanto, do que "a sensação de perda total" com a evolução do quadro para o óbito. “Foi como se tivessem arrancado um grande pedaço de mim", diz ele, que quando voltou do velório chorou como se a vida tivesse perdido todo o sentido. O neto tem certeza de que, esteja onde estiver, o avô continua a protegê-lo, a querer o seu bem. "Ele sempre será minha inspiração”. Foi o avô que o incentivou a ter o desejo de fazer uma faculdade. “Nada é fácil, sei disso, mas mesmo assim entrarei em uma faculdade pública, estudarei muito,  farei turismo e terei  um futuro promissor”. 

Sua primeira matéria no projeto foi “Cuidado com as pessoas“. Ainda hoje se lembra do nervosismo que tomou conta dele durante a produção da primeira matéria. Mas não se arrepende por ter insistido. “Nossa, aprendi tanta coisa com esta galera, construí uma rede de contato. Sentirei falta quando tiver que deixar os amigos que fiz no projeto”, diz já sentindo saudade.
 

2 Comentários:

Hosana Souza disse...

Parabéns aos dois!

Anônimo disse...

Ficou bom, parabéns.
não conheço o gabriel mas me parace ser uma pessoa bacana.

Postar um comentário

 
 
 
 
Direitos Reservados © Cultura NI