Transfusão lo-fi

quinta-feira, 7 de abril de 2011

por Vitoria Tavares


No último sábado dia 2, no estúdio improvisado em um apartamento no Leblon, entre intervalos de gravação do disco da banda Cretina, conversei com um dos caras mais sacados da cena roque na Baixada Fluminense: Lê Almeida, rapaz de 26 anos, com muitas coisas a dizer sobre música, roque e discos. Lê, juntamente com uma galera, diga-se de passagem igualmente esperta, legal e sacada, criou em 2004 o selo independente Transfusão Noise Records, que foge de tudo que você vê no já desgastado mercado musical careta de domingo.

O selo foi idealizado, segundo o próprio Lê, “para criar uma identidade que pudesse representar as minhas bandas e as dos amigos”. Desde sempre, Lê acha o máximo a ideia de selo independente. "Achava superlegal quando lia em uma revista que o disco tal de banda tal era independente. Foi aí que tive a ideia de fazer o selo 'para nós mesmos'”. No início, era o próprio Lê quem gravava tudo, mas com o tempo o pessoal foi embarcando e formando o coletivo.



A Transfusão é uma gravadora que aposta na ideia de que é possível fazer um som de qualidade gravando em casa e com os equipamentos que se tem em mãos, sem que seja preciso depender de terceiros para gravar o som da turma. Inspirado no som lo-fi de bandas como Guided by Voices, Lê Almeida comanda um processo em que desde a gravação em fitas k7 até a finalização dos discos, tudo é feito coletivamente. Os custos são divididos e o esforço é geral para que no fim das contas o resultado dê positivo. E sempre dá. “Nós gravamos os discos em casa, mas com uma sonoridade muito boa. Nós não temos dinheiro e conseguimos fazer um som que ultrapassa muitas vezes o de quem tem grana e grava em estúdio. Esse é o ponto mais legal”, conta Lê Almeida.

A Transfusão Noise Records sempre está ao lado de tudo o que acontece de legal na Baixada. Em parceria com o pessoal da Geração Delírio (coletivo cultural conhecido por agitar a Baixada e o Rio com suas festas de roque), produziu eventos memoráveis, que impulsionam cada vez mais a produção musical da juventude fluminense do novo século.

Lê está pouco se lixando com a decadência do mercado de discos. A gravadora under aposta em formatos alternativos de mídia (os discos estão disponíveis para download no blog da Transfusão), deixando claro que a confecção de discos é algo simbólico. "O maior lucro das bandas vinculadas e da própria gravadora é o reconhecimento do público e a chance das bandas poderem deslanchar no universo musical", afirma o produtor. O selo independente é divulgado em redes sociais como Facebook e Myspace, que para Lê são um canal direto entre o coletivo da gravadora e o público. “Muita gente que compra o disco das bandas acaba se interessando e conhecendo mais do trabalho graças às redes sociais, assim como muita gente que conhece os projetos via redes sociais acaba se interessando e comprando os discos”.

Com roque de qualidade e capas de disco despretensiosamente únicas, não tem como o som gravado em casa pelo coletivo que é músico e ao mesmo tempo produtor, não sair do Brasil para o mundo: algumas bandas da Transfusão Noise Records já têm disco lançado em Londres via gravadoras vinculadas. A Transfusão mantém contato com uma galera brasileira que mora em Londres, que contribui para a divulgação do material da gravadora e também para o processo de gravação de vinis – outra aposta revigorante e nostalgicamente bonita.

Lê não acredita que a Baixada seja um lugar estéril para a produção musical e afirma que o preconceito da sociedade é vencido quando se faz algo de qualidade e se investe na divulgação do projeto. “Quanto ao preconceito da sociedade com o pessoal da Baixada, não posso falar de uma maneira geral, mas com relação às bandas que eu toco, eu vejo que essa barreira é vencida pelo fato de viajarmos muito e nos fazermos conhecer”, afirma o produtor, deixando claro que essa visão miserável da Baixada já era.


Para quem que se interessou pelo trabalho da Transfusão, vale a pena acompanhar a turnê do Lê Almeida com seu projeto Mono Maçã:

- 14/Abril @ Lomography (Ipanema-RJ)

- 21/Abril @ Container Club (SP)

- 22/Abril @ Urban Lounge (SP)

- 23/Abril @ Locomotiva Discos (SP)

- 29/Abril @ Teatro do SESI (Caxias-RJ)

- 14/Maio @ 22 Primaveras do André Medeiros (Juiz de Fora)

- 21/Maio @ Grito Roque (Valença)

- 26/Maio @ A Obra (BH)

- 11/Junho @ Casa do Mancha (SP)

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