Um apaixonado pela vida

domingo, 3 de abril de 2011

por Marcelle Abreu

6 de outubro de 1989. Nasce um bebê lindo e saudável e que recebe o nome de Joaquim Tavares Junior. Nome forte segundo sua mãe Suenin Tavares, além de ser o mesmo nome de seu pai, porém esse poderia ser trocado caso Joaquim não gostasse. Ele gostou e nunca teve problemas. “Fora a diretora do colégio onde estudava que cantava uma musiquinha que não me recordo muito bem e as pessoas que falavam que era nome de velho, nunca me importei. Respondia que ninguém nasce com 50 anos, não é verdade?", conta ele, hoje com 21 anos e dono de uma autoestima elevada de contagiar a todos ao seu redor.

Joaquim foi uma criança gordinha e que se destacava por sua inteligência, que lhe rendeu até umas boas palmadas. Aos dois anos, desenhou numa folha uma lata e ao lado escreveu LATA e logo tratou de chamar sua mãe para ver o feito, porém essa não acreditou que tivesse sido ele o responsável pelo desenho e muito mais ainda da associação do nome com objeto. Antes de pedir que refizesse, brigou com ele e lhe deu umas boas palmadas. “Ela perguntava quem havia feito e eu respondia que tinha sido eu, mas nada a fazia acreditar. Apanhei por isso e só depois que ela resolveu pedir que eu fizesse de novo que se orgulhou e me encheu de beijos. Ser inteligente nesse caso foi algo ruim”.



Ele, que aos dois anos e meio já estava na escolhinha, sempre foi curioso e meio autodidata. Sempre buscou o porquê das coisas e por ser preguiçoso tratava de fazer os deveres de casa em aula, para não precisar fazê-los ssim não teria tarefas para casa. “A professora ia ditando e eu já pensando na resposta. Assim teria mais tempo pra não fazer nada em casa. Preferia fazer tudo na escola mesmo”. Sua mãe, que é professora, dava aula particular para alguns de seus amigos, aqueles que tinham uma condição financeira melhor e podiam pagar uma explicadora. Como já havia feito o exercício, dava para ela corrigir o dos outros.

Como seu pai é caminhoneiro e sua mãe professora, às vezes tinha que ficar sozinho em casa, quando não, ia para a escola onde sua mãe lecionava. Quando ficava em casa poderia fazer bagunça, muita arte como toda criança faz, mas ele com, a forte personalidade que carrega até hoje, não o fazia. Sua paixão por origami nasce nessa época, por volta das seis anos de idade. No canal de tevê fechada chamado Discovery Kids, descobriu o mundo dos origamis, pois a cada intervalo era feito um. “Eu comecei a querer fazer também. Pegava uma folha de papel e ficava ali esperando o intervalo. Mas era rápido demais e eu não conseguia acompanhar e nunca repetia. Sempre um diferente do outro, mas isso só me instigava e eu queria ser tão rápido quanto eles e passava a tarde concentrado neles”.

Durão
O menino prodígio nem sempre foi adorável e amável. Até os 13 anos, Joaquim tinha o gênio durão e fechado do pai. Foi no ensino médio que muita coisa aconteceu. Começou a valorizar a vida e querer aproveitar cada momento e para isso precisava mudar o jeito que levava a vida e assim foi construindo o que é hoje: brincalhão, otimista e que apesar de tímido, conquista a todos ao seu redor.


Na verdade, sua timidez é um escudo. Como um libriano é uma pessoa observadora e não toma nenhuma decisão sem antes pensar bastante. Então, quando chega a algum lugar, chega de vagarzinho, na dele, e depois de garimpar o espaço se envolve por completo ou não.

Com 16 anos, termina o ensino médio, mas não vai à universidade ainda. Trabalha nos correios durante um ano e depois faz uma série de concursos, nos quais não se saiu bem. No estressado ano do vestibular, ele  não sabia ao certo o que escolher e por isso se inscreveu em diversos cursos. “Eu tentei vestibular para variados curso, entre eles estava Pedagogia na UERJ, que é onde estudo atualmente. Passei, mas não sabia como seria, mas fui e hoje não me vejo longe do curso. Mais uma vez minha personalidade fala mais alto, pois é um curso onde a maioria é mulher e nem por isso quis mudar”.

Separação dos pais
Nessa época passa por um choque. Seus pais, que já não estavam bem há um tempo se separam. Ele se viu sem chão. Já esperava por isso, mas não achava que tal dia chegaria e o mais surpreendente foi que quem o amparou nessa fase foi sua irmã Juliana, hoje com 13 anos. “A Ju tinha 10 anos quando tudo aconteceu e ela foi muito forte. Ela dizia: 'Junior, não fica assim não. A gente vai poder vê-lo quando a gente quiser' e falava pra eu não chorar. Tão nova e tão certa do que dizia”. Ambos ficaram com a mãe, mas têm uma boa relação com o pai.

A vida cada vez mais se mostrava única e que dependia dele fazê-la valer a pena. O torcedor vascaíno aprende que sempre há dois caminhos para se escolher: aquele da dor, onde você apenas sobrevive, e aquele que pode ser o mais difícil, porém você não se entrega e vai até o fim lutando contra tudo que lhe faz mal e assim segue vivendo e sendo feliz.

Joaquim, que é um apaixonado por futebol, sempre batia uma bola com os amigos, chegava a jogar quatro vezes na semana. Mas foi pego de surpresa. Um belo dia quando se reunia com os amigos, após o jogo se sentiu mal, uma forte dor de cabeça, e muita coisa estava por vir.

A dor perdurou por cinco dias e o médico constatou que estava com um sangramento no cérebro. Ele, que nunca foi de ficar doente, no máximo um resfriado por ano, estava por enfrentar algo que nunca imaginou.
As dores foram seguidas de dormência na face. Num domingo, quando havia feito uma prova, sentiu sua vista embaçar e logo perguntou a sua namorada se havia algo estranho em seus olhos. Sua pupila estava dilatada. Desde então fez muitas visitas ao hospital. A dor de cabeça foi amenizada, porém a dormência trocou de lugar. Se pegou não sentindo seu lado inferior, abaixo do umbigo não tinha mais sensibilidade. "Fiquei com medo de perder os movimentos e o pior era não saber o que tinha." A busca por hospitais atrás de uma resposta a que só teve acesso quando um tio soube da sua situação e o encaminhou para o Hospital da Posse. Para sua surpresa, eles tinham todos os equipamentos e profissionais preparados para tratar do seu caso.

Tudo começou em novembro de 2010 e desde então ele vem se submetendo a uma série de exames. Diversos profissionais do analisam e buscam uma resposta, mas a certeza do que houve ainda ninguém tem. "Acharam uma infecção na medula , mas o que causou e por que ninguém sabe responder", diz ele, que hoje ele está bem e saudável. Mas quem conversa com ele ou o vê andando pelas ruas de Nova Iguaçu que tanta ama e valoriza, nunca imaginaria que passou por tudo isso. "Pode ser algo que aconteceu, ou algo que vai voltar a acontecer, dizem os médicos".

Namorada não merece
Foram meses difíceis, mas seu amor pela vida e seu jeito de ser não permitiram que se abalasse. Teve a família, amigos e a namorada que tanto ama ao seu lado. Não se sentiu só. O único problema foi achar que eles não deviam sofrer por ele. Doía ver que todos ao seu redor sofriam com ele e essa foi a maior dificuldade. Chegou a pedir que sua namorada fosse viver a vida dela. “Claro que eu não estava feliz e na minha melhor fase, mas ver que todos estavam sofrendo por minha causa acabava comigo. Minha namorada ficava 24h comigo, passava dias lá em casa e ela como eu tem pais separados e eu falava que ela tinha que ir ver o pai, que tinha que dar continuidade à vida dela e quando pensei que ficaria tetraplégico, disse que nosso namoro terminaria ali. Já bastava pensar na minha mãe, ela não merecia isso. Seria difícil pra mim. Ia doer e muito, mas prefiro que doa em mim do que nela”, conta ele com a voz embargada.


Natália, sua namorada, foi um presente inesperado. Tudo começou por acaso, não foi nada planejado. "A gente estava no mesmo ambiente, mas só fui percebê-la no Enepe(Encontro Nacional dos Estudantes de Pedagogia), onde pudemos ter a oportunidade de conviver e dividir os momentos vividos durante o encontro." O início foi meio confuso, com alguns problemas ainda por resolver, porém algo mais forte os unia e cada dia que passava se viam mais apaixonados e fazendo planos. O relacionamento deles é muito tranqüilo, e o que mais valoriza é que antes que possam vir a brigar, sentam e conversam, evitando assim qualquer problema futuro. “A gente é conhecido como o casal mais fofo dentro da pedagogia”.

“Minha entrada na pedagogia foi logo percebida, no primeiro período meu nome já estava entre as pessoas mais conhecidas dentro do curso e eu já fazia parte do centro acadêmico”. Joaquim sempre foi muito ativo nesse setor e hoje não está mais de frente, porém muitos ainda se dirigem a ele como se fosse, pois continua opinando e lutando pelos propósitos.

Ele que tem uma matéria na faculdade chamada PPP (Pesquisa e Pratica Pedagógica), e que tem relação direta com a cultura, foi chamado a participar do Projeto Jovem Repórter. Fernando Fonseca, nosso querido repórter, estava trabalhando com sua mãe e teve a oportunidade de conhecê-lo. "Começamos então uma grande amizade." Fernando, que já estava no projeto o convidou a fazer parte do mesmo. Joaquim logo aceitou e quando se deparou com Julio Ludemir, nosso coordenador, o comparou com uma rocha, pois parecia bruto e frio. “Mas é só quando a gente não conhece. Eu e o Julio logo nos damos bem. Ele é uma pessoa maravilhosa e sensível. Tenta parecer sério, mas não é nem um pouco. Apesar de ser flamenguista, eu o admiro muito”.

Joaquim é um apaixonado declarado pela cidade de Nova Iguaçu, onde nasceu e mora até hoje e não pretender sair. “Minha namorada é de Vicente de Carvalho e a gente faz planos de casar. Já falei que a gente vai morar aqui”. Ele não sabe explicar o porquê desta paixão. “É como tentar explicar o amor, não tem como. A gente sente. É muito forte, mas na hora de explicar, faltam palavras”. Tanto é assim que pretende tatuar a bandeira da cidade, uma forma de homenageá-la. E tem mais. “Quero fazer algo por Nova Iguaçu, ser conhecido aqui, ganhar o reconhecimento das pessoas nas ruas e um dia chegarei a ser Secretario de Educação. Podem esperar”.

6 Comentários:

Ówn, que lindo.
Aindo tô com saudades do Joaquim... rs
Linda matéria, Marcelle.

Beijos. =)

Nathália disse...

Como namorada sou suspeita para falar, mas a matéria ficou ótima. Ele tem uma história linda e é realmente uma pessoa maravilhosa, um presente na minha vida.

Anônimo disse...

Ficou iraaaado!! Melhor ir fazer jornalismo ein, ia se dar bem !! RSs..
Beijos, Luma.

Monna disse...

muito legal, Joca! você merece mesmo reconhecimento por essa historia de vida.

Anônimo disse...

Vlw gent, obrigado pelo carinho. Obrigado tb pela matéria, Marcelle, ficou ótima! [o tema ajudou rs]

Bj grand p tds, fiquem com Deus e até amanhã! /\ ;)


Ass .: Joaquim

Hosana Souza disse...

Linda matéria! Parabéns ao Joaquim e a Marcelle

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