Filas da esperança

terça-feira, 24 de maio de 2011

por Leandro Oliveira de Aguiar


Certas coisas na vida são verdades inexoráveis. Não importando a classe social, credo ou religião em uma fila sempre existirá mães gritando com seus filhos para que parem de fazer bagunça. Foi o que mais se via no evento que ocorreu pela manha do último sábado, quando a Secretaria de Educação de Nova Iguaçu promoveu uma ação social no Colégio Monteiro Lobato com diversas atrações e serviços públicos. Nas filas para aplicação de flúor, com suas respectivas mães, filhos e gritos contavam pequenas histórias que não passaram despercebidas.

Apesar da batalha para seus rebentos acordarem, a gratificação com o dever cumprido acabou se tornando um prazer inenarrável para a dona de casa Maria Cândida. “Toda vez é um enorme problema porque as crianças são fogo.” Mas se a saúde começa pela boca, não tem jeito, vale de tudo. “Puxei a coberta e as joguei no banho pra acordarem logo. Meus filhos não são largados!”, exclama.

Se por um lado uma história triste pode nos fazer sentir pena alheia ou vergonha de nós mesmos por estarmos inquietos com nossos pequenos problemas, também nos servem de lição para entender que reclamar é uma arma. E o que dá contorno tão comovente a essa arma? É a verdade de que para algumas pessoas só resta ter apego no ato de reclamar.

É o que ensina a doméstica Maria Aparecida, moradora do KM 32, na Estrada de Madureira, que fica sempre atrás de algum evento parecido para tentar dar dignidade a seus netos. “Antigamente acordava às 4 horas da manhã com a minha mãe, que me levava com muito trabalho para conseguir alguma coisa parecida“, conta ela, que hoje faz um caminho parecido com seus netos e percebe com o déjà vu momentâneo que infelizmente está presa a uma incomoda transmigração social . “Obrigada. Estava precisando falar, nos últimos anos houve melhoras mas ainda necessitamos muito mais!” desabafa.


Se em certos momentos as reflexões podem soar ácidas demais, nada melhor que equilibrar com as doces projeções das crianças, projeções tão doces inclusive que nem o flúor pode combater. “Quero ser médica, sempre trato os meus dentes porque a boca é meu cartão de visitas, bem pelo menos é o que diz minha mãe!”, conta a estudante Fernanda Santos de 14 anos, que parece não se incomodar com as gargalhadas sádicas típica dos irmãos mais novos.

Talvez a maior perseverança seja a história do senhor Gilberto Teixeira da Silva , 78 anos e estagiário na área de saúde. "Poderia render uma ótima matéria", contou-me. Simpático não pensa duas vezes em repensar as caretices para a qual o mundo caminha. E sem qualquer medo de parecer piegas decreta que para ele projetos como esse são importante para demonstrar um humanismo que algumas vezes se perde de tempos em tempos nos processos administrativos "tecnocratas" que denomina e ironiza com humor. “O Lula é que reviveu esses projetos , não é à toa que ele e Getulio ficaram tão populares!” e ainda completa com a sua sabedoria Setuagenária . “Trabalhar com carinho ainda é a melhor alternativa. ”

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