Celebridades de mentirinha

quarta-feira, 1 de junho de 2011

por Lucas Xavier

Em janeiro de 2004, quando o Orkut foi criado, seu criador, Orkut Büyükkökten, imaginou um website de interação social, voltado para o público jovem, como uma forma de conhecer pessoas novas. Mas agora, em Junho de 2011, o Orkut desempenha um papel muito maior do que Büyükkökten poderia imaginar. Para muitas pessoas, a rede social se tornou um segundo mundo; uma segunda vida.

Em 2006, surgiram no Orkut os primeiros perfis fakes (Palavra vinda do inglês ‘falso’). As pessoas por detrás dos perfis afirmavam ser astros da música ou da televisão. Naquela época, até Daniel Radcliffe (ator que representa Harry Potter no cinema) tinha Orkut e falava português! Na descrição de seu profile, ele afirmava: “Estou aprendendo a falar português e quero tentar melhorá-lo com vocês!” Apesar de explicitamente falso, alguns acreditavam. Infelizmente, esse perfil foi excluído há alguns anos. O fake de Daniel Radcliffe foi apenas um dos muitos que faziam se passar por celebridades. Foi o início de uma tendência, que viraria febre.
Depois de algum tempo, algumas pessoas resolveram satirizar aquelas que se fingiam passar por outras pessoas. Criaram fakes, mas explicavam no perfil que eram donos de perfis falsos. O intuito desses usuários era brincar de ser alguém famoso, deixando claro que não o era. Com o passar do tempo, essa prática foi ganhando mais adeptos, e foi evoluindo de condição.

Em 2007, os fakes viraram um alterego de seus donos. O nome já não era, necessariamente, o nome de um artista. Eram nomes incomuns. “Ashley Yogurta”, “Zac Chocolati”, etc. O fake era uma brincadeira, e seus adeptos eram crianças de 8 a 13 anos. Os artistas mais utilizados como ‘avatares’ (um avatar era, basicamente, uma celebridade escolhida para ter suas fotos usadas nos perfis falsos) eram Zac Efron, Ashley Tisdale e Vanessa Hudgens, todos eles atores da trilogia musical ‘High School Musical’. Também eram comuns os avatares de Dulce Maria, Anahí e Poncho, da série de televisão ‘Rebelde’. Ainda nessa época, foram criadas comunidades no Orkut, destinadas a perfis falsos, em que fakes se conheciam e conversavam. Com toda essa integração, vieram os namoros. É comum, até hoje, ver que os profiles falsos namoram outros profiles. Foram criadas, até mesmo, famílias. Nas quais um era tio, outro era irmão, primo, etc. Uma verdadeira segunda vida.

Mas com o passar dos anos, o fake se desvinculou completamente de artistas famosos. Em 2009, mais uma evolução. Bastava encontrar a foto de alguém bonito, e usar como avatar. Os nomes também evoluíram, passando a ser nomes comuns. Miguel, Carlos, Maria, Juliana... Esses, muitas vezes, eram nomes que os donos dos perfis gostariam de ter, na vida real. Os adeptos de fake continuaram os mesmos. Porém, mais crescidos, aboliram os nomes surreais e as ‘famílias’. O namoro, contudo, continuava. A partir dessa época, aqueles que tinham nomes estranhos, ou que ainda construíam famílias, eram taxados de ‘capengas’. No fake, ou você era capenga (Ou seja, criava nomes estranhos e usava gírias consideradas antigas) ou você era pop. Os pops eram os remanescentes das primeiras ‘gerações’ do fake, mais crescidos. Os capengas eram novos, recém-introduzidos no complexo mundo virtual. As comunidades começaram a ficar enormes, com muitos membros. Entre elas, destacam-se: RPG Fake; West Fake; Balada Fake e Agência de Namoro Fake. Todas elas com mais de 50 mil membros.

De 2010 pra cá, o fake ficou mais adulto. Os nomes, agora, são nomes estrangeiros, com nome e sobrenome. Davis Morrison Federer; Agnes DiLaurentis; Rebecca Fairyrock; Julie Fellice são exemplos da seriedade que tomou conta do mundo fake. Os usuários de perfis assim têm entre 17 e 22 anos, e visitam comunidades alternativas, destinadas a fakes mais cults, como: Fake Head, Ablenkung Fake, Anacronismo Fake, Asgard Fake e Rapture Fake. Todas essas comunidades mal passam dos 100 membros, mas são bem movimentadas e frequentadas por pessoas ‘mais sérias’.

Em contrapartida, ainda existem os fakes com nomes comuns, que visitam as grandes comunidades. Esses, antes pops, são os novos capengas para a ‘elite’ do fake’, representada no parágrafo acima.

Estima-se que existem, hoje, mais de um milhão de fakes, divididos em diversas comunidades. A relação é tão absurda entre estes, que alguns relacionamentos ultrapassam a virtualidade e chegam até o mundo real. Não é incomum conhecer um casal que se conheceu através de perfis falsos. Agora, o que antes era um universo completamente independente, se une com o que é real.

OFF’S
Os fakes usam a palavra OFF (Palavra vinda do inglês ‘desligado’), para representar seus donos(A idéia é: O fake sou eu. O OFF é quem me controla). Por exemplo: “Meu off vai ali almoçar”, “Meu off tem que estudar”, etc.


AÇÕES
Fakes se beijam. Fakes se abraçam. E, de uns tempos pra cá, fakes chegam a fazer sexo! Tudo por meio de ‘ações’, nas quais o fake diz o que está fazendo no momento. Geralmente, usa-se um asterisco ou um hífen, antes de se iniciar as ações. Exemplo: “- Olho pra você, sento do teu lado, ponho uma mão na tua cintura.”. No início, as ações costumavam ser pequenas e diretas (- Olho pra você, me aproximo, te beijo). Mas agora, evoluíram e estão extensas e detalhadas (- Olho pra você, reparo nas curvas do seu corpo e me aproximo lentamente enquanto sorrio timidamente...). O que pode ser cômico para alguns, é uma prática normal do universo fake.


DOAÇÕES
Existem alguns perfis falsos que se destinam apenas a doar fotos para outros fakes usarem. São as chamadas “Doações”. É comum que um fake tenha uma ou duas doações adicionadas nos amigos.

1 Comentários:

Pedro Felipe Araujo disse...

Isso pode ser um perigo. Não vale a pena viver sonhando e esquecer de viver

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