Rei por dois meses

sexta-feira, 3 de junho de 2011

por Josy Antunes


Da Central do Brasil até a Candelária, seguindo pela Avenida Presidente Vargas, existem cerca de oito vendedores de tapioca. Cada vendedor trabalha atrás de um carrinho de alumínio, adesivado com variadas possibilidades de sabores e preços, que geralmente vão de R$2,50 a R$4,50. Com o menor valor, compram-se sabores tradicionais como presunto com queijo. O mais caro oferece carne seca ou peculiares misturas doces.

Os vendedores de tapioca competem com os carrinhos de amendoín torrado, batata frita e churros. Alguns "tapioqueiros" fazem pequenas mutações em seus carrinhos, de forma a dividir espaço com outro tipo de alimento. É comum ver carrinhos de tapioca/churros, por exemplo. Com o cair da tarde, todos os ambulantes competem ainda com a cerveja com karaokê dos botecos. O desafio da massa de trabalhadores que ruma para a Central é chegar ao seu destino sem ser vencida pelas doces e salgadas tentações.


O rei da tapioca se chama Mauro, está na faixa dos 50 anos, usa roupa jovem e barba cerrada branca. Ele é conhecido pelo apelido "Russo" ou como "o vendedor de tapiocas que usa correntes prateadas penduradas no pescoço". As correntes carregam dois pingentes: A letra "R", inicial de Russo, e a imagem de São Jorge, alvo de sua devoção.

Dois segredos fizeram com que o aniversário de terceiro ano do ponto do Russo fosse possível: a forma como trata os fregueses e o tempero especial e exclusivo que põe nos recheios de frango e de carne seca. "Às vezes, eu trago bombons pra distribuir aos meus clientes. Eles colaboram comigo e eu agrado eles", conta Russo, enquanto prepara - com todo carinho - uma tapioca de queijo coalho com orégano e outra de doce de leite.

O ponto sob uma grande marquise, próxima à rua Uruguaiana, foi cuidadosamente escolhido. Tanto pela marquise quanto pelo público. "Em dia de pouco movimento, vendo 30 tapiocas. Em dia de movimento grande, vendo 60". A renda gerada no pequeno negócio lhe garante o necessário para pagar seu aluguel e viver bem. Há 3 anos e 30 dias, Russo se encontrava desempregado, mesmo tendo uma grande bagagem como vendedor e vigia. Recebeu o auxílio de quem hoje considera ser seu grande amigo: o responsável pelo empréstimo da carroça e por ceder um quarto em sua própria casa, para que morasse nos tempos difíceis. "Eu sou grato a ele por ter me ensinado a fazer tapioca e por estar onde estou hoje", declara Russo.

O prato nordestino, contraditoriamente preparado por um carioca, leva em média 5 minutos pra ficar pronto. Os recheios são armazenados em potes plásticos com tampas coloridas, que ficam ao lado da chapa. Quando surge alguma indecisão em relação ao sabor, Russo deposita um bocado de um dos três tipos de queijos na mão do freguês.

O Rei da Tapioca garante que o trabalho que exerce é melhor do que ter carteira assinada, além de lhe permitir fazer "mais amigos do que havia feito na vida toda". O futuro, no entanto, o remete a uma preocupação: a insegurança constante oriunda de uma possível proibição do comércio informal, que, segundo circula na Presidente Vargas, está marcada para daqui a dois meses.

2 Comentários:

Hosana Souza disse...

curto e lindo.. estavamos com saudades ;)

Déh disse...

Faço minhas as palavras da Hosana.

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