A revolta dos cabaços

domingo, 3 de julho de 2011

por Lucas Xavier

Malditas sejam as pressões da vida de um rapaz. Maldito seja o camarada que inventou que, de mês em mês, ou semana em semana, um homem precisa estar com alguma menina. Nem que seja algo bem informal, ele simplesmente precisa estar dando uns beijos. Ou, quem sabe, dependendo da menina e do tempo de relação, até algo além de beijos. “Na verdade, o importante é não ser cabaço”, explica Lucas de Souza Fragoso, um rapaz com 17 anos de uma notável lábia.


O cabaço, um adjetivo tão simbólico. Mas o que faz de alguém um cabaço? Ora, é bastante simples. Fique por mais de um mês sozinho, sem nenhum tipo de relação amorosa, e você já é digno de possuir tal título. O grupo de amigos Leonardo Ribeiro, Lucas de Souza e Matheus Tonelli chega ao ponto de estabelecer variações à palavra. “Se você fica um mês sem pegar ninguém, você é “cabaçoide”. Se fica dois meses, é cabaço. Se fica três meses, é cabação. De quatro meses pra cima, você vira virgem de novo”, continua Lucas de Souza, entre risadas e explicações.

Entre essas horrendas classificações, existem prendas que os rapazes se sujeitam a pagar, caso extrapolem o “limite de solidão” permitido. “Eu sou o que mais sofre aqui por causa disso! Fiquei dois meses sem pegar ninguém e tive que pagar os cinco reais da aposta que nós fizemos”, conta Leonardo. A aposta era: se ficar mais de dois meses sem pegar nenhuma menina tem que pagar cinco reais, se ficar por três meses, mais cinco, e assim por diante.

Tudo que é ruim sempre pode piorar. Kenji Hashimoto é um garoto comum, vai à escola, tem muitos amigos, gosta de videogames e televisão. Mas sofre do gravíssimo problema, nunca conseguiu uma menina na vida. Nem que para uns beijinhos rápidos. 18 anos sem nunca ter se aproximado do sexo oposto. “Eu também não tento muito. Se eu tentasse, com certeza já teria pego alguma”, defende-se Kenji das gozações.

É claro, Kenji. Nós sabemos... O problema é que nem todos entendem a situação crítica em que se encontra. “Em todo aniversário dele, eu falo: ‘Mais um ano na seca, hein?!’ Acho que ele já se acostumou com isso. Mas é muito bom zoá-lo mesmo assim!”, diz rindo Marcus Vinícius, 18, dando em seguida um abraço de consolação em Kenji.

A realidade brutal é que por mais que se tente alguns nasceram com a lábia natural e outros apenas empurram com a barriga, na tentativa quase vã de não serem chamados da tão simbólica palavra: Cabaço. Na verdade, a situação é tão grave em alguns casos, que há quem tente pegar aquela menina menos bonita, apenas para tirar o atraso. “Nossa, já peguei muita mulher feia!”, diz Matheus Tonelli, sendo menos sutil, “Não é sempre que eu consigo pegar uma gostosa, né? E eu não posso bobear, para não pagar a aposta. Por isso, de vez em quando sou obrigado a encarar algumas feinhas”.

De qualquer forma, essa Seleção Natural que ocorre entre os grupos masculinos faz vítimas dignas de serem tratadas por bullying. Aproveitando essa onda do politicamente correto pela qual o mundo passa, fica uma bandeira como marca de resistência: A revolta dos cabaços há de acontecer.

6 Comentários:

Wanderson Duke disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Wanderson Duke disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marilia Xavier disse...

Num mundo cabaço resta a possibilidade de um sonho ainda não vivido, de uma esperança que parece eterna e que nutre o inconsciente de possibilidades. A questão é: O que pode reservar a minha próxima experiência? O que dela poderei tirar para me tornar um verdadeiro homem?
Um texto como esse nos faz acreditar que o ser humano pode ter muito mais possibilidades do que a realidade imediata nos mostra. E nos faz acreditar que nossas limitações podem ser temporárias e por vezes necessárias para o nosso pleno desenvolvimento pessoal.
Obrigado Lucas por nos lembrar disso.

Raize Souza disse...

Cabaço é quem pega qualquer uma só pra dizer que ficou. Pronto falei! kkkk

Anônimo disse...

Cara, você recortou muito bem seu tema...Já pensei em escrever sobre isso, mas você o fez muito bacanamente. Eu,com certeza dramatizaria a situação...hahaha. Na verdade é sim um drama,mesmo eu tendo relativa facilidade em falar uma gracinha pra uma feiosa numa festa, entendo que existe uma necessidade social quase animalesca em fazer com que isso seja uma obrigação.

Aguardo a revolta dos cabaços!



ABRAHÃO ANDRADE

Dandara disse...

gostei, muito.

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