Rodas de protesto

quinta-feira, 14 de julho de 2011

por Leandro Oliveira




Protestar é uma atividade sagrada feita para que qualquer cidadão que se sinta no direito de colocar a boca no trombone e consiga expressar uma opinião que esteja entalada na garganta. E com esse direito em que não se pode profanar é que a tribo dos skatistas se organiza há alguns anos para realizar uma série de protestos que a cada dia toma mais corpo.

Com suas pranchas de rodinhas debaixo do braço, as quais reverenciam como uma “bíblia”, se unem contra a truculência de policiais militares no embates sobre a utilização da praça XV na cidade do Rio de Janeiro para fins poliesportivos. “Todos temos lugar ao sol”, brinca o vendedor Araujo Menezes, que sofre com as poucas opções para os praticantes em todo o estado.

A Praça XV virou um ponto de encontro e eles acontecem desde a década de 90.  A prática aos fins de semana virou uma cena clássica do skate carioca. Com o tempo, não só na cidade, mas como em todo Grande Rio e até o país, acabou virando o epicentro de toda a discussão sobre o direito de ir e vir. A cena da cultura underground está sendo ameaçada há alguns anos por uma liminar que proíbe a prática do esporte no lugar.
O argumento alegado inclui depredação de patrimônio público e incômodo aos pedestres que passam diariamente pelo local. O templo do skate no Rio de Janeiro agora  não pode ser mais utilizada por pressões reacionárias e sem fundamento como explica o estudante Antonio Medeiros: “O sol nasceu para todos. Nos fins de semana nós não deixamos o lugar ficar deserto e mal freqüentado. Vem gente da baixada, gente da zona sul e norte; é um local democrático”, reivindica o estudante Marcus Oliveira.

No mês de junho ocorreram protestos que passaram pelo Aterro do Flamengo até a Praça XV. Os protestos atraem alguns artistas como a atriz Cissa Guimarães que perdeu seu filho praticando o esporte de forma irregular e acabou virando madrinha do movimento. Estrategicamente, vem junto ou perto da data do dia mundial do skatista no dia 21 de junho, onde pipocam manifestações por todo Brasil e se arrastam pelos meses seguintes.

Perseguição
Alguns praticantes insistem que a perseguição beira à implicância como conta o grafiteiro Daniel Mesquita. “Existe um vídeo na internet em que um policial militar esqueceu de ir atrás de uma assaltante para ir atrás de um  skatista”, conta o jovem que participou dos protesto em 2007 e 2008. “A mulher e todos que estavam ali ficaram atônitos”, afirma com indignação.
 

O ideal que orienta a todos os participantes trouxe um sentimento de unidade a qual, para eles, vale a pena levantar o pavilhão da suas reivindicações. “Uma vez eu e mais dezenas de pessoas combinamos de ir juntos com nossos skates, assim os guardas não poderiam e nem teriam como nos prender a todos unidos.” conta o técnico em eletrônica Ronaldo Silvério, adepto do protesto com certo charme de desobediência civil para fins pacíficos. “Não esqueço a cara do guarda bufando de raiva sem conseguir tomar o skate de todos nós”, relembra com um enorme sorriso no rosto.

Para muitas pessoas influenciadas, essa é uma batalha mesquinha comparada com alguns problemas na cidade. O protesto pretende atingir esse público influenciado com a onda do “politicamente correto”. “Queremos ter um lugar para praticar nosso esporte. O skate é um esporte marginal, no bom sentido da palavra, por estar ligado aos jovens e guetos. Mais somos todos gente de bem e trabalhadora”, é o que pondera o professor de história Flávio Fernando para os governantes e seus grosseiros choques de ordens e abuso de autoridade.

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