Inimigos nacionais

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

por Lucas Xavier Cavalcante


“Odeio o sotaque, odeio samba, odeio funk, odeio calor e odeio praia... Ou seja, odeio tudo que lembre o Rio de Janeiro”. Essa é a opinião de Rodrigo Alt, paulista avesso ao Rio.  Rodrigo nasceu e cresceu em Campinas, no interior de SP, e tem pavor do mínimo semblante do Pão de Açúcar. 

O caso de Rodrigo não é único. A rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo é antiga, mas vem se confirmando cada vez mais na internet.  “Conheço muitos paulistas, são todos uns lerdões”, diz o carioca João Paulo. “Eis a verdade absoluta entre Rio e São Paulo: carioca manda, paulista obedece. Como já diria o velho samba: malandro é malandro, mané é mané. ”


A rivalidade por vezes cômica pode se transformar em algo realmente sério. Este é o caso de Rodrigo Alt, que alega que o desgosto pelos cariocas não é à toa. “Eu morei durante um ano no Rio e o povo de lá é muito marrento, acha que é melhor que os outros. Zoavam comigo, rabiscavam minhas coisas e só não me bateram porque eu nunca dei oportunidade. Tudo só porque nasci em Campinas.”

Segundo João Paulo, o caso de Rodrigo é isolado. “Não dá pra julgar um povo inteiro por um grupo de moleques. É claro que rola brincadeira, mas isso é natural. Também brincavam comigo, imitavam meu sotaque e me chamavam de ‘playboy’. Mas eu sempre levei na esportiva”, conta João Paulo, que trabalhou por seis meses na cidade de São Paulo.
Rodrigo e João, por mais radicais que sejam na defesa de seu estado, são amigos de internet.  Ambos visitam frequentemente uma comunidade do Orkut, destinada a rivalidade Rio de Janeiro X São Paulo. Segundo João, é uma forma de descontração, de brincar com as qualidades de um estado e os defeitos de outro. Segundo Rodrigo, é uma forma de ‘acabar com a marra dos fluminenses’. 

“Sempre que um carioca vem de moral comigo, eu pergunto: dá licença, a sua cidade é uma metrópole nacional? É o centro da economia brasileira?” Diz Rodrigo, sem esconder o orgulho de sua terra natal. Ele continua: “Podemos ter problemas, mas todas as inovações tecnológicas vêm pra cá. Todo o resto do Brasil caminha nas costas do nosso estado.” 

João é menos político em sua resposta: “Nós temos Olimpíada, final de Copa do Mundo, uma das maravilhas do mundo e as praias e mulheres mais bonitas do planeta. Por mim, você pode continuar com seu lindo pólo brasileiro, só deixe a Cidade Maravilhosa continuar sendo maravilhosa”.

Uma coisa, porém, une os dois estados. De certo modo, paulistas e cariocas compartilham de um deboche mútuo aos nordestinos. “Pra mim, quem nasce no nordeste é nordestino. Agora, quem nasce no nordeste e vem pra São Paulo trabalhar de garçom é baiano.” Diz Rodrigo, num comentário um pouco ácido demais.

“A Paraíba, na visão carioca, corresponde ao nordeste, ao norte, ao centro-oeste e a Minas Gerais. Tudo aquilo ali, pelo menos pra mim, é a Paraíba”, assume João, que apesar do claro tom de provocação, não recua: “E tem muito Paraíba por aí nascido no Sudeste! Aqui no Rio, Paraíba é quem joga pelada de chinelo, quem vai pra praia e não entra no mar, etc. Ou seja, Paraíba é aquele sujeito que geralmente faz as coisas erradas”.

A parte engraçada é que os dois rapazes não se consideram preconceituosos, mas julgam, na verdade, o outro estado como intolerante. “Em São Paulo a coisa é bem pior”, diz João. “Lá tem aqueles neonazistas, os skinheads, etc. Esses grupos são muito intolerantes com os nordestinos, às vezes chegam a agredir fisicamente. Aqui no Rio não, nada sai da brincadeira”. Rodrigo, porém, tem outra opinião: “Os cariocas não suportam nordestinos. Fingem que gostam, mas ninguém nunca viu um carioca falar bem do nordeste. 

Geralmente, têm pena de quem nasce lá, falam coisas como: “Ah, você é nordestino? Poxa, mas pelo menos é inteligente” E esse pra mim é o pior tipo de preconceito. Eu morei lá, sei exatamente como é.”
A rivalidade entre Rio e São Paulo, começada não se sabe quando, não parece terminar. É cada vez mais fácil encontrar pessoas nascidas nesses dois estados que defendem com unhas e dentes sua terra natal. A brincadeira que por vezes vira bullying, passa dos limites da região Sudeste e atinge todo o resto do Brasil, num orgulho típico de torcedores fanáticos. 

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