O jovem frente à cultura bipolar carioca

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

por Vitória Tavares










Ao sair na rua você se liga que isso tudo é a América do Sul: os bares, a guerra civil e o calor. É aí que você entende que o sentimento é mais forte que qualquer barato.
É complicado se encontrar como pensante nas questões sociais que envolvem viver no Rio. Vai além de sentir diariamente a miséria na pele – apesar de isso já ser mais que o bastante. É quase ter que escolher um lado: a polícia ou a guerrilha para militar, que já se tornou fatalmente ideológica. É um questionamento que envolve o jovem de uma maneira única. O funk, as drogas, a cultura marginal em suma... e aí?
Em uma rápida troca de ideias com alguns jovens, percebe-se que as opiniões sobre a marginalia X maquiagem social carioca revelam um fator em comum: a cultura da violência. 
“O mundo das comunidades envolve de fato as drogas e a glamorização do crime. O cara da classe média pode se sentir tão atraído quanto um cara da favela pela marginalidade. A cultura da violência existe e está presente no nosso dia-a-dia; o cara pode se virar e tirar o proveito saudável da dela, por meio de expressão cultural e etc...Mas o que mais acontece é polarizar a cultura da violência: ou se tornar Policial Militar ou ir pro morro e conquistar seu breve espaço.” - expõe Igor de Assis, 26 anos, músico.
Quanto a glamorização do tráfico, Dannis Heringer, 20 anos, agitadora cultural, pensa que tudo está muito próximo para não se entender: “Acho que os jovens deixam se envolver com questões que tem um poder emblemático muito forte. É muito difícil se soltar da realidade, porque a nossa realidade é a mesclagem. Aqui na baixada você vê uma casa legal, de rico mesmo, com uma boca de fumo na esquina. É tudo muito próximo, as questões sociais de sub desenvolvimento batem de frente a cada instante. É muito complicado para o ser humano viver com a desigualdade. Mas essa é só mais uma razão da situação conflitante que vivemos”
E sobre a polícia do Rio, Rodrigo Cope, 27 anos, professor de física e músico, dá sua opinião: “A polícia é formada nos preceitos do mata- mata. Não há o que negar. É muita arma, muita loucura. É claro que existem os PMs que são corretos, mas vamos lá: são poucos. O BOPE é o estandarte da glamorização da violência governamental.”  
É possível se encontrar e obter fundamento na sua descoberta? É possível julgar a polícia mal paga e chama-los de fascistas se eles são tão miseráveis de estímulos intelectuais quanto o fogueteiro que atua lá no alto do “morro carioca”? Diferente da violência que é geral e polar de raiz, a culpa disso tudo não é polar. A culpa é da colonização, da escravidão, da repressão religiosa e cultural. Brancos da alva cúpula do poder: com suas perucas e mangas de panos conseguiram criar sua própria arapuca!
E a dita classe média sofre com a dificuldade de denominar o bandido e o mocinho. E mais uma vez assiste em que vai apostar o seu capital: no leão ou no gladiador? Só que agora o coliseu tem ladeira e moto-táxi.

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