Pregação X Proibição

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

por Leandro Oliveira


“Em razão da ação proposta pelo ministério publico, a 12°câmera civil proibiu qualquer manifestação religiosa nos trens”. O seguinte aviso nas estações e nos trens orientando os usuários da rede de transporte deixou muita gente de queixo caído. Afinal por muito tempo durante o dia ou noite, sol ou chuva lá estavam os irmãos com disposição e a fé que chegava até a dar certa amolecida no coração dos mais descrentes. “Ando de trem desde que me entendo por gente. Os religiosos, os camelos, o jogo e o samba já ficaram incorporados à cultura do trem. Não consigo entender o porquê da proibição”, diz Antônio Duarte, atendente de uma rede de fast-food.

Em qualquer vagão ficamos cara a cara com a caótica situação socioeconômica brasileira Andar de trem é sentir de forma ácida, nua e crua o que aulas acadêmicas não teriam capacidade. Dividindo o espaço está um número incontável de seres humanos que ficam a se digladiar por cada palmo do vagão. E para o bem ou para o mal, a lei varreu dos trilhos o famoso bordão “sangue de Jesus tem poder”.
A proibição deixa, realmente, muitas questões em aberto o que gera inúmeras polêmicas. Há os que defendem que todo direito tem limite quando o direito alheio começa. “Imagine se cada um dos cristãos no Brasil resolver exercitar o direito de pregar?”, diz o universitário Matheus Fernandes, “Até alguns anos atrás eu tinha que competir na leitura com os gritos apaixonados dos pregadores. Aliás, Deus não é surdo! Para que ficam gritando?”, completa o rapaz que é assumidamente ateu e se sente no direito de não ouvir o culto.
As reclamações acabam tomando um rumo de aceitação social já que a comunidade evangélica se sente prejudicada. “A grande mídia já nos expôs em novela do horário nobre de maneira pejorativa. Nas novelas a mulher evangélica é o mesmo que vagabunda, que se esconde em trajes, mas faz outras coisas. Qualquer um sabe que as comunidades evangélicas são as que mais cresceram no Brasil, essa realidade retratada em algum lugar?”, reivindica o eletricista Jacinto Gomes.
A discussão toma fôlego e atrai para o debate grandes lideranças, como o teólogo Veracy Neves, administrador da Primeira Igreja Batista de Nova Iguaçu, que também criticou a decisão judicial. “Ainda resistem à visão de que só a Igreja Católica tem direito a manifestações religiosas. Ninguém fala nada das procissões católicas”, encerra alimentando o debate não encontrará um fim tão cedo.
A lei, mais esperada que um Moisés para os amantes do silêncio, também provocou o outro lado da moeda. Logo muitos setores da comunidade evangélica se levantaram contra o que eles acreditam ser uma política preconceituosa por parte do ministério público. “Dar tranquilidade aos passageiros é uma piada. Se fosse com essa intenção eles teriam proibido os pagodes que rolam por lá. Pode fazer roda de samba, mas um louvor não”, argumenta o evangelista Elizeu Roberto “Tenho saudades da paz que sentia ao ouvir a palavra do Senhor durante as viagens. Eles não têm é mais o que fazer! Deveriam é tentar coibir a maconha que rola no último vagão, e não proibir o culto!”, completa em tom de revolta.

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