Casa nova

quinta-feira, 14 de julho de 2011

por Dine Estela


O Jovem Repórter  era um projeto muito engraçado. Não tinha uma sala, não tinha nada. As reuniões de pauta aconteciam numa sala cedida pela Secretaria de Cultura, os computadores também eram pessoais. Foto somente de quem tivesse uma câmera pessoal. Mas nada disso fazia muita falta, tendo em vista que lugar de “repórter” não é dentro de gabinete mesmo. Pelo menos foi esse o ensinamento que o Julio Ludemir sempre tentou passar para seus aprendizes.

Mesmo com os parcos recursos o sucesso do projeto se fez pelo “olho clínico” de um escritor pernambucano que se encantou pelo Rio de Janeiro. “Meus critérios de avaliação são muito subjetivos. Quando vi a “marrentinha” Jéssica Oliveira mandar o secretário de cultura e a primeira dama saírem da frente porque estavam atrapalhando seu trabalho eu percebi que ela tinha uma atitude de repórter. Já o Peter  MC  me conquistou pelos seus belos olhos coloridos (um marrom e outro verde)”, brincou Julio. “O Peter MC  foi chamado para a Globo através do projeto”, acrescentou.

O projeto já foi muito citado por representantes do Ministério da Cultura na ocasião de sua participação da IV Conferência de cultura que aconteceu na cidade como um projeto modelo para a formação de profissionais comprometidos com a boa prática do jornalismo. Também foi lembrado na última plenária da ECO UFRJ pelo projeto Conexões Urbanas e Universidade na fala de Écio Salles (doutor em Comunicação da UFRJ) e Coordenador de Cultura e Educação da Secretaria de Cultura do RJ . Ele que já foi Secretário de Cultura de Nova Iguaçu hoje fala em levar a experiência para nível estadual. “Tenho muito orgulho de ter dado continuidade neste projeto iniciado pelo ex-secretário Marcos Faustini. Também acredito muito no potencial dos jovens como a nossa esperança. Entendemos que as periferias estão cada vez mais tomando o espaço dos meios não somente em tamanho mas em qualidade”, destacou

Muitos destes jovens tem entre 15 e 23 anos e nem estão cursando jornalismo ou áreas afins, mas tem na alma o dom de reportar uma notícia. Como é o caso de Yasmin Tainá mais conhecida como marrentona, que já escreveu mais de 40 matérias em um ano de projeto. O site mantido pelos jovens já pautou grandes mídias e funciona como vitrine para estes jovens profissionais. “Através do 
www.culturani.blogspot.com já pautamos vários jornais. Também já consegui vários empregos, inclusive meu curso de jornalismo na Castelo Branco. Então penso que é uma troca. ´Foi bom tanto pra mim, quanto para a Prefeitura. Meu facebook recebe vários comentários e pedidos de informações das minhas matérias. Fico muito gratificada mas gostaria que nos respeitassem mais”, desabafa Yasmin que se desligou do projeto. Assim como ela, vários jovens estão em situação parecida.

A nova gestão tem trabalhado para legalizar a situações de muitos desses jovens que estão com problemas de contrato e até mesmo sem bolsa auxílio, no entanto, mesmo sem grana para custear o mínimo, estes continuam fazendo o seu trabalho com a paixão que deve ter todo bom profissional. Este é outro ensinamento deixado pelo mestre Ludemir.

Com este reconhecimento o projeto luta para continuar encaminhando novos profissionais ao mercado e recebeu no último mês um bom reforço da nova gestão cultural com equipamentos, sala nova e até meio de transporte para a cobertura de eventos. Com os ensinamentos do mestre e todos estes recursos ninguém segura o JR. 

Imaginação dos deuses

por Lucas Xavier



Seis garotos estão sentados no tapete da sala de estar. No chão, muitos papéis, dados com número variado de faces, livros, lápis e borracha.  Uma sessão de RPG está prestes a começar.  Um dos rapazes está sentado um pouco deslocado do resto do grupo, em um lugar onde todos possam o ver facilmente. Ele é o mestre, e sua função é criar um mundo.  Um mundo que os outros cinco garotos vão habitar, desbravar e conhecer.

O RPG (Do inglês Role Playing Game) funciona de uma forma completamente diferente dos outros jogos. Não é uma competição entre os jogadores. Pelo contrário, todos os personagens do jogo fazem parte de um grupo de aventureiros que, juntos, irão batalhar e enfrentar hordas de inimigos. O mundo imaginário do Role Playing é criado por um dos jogadores, que é chamado de “mestre”. Ele não possui um personagem, mas cria o cenário e a história em que os outros jogadores viverão.

“Ser mestre é brincar de ser Deus”, afirma Leonardo Alottoni, 18 anos, rindo. “Se o mestre disser que está chovendo, é porque está chovendo. Não importa se o céu estava limpo ou não”, pontua. “Eu sou mestre de RPG desde meus 15 anos e não pretendo parar. Para ser mestre, é preciso ter vontade de entreter as pessoas, é necessário ter uma boa capacidade de improvisação e, principalmente, uma imaginação fértil”.


Rodas de protesto

por Leandro Oliveira




Protestar é uma atividade sagrada feita para que qualquer cidadão que se sinta no direito de colocar a boca no trombone e consiga expressar uma opinião que esteja entalada na garganta. E com esse direito em que não se pode profanar é que a tribo dos skatistas se organiza há alguns anos para realizar uma série de protestos que a cada dia toma mais corpo.

Com suas pranchas de rodinhas debaixo do braço, as quais reverenciam como uma “bíblia”, se unem contra a truculência de policiais militares no embates sobre a utilização da praça XV na cidade do Rio de Janeiro para fins poliesportivos. “Todos temos lugar ao sol”, brinca o vendedor Araujo Menezes, que sofre com as poucas opções para os praticantes em todo o estado.

A Praça XV virou um ponto de encontro e eles acontecem desde a década de 90.  A prática aos fins de semana virou uma cena clássica do skate carioca. Com o tempo, não só na cidade, mas como em todo Grande Rio e até o país, acabou virando o epicentro de toda a discussão sobre o direito de ir e vir. A cena da cultura underground está sendo ameaçada há alguns anos por uma liminar que proíbe a prática do esporte no lugar.
O argumento alegado inclui depredação de patrimônio público e incômodo aos pedestres que passam diariamente pelo local. O templo do skate no Rio de Janeiro agora  não pode ser mais utilizada por pressões reacionárias e sem fundamento como explica o estudante Antonio Medeiros: “O sol nasceu para todos. Nos fins de semana nós não deixamos o lugar ficar deserto e mal freqüentado. Vem gente da baixada, gente da zona sul e norte; é um local democrático”, reivindica o estudante Marcus Oliveira.

No mês de junho ocorreram protestos que passaram pelo Aterro do Flamengo até a Praça XV. Os protestos atraem alguns artistas como a atriz Cissa Guimarães que perdeu seu filho praticando o esporte de forma irregular e acabou virando madrinha do movimento. Estrategicamente, vem junto ou perto da data do dia mundial do skatista no dia 21 de junho, onde pipocam manifestações por todo Brasil e se arrastam pelos meses seguintes.

Perseguição
Alguns praticantes insistem que a perseguição beira à implicância como conta o grafiteiro Daniel Mesquita. “Existe um vídeo na internet em que um policial militar esqueceu de ir atrás de uma assaltante para ir atrás de um  skatista”, conta o jovem que participou dos protesto em 2007 e 2008. “A mulher e todos que estavam ali ficaram atônitos”, afirma com indignação.
 

O ideal que orienta a todos os participantes trouxe um sentimento de unidade a qual, para eles, vale a pena levantar o pavilhão da suas reivindicações. “Uma vez eu e mais dezenas de pessoas combinamos de ir juntos com nossos skates, assim os guardas não poderiam e nem teriam como nos prender a todos unidos.” conta o técnico em eletrônica Ronaldo Silvério, adepto do protesto com certo charme de desobediência civil para fins pacíficos. “Não esqueço a cara do guarda bufando de raiva sem conseguir tomar o skate de todos nós”, relembra com um enorme sorriso no rosto.

Para muitas pessoas influenciadas, essa é uma batalha mesquinha comparada com alguns problemas na cidade. O protesto pretende atingir esse público influenciado com a onda do “politicamente correto”. “Queremos ter um lugar para praticar nosso esporte. O skate é um esporte marginal, no bom sentido da palavra, por estar ligado aos jovens e guetos. Mais somos todos gente de bem e trabalhadora”, é o que pondera o professor de história Flávio Fernando para os governantes e seus grosseiros choques de ordens e abuso de autoridade.

Festival da cultura Nordestina invade a Baixada Fluminense

por Dine Estela




O meu primeiro repente vai ser pra essa fofinha
A mãe também nasceu fofa por isso ela é redondinha
Esse casal merece a primeira poesia minha.

Essa tá barrigudinha e tem um pretinho ao seu lado
Mas eu sei que ele é da outra do cabelo cacheado.
Eu percebo que esse preto tá morrendo apaixonado.

Tem um rapaz educado com esse óculos na vista
Perto daquele mulato que até parece alpinista
recebendo uma cestilha do cantador repentista.

Esse aqui é mais artista do que fotografeiro
tem esse queixo barbado e o cabelo até no meio
É como diz o ditado todo grande artista é feio.

Tenho que dar um recado pra quem controla esse som
Eu esqueci o meu plug mas mesmo assim está bom.

Isso daqui é repente só de viola sonora
Repente é palavra rápida e o verso solto na hora
E é tudo de improviso como eu tô fazendo agora […]

Brincando com a plateia o repentista Miguel Bezerra encerrou o primeiro dia do evento “Cordel com a Corda Toda”, que aconteceu no Espaço Sylvio Monteiro nesta quarta, 13 de julho. O artista que já gravou a chamada da novela Cordel Encantado da TV Globo é morador de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense e já tem quarenta anos de trabalhos gravados num CD com 16 modalidades de repente. 

O festival da cultura nordestina oferecido pela Secretaria de Cultura da cidade de Nova Iguaçu vai até sábado, 16 de julho com várias atividades gratuitas com o objetivo de resgate da cultura popular brasileira. A programação oferece oficinas de composição de cordéis, xilogravura, apresentação de repentistas, rodas de debates com pensadores da cultura popular, exposição fotográfica e apresentações de manifestações típicas da região do Nordeste.


PROGRAMAÇÃO

Quinta-feira, 14 de julho.

Tarde
15h Apresentação do esquete teatral “Romeu e Julieta.
15h Circuito de oficinas: oficina de teatro de cordel; oficina da composição de cordel e de xilogravura e visita guiada.

 Sexta-feira, 15 de julho.

 Manhã
9h Apresentação dos esquetes: “Teatro de Mamulengo”, “O Auto do Boizinho” e “Zé Mingau”, com a turma de crianças.
10h30 Apresentação de grupo folclórico convidado.
11h Workshow com xilogravurista, seguido de visita guiada, oficina de teatro e roda de cordéis.

Tarde
15h Apresentação da seqüência de esquetes: “Nordestes”, “Meninos de Rua” e “Chegança”.
16h Roda de bate papo com cordelistas Jota Rodrigues e Gonçalo Ferreira.
Sábado, 16 de julho.

Manhã
10h Circuito de oficinas: Oficina de teatro de cordel; Oficina de composição de cordel e xilogravura.

Tarde
15h Apresentação das esquetes “Nordestes”,“Romeu e Julieta” e “Chegança”.
16h Apresentação de grupos folclóricos da Baixada Fluminense.
16h45 Peleja de repentistas, encerrando o festival.





 
 
 
 
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