Guerra fria

terça-feira, 27 de outubro de 2009

por Nany Rabello

Tensão e silêncio. Foi assim o clima durante todas as apresentações dos candidatos a delegados representando as instituições, e durante a eleição também. Frio e pesado, que só deu lugar a aplausos uma única vez: quando os eleitos foram anunciados e todos puderam sair da sala.

Catorze pessoas influentes, representantes de grandes grupos, pessoas envolvidas diretamente com cultura e política, que têm uma grande bagagem e um grande portifólio de suas instituições, tiveram dois minutos para mostrar por que seria importante serem delegados e o que pretendiam fazer se fossem eleitas. Nenhum deles fez isso. Catorze discursos. Catorze pessoas dizendo quem eram e o que que faziam. Não foi à toa que nenhum discurso foi aplaudido.

A primeira a falar foi irmã Cecília Onófreo, da ong Meduca. Tudo sobre os três anos de trabalho que está desenvolvendo e sobre os quatro pontos de cultura, o seu e mais três, de que cuida foi dito. Mas nada sobre por que seria importante tê-la como delegada. A segunda foi Arlene de Katendê, presidente do Afoxé Maxambomba. Tem um currículo surpreendente, realmente sabe pelo que está lutando: pela comunidade, pela cultura afro e pela cidade como um todo. O terceiro foi João Gomes, que está fazendo um belo trabalho à frente das quadrilhas de São João. Trabalha com jovens, busca aprofundar o resgate das raízes históricas, e nenhuma proposta.

O quarto a se apresentar foi uma figura já conhecida no cenário político-cultural de Nova Iguaçu: Mozart Guida. Falou do seu projeto (CPOVS), bem como que representaria o movimento LGBT, o movimento afro e os pontinhos de cultura. Citou o movimento musical que apoia e passou um longo tempo falando do seu trabalho. Porém, tem a seu favor o fato de ter sido o primeiro a dizer porque gostaria de ser delegado e porque a presença dele seria importante na I Conferência Estadual de Cultura: tem experiência em cobrar coisas do governo. Foi um momento onde a tensão quase foi quebrada. Quase. Foi o candidato com a fala mais completa – e útil.

O quinto a se apresentar foi o representante do SINTERJ. Gostaria de citar o nome dele, mas isso não foi dito por ele, então presumo que a informação é irrelevante. Ele disse que pretendia “não pensar em cultura como educação e sim como algo geral”, e só. O sexto, Marisa Justino, se apresentou como representante do grupo 28 de junho. Tem um discurso forte, mas não parece estar preparada para brigar em uma conferência estadual. Luta para que os jovens homossexuais não se escondam mais, pelo fim do preconceito de escolhas. Uma causa linda, que foi abraçada pelos demais candidatos.

Sétimo: Glédson, do Laboratório Cultural. Resumiu o momento quando disse que “"aqui está a nata da cultura de Nova Iguaçu". Mostrou o que o grupo faz com pouca palavras, falou o suficiente sobre si mesmo, apresentou sua bagagem cultural sem ser esnobe, e ainda fez questão de ressaltar que se sentiria bem representado quem quer que fosse escolhido. Deixou muita gente ali com inveja.

O oitavo foi o Mestre Grilo. Capoeirista, incluído no cenário político e com uma grande lista de elogios que distribuía a todos os presentes. E nada de propostas ou qualquer coisa sobre a conferencia estadual. Nono? Eliel Júnior. O primeiro da tarde a falar o que gostaria de fazer como delegado, que as demandas de todos seriam levadas a debate, e fez comentários importantes, como quando disse que “não é porque alguém é Pontinho hoje que é melhor do que quem não é, porque amanhã as coisas podem estar invertidas”. Fez um grande discurso, para dois minutos de fala.

Depois vieram os discursos de outra pessoa que achou seu nome algo irrelevante. Assim como tudo o que disse sobre sua carreira. Décimo: Marcos Serra, do INDEC, que falou sobre seu instituto, sobre seu excelente currículo de conquistas, de igualdade social, do problema que negros e mulheres enfrentam com descriminação, da lei 3639. Falou tanto sobre tanto que excedeu o tempo de discurso, e não deu nenhuma proposta, apesar de ser um fortíssimo candidato.

Mais três pessoas defenderam suas candidaturas antes de começar a votação. Mas todos seguiam o mesmo padrão de falar de si e não dizer nada. A maioria dos postulantes, talvez por falta de costume com conferências, talvez pelo nervosismo de ter a chance de representar Nova Iguaçu pela primeira vez numa conferência estadual, não pareceu muito segura de si, nem mesmo preparada para ser delegada. Mas todos ali sabiam muito bem fazer seus trabalhos e lutar pelo melhor em suas áreas específicas.
Imediatamente após os discursos começou a eleição.

Os eleitos foram Mozart Guida (23 votos), Eduardo Reis (18 votos), Eliel Júnior (16 votos) Glédison (15 votos), Mestre Grilo (14 votos) e Arlene (13 votos). Empatados com 12 votos ficaram, Cecília Onófrio, Marisa Justino e Marcos Serra ficaram como suplentes. Apesar de ter sido recebida com alguma surpresa pelos participantes, a apuração terminou com a tensão quase física que a ‘guerra fria’ de grandes gigantes havia instaurado no segundo andar da Casa de Cultura Silvio Monteiro. Todos aplaudiram e saíram dali com a certeza de estarem sendo muito bem representados.

1 Comentários:

Hosana Souza disse...

Belo texto Nany. Informativo e bem humorado =]

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