Uma árvore fantástica

domingo, 11 de outubro de 2009

por Jéssica de Oliveira


Quarta-feira, início de tarde. Um carro com o símbolo da Rede Globo de Televisão estaciona em frente à Escola Livre de Cinema, em Miguel Couto. Mauricío Kubrusly e sua equipe desembarcam, cruzam a porta e o hall de entrada e vão ao encontro de cinco crianças que estavam ansiosas por este momento. O motivo da visita do repórter global é que alguns alunos da Escola Municipal Ana Maria Ramalho, que frequentam a Escola Livre de Cinema graças à parceria formada pelo Bairro-Escola, são pauta do programa Fantástico dessa semana.

“Devido ao Dia das Crianças, o Fantástico nos procurou e propôs uma reportagem em que os alunos da escola produzissem um curta-metragem que seria exibido no programa, além da filmagem dos bastidores da produção, que ficaria a cargo da Globo”, explica Marina Rosa, instrutora da escola.

E assim foi feito. As crianças subiram até a sala de animação e se posicionaram. A partir deste momento, a direção e produção do vídeo fica por conta de Micaela de Carvalho, 11 anos, Wagner Aguiar, 11 anos, Michele de Souza, 10 anos, Ronne Castro, 10 anos, e Jonathan Lacerda, 14 anos. Maurício Kubrusly estava junto e, com muito bom humor e paciência, transmite segurança aos “iniciantes” para começarem a gravar.

Mas afinal, qual é a pauta que fez a equipe do Fantástico visitar um bairro de Nova Iguaçu? Surpreenda-se você também, afinal, o tema do vídeo que está sendo feito não é do tipo que se vê em qualquer lugar. Pode-se dizer, talvez, que é uma exclusividade da Escola Livre de Cinema; ou melhor: é uma exclusividade de Nova Iguaçu, mais especificamente do bairro Jardim Rodilândia. Sem mais delongas, lá vai:
A Escola Livre de Cinema orgulhosamente apresenta para o Brasil e o Mundo, a Árvore Grávida!

Árvore grávida
“Árvore grávida”? Sim, por mais confuso que isso possa parecer, é verdade. Quem acompanhou o blog que retratava o programa Minha Rua Tem História, um programa da Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu que reuniu cerca de três mil jovens para contar histórias sobre seus bairros em 2008, já conhece o caso. A árvore ganhou fama maior através da estudante Luana mendes, de 22 anos, que, em uma dinâmica de contar histórias de árvores, não hesitou em falar da lendária mangueira de seu bairro.

A Escola Livre de Cinema lembrou da história na formação dos professores no último sábado, durante a qual discutiram histórias que poderiam ir ao ar no programa deste domingo. “Surgiram várias histórias boas, mas a melhor foi a da Árvore Grávida, que envolve uma lenda popular meio sinistra”, encerra Marina.

As crianças contaram o que e como seria feito, escolheram as perguntas da entrevista, prepararam os materiais e foram a campo atrás de sua história. A apresentação ficou a cargo da repórter mirim Micaela Carvalho, 11 anos, que iniciou a gravação e que estava com os nervos à flor da pele. “Eu fiquei muito nervosa: havia duas câmeras, repórteres da Globo e mais um monte de gente me olhando”, desabafa. Passada essa etapa, é hora de ir em busca das pessoas que conhecem melhor a história da árvore.

Posto de entrevistadora
As equipes chegam em Jardim Rodilândia com seus equipamentos e começam a colher todas as informações que faltavam sobre a árvore. Micaela assume seu posto de entrevistadora e dá início ao bate papo com Luana, que tornou a história pública.


Micaela: Por que você resolveu contar a história da árvore grávida na oficina do Minha Rua Tem História?
Luana: Porque, além da árvore ter essa forma curiosa, ela envolve uma lenda sinistra de uma mulher que foi morta neste mesmo local.
Micaela: Você pode contar melhor como é a lenda?
Luana: A lenda fala sobre uma mulher que estava grávida e que foi assassinada por seu marido; não se sabe se foi a tiros ou a facadas. Tempos depois, nasceu essa árvore com a forma do corpo da tal mulher.
Micaela: E as pessoas têm medo da árvore?
Luana: Sim. Muitas pessoas sentem medo porque acreditam que a alma da mulher morta está presa à árvore.

Luana, que nunca sentiu medo da árvore grávida, conta que muitas pessoas já protagonizaram cenas engraçadas e constrangedoras devido ao pavor que sentem da mangueira. “Antigamente, algumas crianças se aproveitavam do medo dos vizinhos e da falta de iluminação da rua e armavam peças para aterrorizar quem passava à noite”.

Quem pode explicar melhor essa história é a adolescente Beatriz da Silva, hoje com 14anos, que já deu boas risadas às custas de quem passava em frente à árvore à noite. “Quando eu vim morar aqui, o povo já contava histórias da árvore; diziam que ela se mexia e que tacava terra em quem passava à noite. Então, eu, meus irmãos e meus vizinhos nos aproveitamos da história e armamos várias pegadinhas. Nós pegamos uma boneca velha, colocamos um vestido de noiva enorme e a penduramos em cima da árvore. Quando alguém passava, a gente soltava a boneca em cima da pessoa e pronto: o povo morria de medo. Uma vez, uma mulher largou as sacolas de compras na rua e saiu correndo”, conta, se acabando de rir.

Macumba
Beatriz ainda relembra de outras vezes em que assustava os moradores com suas brincadeiras e de seus irmãos. “Certa vez, a Luana nos contou que tinha gente que fazia macumba debaixo da árvore. Então eu disse: 'vamos fazer uma macumbinha ali também'. Pegamos cal, katchup, arroz e um vinho estragado e colocamos ao lado e depois ascendemos várias velas”. Beatriz diz, entre risos, que todos que passavam ficavam horrorizados com a cena. “Teve um pastor que estava passando e nos viu perto da 'macumba'. Ele disse que era pra gente se afastar, mas ao invés disso, um colega meu, que ajudou a fazer a 'macumbinha', bebeu o vinho pra desespero do pastor. Daí ele começou a gritar: 'pára com isso, menino! Vamos lá na igreja pra eu te orar!'”.

Entretanto, parece que nem a própria Beatriz está livre de sentir medo da “árvore assombrada”. Laura Silva, sua mãe, conta que a filha ficava encolhida dentro do quarto com medo da árvore enquanto ia trabalhar. “As crianças daqui já aprontaram muito. Essa árvore tem história...”

Após os alunos da Escola Livre de Cinema e a equipe de Mauricio Kubrusly apurarem todo o material necessário para produzir a matéria, eles se despedem dos moradores e da árvore, que já tinha lançado uma manga na cabeça do câmera bem na hora da filmagem. “A árvore não tá gostando do que nós estamos fazendo. Vai ver, ela é realmente assombrada”, brinca Anderson Barnabé, coordenador da Escola. Agora é só partir para a edição, que contará com animações feitas pelas crianças para ilustrar as entrevistas. Maurício Kubrusly elogiou o desempenho dos alunos da Escola e acredita no sucesso dos pequenos: “Eles são demais. Mostraram muita desenvoltura, tanto operando os equipamentos quanto na frente das câmeras”.

Confira neste domingo, no Fantástico, a árvore grávida do Rodilândia com a produção dos talentosos alunos da Escola Livre de Cinema.

2 Comentários:

Josy Antunes disse...

Eu vi a matéria na TV. Deu um super orgulho das crianças!
Quando a Micaela, nem parecia que ela estava assim tão nervosa, só acredito porque li aqui. Ela foi muito espontânea. Foi lindo de ver!

A matéria ficou ótima, Dé, delícia de ler. Foi bem legal ver histórias aqui que não foram para o programa. Belo acompanhamento!

Na intenção de divulgar o meu trabalho, cheguei até você.
Gostei muito do seu espaço. Eu não estou podendo ler tudo de uma vez porque a tela do computador atrapalha um pouco a minha visão, mas certamente voltarei mais vezes. O meu oftamologista pediu que desse um tempo da telinha... e eu sou fraca ?
O meu território já está demarcado.
Convido a conhecer "FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER.." ( o seu cantinho de leitura), em:
http://www.silnunesprof.blogspot.com
Terei sempre uma história para contar.
Saudações Florestais !

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