Por dignidade

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

por Larissa Leotério


Há pouco tempo li o livro “Olga”, do jornalista, político e escritor Fernando Morais. O que mais chama a atenção é o trecho mais trágico da vida da comunista Olga Gutmann Benario, logo na capa do livro: ‘Nove anos depois de escrever ‘A Ilha’, um livro que vendeu mais de 250 mil exemplares, Fernando Morais volta à grande reportagem com um tema apaixonante: a vida de Olga Benario, judia, comunista e mulher de Luís Carlos Prestes, que o governo Vargas entregou grávida à Gestapo’.

É impossível resistir ao livro, que consumi ansiosamente em dois dias. Mesmo sabendo qual seria seu final. O importante foi o decorrer, a forma de abordagem e a pesquisa do autor. Como o mesmo conta no livro, havia poucos registros sobre a passagem de Olga pelo país. A moça usava muitas identidades, muitos dos ditos “aparelhos”, que eram casas de camaradas de partido, que a esconderam.


A revolucionária veio ao Brasil acompanhar e proteger o homem que todos acreditavam ser a figura adequada para liderar o movimento comunista no Brasil: Luís Carlos Prestes, de quem Olga ouvira falar e ficara impressionada. O homem da Coluna Prestes, que por onde passou conquistou homens para a luta armada, uma das maiores fascinações de Olga.

Ela acreditava que o enfrentamento pudesse conter o nazismo, que se alastrava pelo continente no rastro da crise de 29, onde uma explosiva mistura de desemprego e inflação deixou o povo em petição de miséria.

Medidas de exceção


Mas com tanta perseguição e problemas do partido foi mandada ao Brasil, já que a política favorecia os movimentos de frente de Esquerda em países de Terceiro Mundo.

O país se reconstitucionalizava na chegada de Olga e Prestes, mas tinha na presidência o Getúlio Vargas das medidas de exceção. Na mesma época se elaborava a ANL – Aliança Nacional Libertadora, formada por tenentes, socialistas e comunistas descontentes com o Governo Vargas. O movimento contestava o integralismo de Plínio Salgado, de cunho fascista.

Prestes é, mesmo que poucos saibam que ele está no país, aclamado pelo povo como presidente da Aliança. Com certo nacionalismo, ele lança um manifesto exigindo poder à ANL e deposição do governo Vargas. Logo o presidente do país leva a Aliança à ilegalidade.

Depois do levante militar armado da cidade de Natal, Prestes ordena que ele se espalhe pelo país. O que não acontece, o governo reprime fortemente o levante, fecha o cerco e muitos comunistas são presos, inclusive amigos de Olga e Prestes. Torturados, acabam contando que o casal está no país e dão endereços de aparelhos.

A polícia encontra a casa do casal, as inúmeras anotações de Olga e Prestes, documentos, provas. Mas a casa está vazia. Eles fogem pela cidade, mas acabam sendo encontrados e presos. Olga está grávida. Ela se agarra ao corpo de Prestes com violência e os dois só são separados na delegacia.

Anita


Olga encontra sua amiga, conhecida como Sabo, muito fraca na prisão, vitíma de inúmeras torturas. Seria com esta amiga da adolescência em Neukolln que seis meses depois Olga seria mandada de volta aos nazistas. Começa na Europa um grande movimento pela libertação de Olga e Prestes, encabeçado por D. Leocádia e Lígia Prestes, mãe e a irmã de Luís Carlos Prestes. Mas o esforço foi em vão.

Olga foi transportada em 1938 num navio cargueiro, por havia o medo de que, se fosse em navio comercial, alguém facilitasse sua fuga. E assim seguiram Olga e Sabo numa viagem sem escalas. Apesar de não haver acusações oficiais, Olga foi presa na mais temida prisão de mulheres da Gestapo. Lá nasceu sua filha, Anita Leocádia, de quem foi separada logo após a amamentação e nunca mais a viu. Exatamente por não ter uma acusação formal, Olga não pôde se defender. Mas era comunista e judia.

Continuou presa, fez trabalhos forçados em campos de concentração e mesmo lá liderava as mulheres, cuidava da organização das alas em que vivia e continuava lutando. Desta vez, por dignidade. Acreditava na própria liberdade e na das outras também.

O mais impressionante é que, até seu último dia de vida, Olga acreditou na liberdade e que poderia ver a filha e o marido. Mas em 1942, aos 34 anos, foi levada ao último campo de concentração e morta na câmara de gás. Uma história fascinante e é impossível não se apaixonar.

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