Onze vezes Nova Iguaçu

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

por Hosana Souza

Na festa de encerramento do II Iguacine, o artista multimídia Marcus Vinícius Faustini anunciou o lançamento do edital que deixaria eletrizados os ex-alunos da Escola Livre de Cinema: “Vamos financiar a produção de um curta-metragem”, disse o criador da escola que mudou a face de Miguel Couto e hoje Secretário Municipal de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu.

Como em todas as propostas da Escola Livre de Cinema, o edital impunha alguns dispositivos para os aspirantes a cineastas. Os dez argumentos aprovados precisavam ter personagens e cenário iguaçuanos, além de fazer uso de alguma tecnologia e citar a cultura popular. O uso de dispositivos é uma marca registrada no trabalho do secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu.

Os ex-alunos da Escola Livre de Cinema, que tinham ido em peso ao II Iguacine, começaram um corre-corre que terminou com a formação de uma turma com onze alunos.
Os vencedores da seleção tiveram um mês de aulas de roteiro, duas vezes por semana, com Gustavo Melo e Raul Fernando. Gustavo Melo é um suburbano de Brás do Pina, que iniciou sua vida no cinema a partir de um curso no Nós do Morro. Raul Fernando, que também é adjunto da SEMCTUR, estudou cinema na Universidade Federal Fluminense.

No final desse processo, três projetos serão escolhidos por uma banca de avaliação. “Os três melhores roteiros receberão uma verba de mil reais para a compra dos direitos autorais e o inicio das pré-produções”, conta Gustavo Melo, que está levando para seus alunos os mesmos conhecimentos que permitiram uma radical mudança em sua vida. As pré-produções serão executadas pelas turmas de 2010 da Escola Livre de Cinema, mas somente a melhor virará, enfim, um curta-metragem.

Número de páginas

Os onze alunos passaram a tarde do último sábado discutindo seus roteiros com Gustavo Melo, que, depois de ler e reler cada obra, deu uma série de sugestões. No entanto, o principal problema com que se deparou foi o número de páginas de cada trabalho. “Esse vai ser um dos principais critérios de avaliação da banca”, alertava ele. Para quem não sabe, cada página de roteiro corresponde a minuto de filme. Um filme deixa de ser considerado um curta a partir do décimo terceiro minuto.

Expondo agonias e felicidades, ficção e drama, as horas de leitura e pesquisa da turma de roteiristas vêm se transformando em registros envolventes, que misturam e contam a realidade iguaçuana. Há histórias para todos os gostos: jovens que lidam com deficiência, com problemas familiares, com a violência ou o cotidiano de famílias, a visão feminina dos acontecimentos, o olhar infantil da cidade.

Uma dessas histórias está sendo escrita por Laíse Sousa, uma dona de casa de 40 anos que entrou na Escola Livre de Cinema pelas mãos da filha. O roteiro que Laíse Sousa está desenvolvendo conta a história de uma mulher que se divorcia e perde o chão. “Mas depois ela descobre uma nova vida e se transforma”, conta a dona de casa.

Com apenas 22 anos, Cláudio Henrique Rodrigues entrou na Escola Livre de Cinema por causa da sua paixão pelas histórias em quadrinho, que o acompanha desde a infância. Muito preocupado com os cortes que está sendo obrigado a fazer, Cláudio Henrique viu muitos filmes atrás de inspiração. “Mas a principal influência do meu roteiro é das animações japonesas”, admite.

Até o natal

A turma da Escola Livre de Cinema, cuja última aula será ministrada no próximo sábado por Raul Fernando, já produziu 12 roteiros. A banca de avaliação terá até o natal para divulgar os três projetos vencedores, mas de antemão Gustavo Melo garante que a disputa será acirrada. “Daqui não sairão três curtas apenas”, afirma o roteirista, que não pensou duas vezes quando foi convidado por Faustini, que conheceu no início desta década em um projeto em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. “Sairão doze ou mais, eu tenho certeza.”

A certeza desse cineasta, que tem três curtas premiados e atualmente trabalha na produção do “Cinco vezes favela 2”, se baseia na qualidade dos roteiros que está acompanhando. “Mesmo os que não receberem patrocínio vão terminar sendo filmados porque não são mais necessários muitos recursos para produção de um filme. Agora basta o que eles já têm: criatividade e vontade.”

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