Clóvis de calçadão

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

por Josy Antunes e Marcelle Abreu

 
No século XIX, foi trazida pelos europeus ao Rio de Janeiro uma tradição carnavalesca conhecida como Clóvis, cujo nome deriva da palavra clown, que significa palhaço. Eram grupos de 2 a 100 pessoas, em sua maioria homens, entre 20 e 40 anos, que na época do carnaval saiam às ruas vestidos com sua fantasias e acessórios para festejarem.

Atualmente, esses grupos são encontrados em toda parte do Rio, concentrando-se majoritariamente na Zona Norte e Oeste. Na Cinelândia, há um concurso que ocorre na terça-feira de carnaval, que faz com que muitos deles se encontrem.

Cada grupo possui um líder, algumas vezes até mais, que ficam responsáveis pelas fantasias, encontros e decisões sobre quais membros permanecem, saem ou entram.

As fantasias novas são caras. Em média, cada integrante gasta mil reais, adquirindo uma nova a cada ano. Ao final do carnaval, elas são vendidas a lojas ou a quem tiver interesse em comprá-las. A máscara usada é um acessório indispensável, pois é ela que garante o segredo da identidade da pessoa por trás da fantasia.

Outros elementos compõem o figurino: sapatilhas, longas meias, coletes, sombrinhas ou leques e a indispensável essência que, com rodopios, fica pelo ar. “Esse ano, a venda de Clóvis foi maior, nos outros anos foi mais Bate-bola”, conta a vendedora Valéria Pimentel, funcionária da Boutique das Crianças, uma das primeiras a serem visualizadas com as fantasias expostas no Calçadão do Centro de Nova Iguaçu. “Bate-bola é aquele pirulito, o Clóvis é o rodado”, aponta a moça, que garante que a tendência é que a venda do segundo se expanda a cada ano.

A loja vendia fantasias exclusivamente para crianças, numa média de idade de 3 a 8 anos. O preço da roupa, sem nenhum acessório, era de R$39,90. As demais peças deveriam ser encontradas em armarinhos, lojas especializadas ou nos próprios camelôs que se espalhavam ao longo das calçadas. “A mãe não gasta menos de R$100”, afirma Valéria. “Eu mesma já gastei muito. Hoje em dia não, porque já são adolescentes, aí são outros gastos”, diz sorridente, lembrando com carinho dos carnavais da infância dos filhos, que se vestiam de Clóvis, tanto o menino quanto a menina. “Como eles eram do mesmo tamanho, as pessoas confundiam os dois. Aí teve uma vez que puxaram o cabelo da minha filha, pensando que era a peruca do filho”, diverte-se Valéria, que conta, entre outras histórias, que sua menina deixou de chupar chupeta por ter levado um susto de um Clóvis adulto. “Acho que hoje em dia as crianças são muito sabidas, não tem mais aquele medo não”.

Ao fim da bem-humorada conversa, a vendedora nos recomendou a passagem pela Casa Turana, uma das maiores vendedoras de fantasias do Centro de Nova Iguaçu. O estabelecimento trabalha com o processo de compra das fantasias usadas por grandes grupos, além dos produtos novos. Mostrando uma majestosa fantasia personalizada de Clóvis, a vendedora Manoela Figueiredo explica: “A gente compra de segunda mão. É de um grupo que saiu no ano passado e revendeu, porque eles nunca querem usar o mesmo”. O preço do figurino completo é R$ 220 – valor seria multiplicado caso fossem peças inéditas. “A fantasia de Clóvis é muito mais cara. É o maior preço da loja, mas o que eu tiver dele, eu vendo”, conta Ana Carla Macedo, gerente da loja.

Durante os minutos em que conversávamos com as representantes da Turana, um trio de amigos circulava por entre as fantasias, transbordantes de indecisão. “Ele está olhando aquelas máscaras há dois dias”, entrega Thiago da Silva, olhando para o amigo Yuri Fernando, ambos com 13 anos de idade e moradores do bairro Jardim Canaã. Enquanto Yuri se preocupava com a nova fantasia, já que haviam jogado fora a usada em 2009, acarretando um prejuízo para o bolso do próprio menino, Thiago estava prestes a sair de Clóvis pela primeira vez. Filho de mãe evangélica, transitava agora entre a empolgação e o medo de ser descoberto. “A loja da minha mãe é aqui perto”, diz, temeroso. “Ela tá pensando que estou no shopping, comemorando o aniversário do Yuri. Estou usando o dinheiro da comemoração pra comprar a fantasia”. “E se sua mãe descobre?”, perguntamos em uníssono. “Tô ferrado”, ria-se Thiago. Os três – Yuri, Thiago e o terceiro amigo mais reservado – só estavam certos da aquisição da fantasia de Clóvis e não a de Bate-bola, mesmo sendo mais cara e quente. “O calor até desanima, mas vale a pena”, alega Yuri, sem tirar os olhos das fantasias penduradas no teto.

Nos camelôs, a preferência também é a mesma. O valor, sem dúvidas, mais baixo. Oitenta reais eram o que se pagava por uma fantasia infantil, já contendo a máscara e roupas. “A fantasia de Bate-bola é feia pra caramba, a de Clóvis é linda”, justifica Charles Peçanha, que exibia uma banca repleta de máscaras e uma única fantasia, servindo de modelo. “Cada ano eu saía com uma, a graça é sair em grupo”, diz o rapaz de 18 anos, considerando-se “velho” para a prática. Nossa dúvida ainda era a seguinte: e se nós, do alto de nosso 1,70 metro, resolvêssemos usar o traje? A estratégia é a antecedência no pedido de confecção. “Qualquer costureira faz”, garante o vendedor ambulante.

A propósito, as meninas representam uma porcentagem mínima na compra das fantasias de Clóvis, no Calçadão de Nova Iguaçu. Dois por cento foram a quantidade citada por uma das vendedoras ouvidas. “No ano passado a procura ainda foi maior. Esse ano não, foi muito pouco”, comenta Queila de Farias, que trabalha numa loja localizada na Galeria Iguaçu. Roupas como a de odalisca ou havaiana são a preferência feminina maciça. “No carnaval, menino é Clóvis”, sintetiza Queila.

 

5 Comentários:

mayara f. disse...

nossa estava pensando que poderia justamente ser feito uma materia dessa!!! rs
ótimo

Déh disse...

Eu tbm. Gostei muito. Parabéns, meninas.

Anônimo disse...

materia realmente ficou show de bate bola,rsrsrs.parabénsss,marcelle e josy

Anônimo disse...

parabens marcelle e josy a materia ficou show de bola.rsrs

Anônimo disse...

Marcelita ta expert!

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