Cinema esvoaçante

quarta-feira, 7 de abril de 2010

por Robert Tavares

Quem não se lembra dos sapatinhos vermelhos da encantadora Dorothy de "Mágico de Oz" ou então do vestido azul de "Alice no país das maravilhas", que recentemente foram repaginados e customizados por diversos estilistas internacionais? Acontece que não é só o cinema gringo que dá pano para a moda, não. Os brasileiros já lançaram tendência e vestiram uma série de pessoas, dentro e fora das telonas.

Muitos personagens e até mesmo os próprios filmes ficam marcados devido ao figurino escolhido para a trama de acordo com a personalidade, com intenção do diretor para cada personagem e adequado à época em que o roteiro é adaptado. É o caso do clássico "A Hora da Estrela" adaptado do último livro publicado em vida pela escritora Clarice Lispector e filmado pela cineasta Suzana Amaral. A diretora criou os vestidos da personagem central Macabéa com Clóvis Bueno e sem dúvidas agregou as características necessárias para a personalidade da personagem.

O cinema tem exercido grande influência sobre homens e mulheres. Acontece que muitos se inspiram em atores e personagens quando vão escolher as peças do seu guarda-roupas. Aliás, esse fato não é exclusivo apenas do cinema. Quem não se lembra da recente telenovela "Caminho das índias" e de sua polêmica personagem Norminha, que deixava parte do sutiã à mostra, causando uma verdadeira revolução fashion até nas semanas de moda brasileiras?

Mas voltando ao cinema, vale citar a fogosa Solange, personagem de Sônia Braga que ousava no decote, nos vestidos transparentes, na saia lápis e nos cabelos volumosos em "A dama do lotação" - que é a quarta maior bilheteria da história do cinema brasileiro que influenciou toda a geração da década de 70, época em que o filme dirigido por Neville de Almeida e inspirado em um conto de Nélson Rodrigues foi exibido no país.

Muitas vezes a moda não significa apenas beleza, mas também novidade. Em muitos casos, causar reflexão com o figurino é o que deseja o diretor, como no caso da prostituta Geni, personagem de Darlene Glória em "Toda nudez será castigada", do já citado Nélson Rodrigues e com direção de Arnaldo Jabor.

Não tem como falar de cinema e moda sem citar "Zuzu Angel", a estilista que morreu em um acidente de carro na década de 70. Na história, o diretor Sérgio Rezende usou e abusou dos figurinos originais da época. Logo, o minimalismo, o acabamento e a sobriedade reinaram absolutos sobre as peças que logo em seguida foram expostas em diversos estados do país. O guarda-roupa de personagens cria uma memória afetiva que nos faz torná-los ícones da moda - vide Marilyn Monroe e seu vestido esvoaçante - e exemplos a seguir, e a maioria permanece em destaque até hoje, comprovando que até os detalhes do cinema criam história e nos fazem sonhar durante anos a fio.

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