Mercado único

segunda-feira, 31 de maio de 2010

por Joaquim Tavares


‘Olha o amendoim!’, ‘Alô bala!’, ‘3 por R$ 1’,’É água que mata a sede!’, ‘Bananada é 10!’, ‘Olha o picolé!’. Essas e muitas outras frases são ouvidas aos montes dentro dos trens. Desde Japeri à Central é um festival de anúncios, quase que sincronizados e ensaiados, se tornando uma sinfonia.

São poucos os que moram no Rio, principalmente na Baixada, e não andaram de trem pelo menos uma vez na vida. E são menos ainda os que já andaram e nunca compraram nada de nenhum camelô que parece passear entre os vagões, como se estivesse andando num corredor bem ladrilhado.


Escutar o aviso de que o picolé tá passando, naqueles dias de sol forte, é quase que uma mensagem ‘subliminar’. Pelo menos 7 entre 10 passageiros pensam, nem que seja por um breve momento, em comprar um. Parece encantamento – você não está nem aí para nada, de repente ouve a propaganda do picolé, vê outros comprando e não pensa em outra coisa senão pedir um para o ‘moço’. É quase como se ele te ganhasse pelo cansaço.

É incrível também, além das táticas de venda (que são infinitas), a variedade de produtos que se pode encontrar. Um vendedor de trem pode ser um ‘vende - tudo’, que parece ter de tudo um pouco – pilha, fone de ouvido, naftalina inglesa, gilete, super cola, cortador de unha, remédios ‘milagrosos’, e por aí vai!

Apesar de não receberem nenhum adicional, esses valentes mercadores exercem uma outra função importantíssima – sempre ajudam com informações do tipo ‘Esse trem vai para onde?’ ou ‘Esse é o próximo a sair... sai que horas?’. Às vezes, se dá mais valor na fala deles do que na dos próprios funcionários ferroviários.

Alguns desses profissionais, assim como seus produtos, já viraram uma espécie de folclore e são figurinhas carimbadas no ‘Gigante de Ferro’.

Tem o ‘Gordão’, que varia sempre suas mercadorias, indo desde escovas de dente até chocolates diversos. A marca registrada é a historinha que ele inventa para tentar convencer o freguês a comprar. No fim das contas, mesmo você não comprando nada, vale muito a pena já que é impossível não dar um sorriso diante da encenação. Não podemos esquecer do seu bordão: ‘Eu vendo barato porque posso! Meu pai é o dono e eu sou o sócio.’ Tal fama o rendeu até comunidade no Orkut – ‘Gordão do trem...’

Outro sempre presente é o ‘tiozinho’ da pomada de arnica. Pomada essa que parece a cura para todos os males da saúde, exceto o câncer – dor nas costas, artrite, atrose, dor nos joelhos e nas juntas e sabe-se lá mais o quê!

Augusto, o vendedor de tudo. Sempre cantarolando suas mercadorias e tornando seus anúncios menos irritantes para os passageiros que estão tirando o cochilo sagrado de toda a viagem.

Como esquecer aquele vendedor de bala Halls que vendia seu produto de maneira inusitada e extremamente criativa: ‘Eu não sei falar, eu só sei latir. Halls, Halls... Hals é 50!’.

Os trens Rio a fora (ou a dentro, melhor dizendo) são lugares únicos com viajantes únicos e vendedores únicos de mercadorias únicas. A maioria desses vendedores afirmam que não entraram nessa vida por opção e sim pela falta de instrução, que os deixou sem muitas opções no mercado de trabalho. No entanto, praticam seu papel da melhor maneira possível. Esquecem das dificuldades de seu cotidiano e fazem da sua rotina, e dos passageiros, algo muito mais agradável apenas com um belo sorriso sincero. Afinal, vendedor de trem que se preze, balança mas não cai!

1 Comentários:

Anônimo disse...

O tio da pomada de arnica, o rapaz da bala Halls, são demais.
Realmente, não existe uma pessoa q viajando no trem não tenha comprado algo, mesmo uma bala.
Esses vemdedores merecem o maior respeito.

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