Cinema brasileiro e biscoito de limão

sábado, 22 de maio de 2010

por Josy Antunes

Você está na Central do Brasil. É uma sexta-feira, o relógio marca 13:00 e você tem R$6 na carteira. Você é um universitário com uma mochila pesada nas costas e se pergunta onde investir seu dinheiro sob as seguintes condições: não é permitido voltar para casa e, ainda assim, sua barriga resmunga pedindo pelo almoço. Então aí você se lembra de uma tal mostra de filmes nacionais oferecida pelo Centro Cultural Banco do Brasil que alguém havia comentado dias antes. Você caminha pela Av. Presidente Vargas em direção a Rua da Alfândega, já pensando naquela tal “Toca dos biscoitos”, uma lojinha que parece uma imitação descarada da conhecida “Casa dos biscoitos”, encontrada em quase toda esquina de Nova Iguaçu. E é lá que você investirá seu primeiro real: um pacote de tortinhas de limão, que te acompanharão no decorrer do dia.

Depois de passear pelas lojas que contém as mais curiosas formas de publicidade de seus produtos, você irá mais adiante, em direção ao CCBB. Lá, você apresentará sua carteirinha de identificação do curso na bilheteria, torcendo para que a moça não a rejeite, já que você não possui nenhum documento que te afirme como matriculado numa universidade. “Ufa”. A moça te entrega um “Cinepasse” e ainda te deseja uma “boa sessão”, enquanto lhe entrega a programação dos filmes. “Clássicos & Raros do Nosso Cinema” é o que está impresso no folheto. E você lança um semi-sorriso com uma mistura de alívio e da expressão “Uau”. Para finalizar o encontro com a moça, ela te diz: “O Cinepasse te dá o direito de acesso a mostra e a videoteca por 30 dias”. E pra isso você só gastou duas notas de R$2 e a moeda mais bonita do nosso sistema monetário: a de R$1.

O relógio do celular marca 13:30 e você tem uma hora antes da primeira sessão. Tempo suficiente para que você sente tranquilamente no hall principal e admire “O universo em uma pérola” ou suba ao primeiro andar e se perca na “Luz aprisionada na barriga da baleia”, ambas instalações da recém inaugurada exposição “Rebelião em silêncio”, da artista alemã Rebecca Horn, que pela primeira vez tem suas obras reunidas no Brasil. Depois de imergir num novo território visual e sonoro, você corre para a sala de exibição de cinema, onde regressa com Christiane Torloni e José Mayer a 1992, em “Perfume de Gardênia”, do diretor “Guilherme de Almeida Prado”. Depois, às 17:00, volta a 1959, numa cópia restaurada de “Juventude sem amanhã”, de Elzevir da Silva e João Cézar Galvão. Você sai da sala, às 18:15 amando o seu “Cinepasse” e prometendo voltar para assistir “Cala a boca Etelvina” e “A mulher de todos”, já que a mostra dura até o dia 30 de maio.

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