O rap-pórter

quinta-feira, 29 de julho de 2010

por Hosana Souza



Andando pelas ruas de toda Nova Iguaçu, ele com certeza irá chamar sua atenção. Camelô,rap-pórter, estagiário e oficineiro em diversas ONGS, militante do movimento hip-hop. Baixinho, moreno, “cabecinha chata” e com um olho de cada cor – um castanho e outro azul. Pedro Alan é seu nome, mais conhecido como MC Peter, um homem pintado de sorrisos que com apenas 21 anos já possui histórias para um livro. MC Peter rapidamente conquista a todos com seu bom humor, suas rimas improvisadas e seu rap irreverente – já colocou até nosso editor para dançar e dividiu com o Cultura NI um pouco de sua vida.



MC Peter nasceu em Campina Grande, interior da Paraíba e migrou para o Rio de Janeiro com apenas quatro anos de idade. “Meus pais se separaram, minha mãe não conseguiu sustentar a situação comigo e meu irmão menor lá em Campina Grande, então viemos tentar a sorte por aqui”, relembra. Chegando aqui, a família foi morar de aluguel no Caju, – Zona Norte do Rio de Janeiro – sua mãe logo conseguiu um trabalho como empregada doméstica e Pedro se viu cumprindo o papel de “homem da casa”, cuidando do irmão e ajudando nos serviços.

“A barra era difícil. Ás vezes o dinheiro não dava pra nada. Cansei de fazer chepa atrás de legumes pra que minha mãe fizesse uma sopa à noite”, emociona-se. “Mas eu dei mole também, terminei me envolvendo com pessoas erradas. Mas tudo me transformou no homem que sou hoje”, conta. MC Peter relembra seu envolvimento com as drogas e com o álcool, por causa do qual terminou cometendo até pequenos furtos. “Eu descobri uma maneira de burlar o dispositivo do shopping e sair com os cds que depois eu vendia. Eu ficava com os de metal, que eram muito caros”, explica o rapper.

Esperança
Com medo de que seu filho – que já não ia às aulas para conhecer a capital carioca – se envolvesse com movimentos piores ou terminasse preso, todos voltaram para Campina Grande. “Eu nunca quis voltar. Mas o pior foi que meu pai fez promessas para minha mãe e quando chegamos lá acabamos em uma situação pior do que aqui no Rio; lá não tínhamos nem uma casa”, acrescenta ele, que abandonou de vez a escola para trabalhar em um lava-jato para comprar comida para família. No entanto, ele jamais perdeu a esperança de retornar ao Rio de Janeiro.

Um dos projetos sociais em maior evidência no Nordeste brasileiro é o Programa de Saúde da Família ou o PSF. E foi em uma das visitas da equipe do PSF que MC Peter conheceu o rap. “Foi uma senhora que passou lá em casa para fazer as entrevistas. Ela queria porque queria que eu fosse até a igreja dela. Eu terminei sendo convencido e fui, mesmo sendo daquele jeito “largadão”, andando de preto, com corrente, brinco e tal. Lá na igreja dela havia muitos jovens e até que me senti bem; continuei frequentando e os parceiros de lá me deram alguns cds de rap gospel”.

Pedro se apaixonou pelo rap e começou a investir em suas próprias produções. Ganhou fama em Campina Grande, organizou shows, participou de festivais e se tornou o MC Peter. “Chegou uma época em que não havia um evento gospel na Paraíba em que eu não estivesse participando. Lembro de um festival em João Pessoa, fui convidado a participar, ganhei a viagem, a hospedagem e depois até o festival”, relembra.

Escravidão
O sonho de voltar ao Rio de Janeiro permanecia vivo, mas para realizá-lo MC Peter deveria “ajeitar suas coisas em Campina Grande”. Alugou um casa para sua mãe, mobiliou-a, investiu nos estudos do irmão menor e só providenciou sua partida quando viu que a situação de sua família estava boa. MC Peter partiu para Cabuçu e foi morar com um dos irmãos de sua mãe.

O primeiro emprego que arrumou ao retornar para o Rio foi como garçom em uma churrascaria na Zona Sul. “Era uma escravidão, eu saía de casa de madrugada, pegava o Japeri lotado e tinha que aturar aqueles caras até a noite. O dinheiro até que não era ruim, mas, também, não valia tanto à pena”, diz Pedro, que passou um ano nesse emprego. Deixou tudo para trabalhar em um depósito de doces em Nova Iguaçu, que era igualmente insuportável, mas em compensação era perto. “Só quem passou sabe como trabalha em comercio é ruim”.

Como já não aguentava mais ser explorado por outras pessoas Pedro, resolveu “se virar”; investiu em doces e partiu para os trens cariocas como camelô. “Não tive muito sucesso nos trens; passei a investir nos sinais e lá eu fiz minha vida. Além de poder montar meus horários, tinha a parada da grana, em um dia ruim eu tirava com doce e com amendoim, no mínimo, oitenta reais”, explica.

MC Peter, que havia muito não fazia um show, não parou de produzir, de compor e aproveitou a flexibilidade de horários do trabalho autônomo para voltar a investir em sua carreira. Contou com a ajuda de primos e amigos para conseguir gravar seu rap “O rapper nordestino”, com produção totalmente independente. MC Peter inscreveu seu rap no festival Enraizados e para sua surpresa ficou em quarto lugar.

Agora é com você“Foi quando eu pude conhecer a grande figura que é o Dudu de Morro Agudo. Ele me ajudou pra caramba a arrumar shows e principalmente a divulgar meu trabalho”, diz. “Eu lembro que uma vez eu fui pedir a ele para divulgar um show meu; quando ele virou e disse que não faria mais nada, eu já com medo ele pega e diz: “Porra mano, agora é com você. Escreve aí!”. E me dá a senha do Portal Enraizados, eu nem acreditei”, relembra.

A carreira de MC Peter volta a caminhar, ele vira o Rap-pórter e viaja pelo universo hip-hop fazendo entrevistas e contatos. Auxilia na construção do INRAIZ – a incubadora do Enraizados -, cria o programa de web rádio “Manda que eu divulgo” – dentro do Portal Enraizados e voltado para o trabalho dos novos rappers – e monta o seu próprio blog “O diário de um MC”. Em 2010, foi contratado, também, pelo CISANE, de Nova Era, para desenvolver oficinas culturais com os adolescentes do ProJovem. Mas tudo isso não o fez perder a humildade e muito menos o espírito de guerreiro. “Quando a parada tá difícil, eu volto a trampar de camelô”, diz o MC.

Desde seu retorno ao Rio,que completará três anos, MC Peter não vê a família, mas mantém o contato por telefone e e-mail. “Eu sinto saudades, mas o que eu tô fazendo serve de orgulho pra eles. O meu irmão, por exemplo, nunca se envolveu com paradas erradas e graças a mim, eu fui o pai dele, ele me tem como herói”, revela o rapper emocionado. “Imagina um cara de 1,80 m chorando no telefone, é assim que meu irmão fica quando a gente se fala, mas ele tá lá ajudando minha mãe, construindo as paradas dele”, diz o MC que nunca deixou de ajudar a família. “Lá em Campina Grande eu sou estrela, eles vêem minhas fotos por orkut, o programa no Enraizados, pra eles sou até famoso”.

MC Peter planeja lançar seu primeiro álbum até o fim de 2010. “Minhas músicas são minha vida e minha vida é a minha música”, encerra.

2 Comentários:

Petter MC disse...

Boa matéria!!

Acessem meu blog > www.diario-mc.blogspot.com <


Obs: Hosana,vc tem as fotos que tiraram de mim na ultima sexta?

Hosana Souza disse...

Você pode pegá-las em flickr.com/photos/culturani

Beijos =**

Postar um comentário

 
 
 
 
Direitos Reservados © Cultura NI