Ofícios de fé

segunda-feira, 26 de julho de 2010

por Fernando Fonseca

O Instituto de Educação, Cultura e Ministério Educare, mais conhecido como Meduca, surgiu em função dos visíveis reflexos de esquecimento e descrença presentes no contexto social do bairro de Vila de Cava, uma comunidade pertencente ao município de Nova Iguaçu. O Meduca representa hoje quatro grandes movimentos de expressão cultural de nosso município. Os pontinhos de cultura que trabalham com fotografias, capoeira, grafite, danças e canto, sendo essas duas últimas as atividades presentes no pontinho de cultura que deu origem ao instituto, o projeto ‘Cultura Gospel’.

Coordenado pela irmã Cecília Onófrio, uma gaúcha que mora há mais de três anos no bairro de Vila de Cava, o projeto Cultura Gospel, realizado em parceria com a Escola Municipal Lucia Viana Capelli, atende 160 alunos do segundo segmento da rede municipal de ensino do bairro interessados em aprender mais sobre a cultura gospel, em especial a dança coreográfica e o coral.

Com três oficineiros e a grande totalidade dos alunos integrados ao projeto sendo da classe feminina, o projeto não opera com o objetivo de influenciar na formação escolar dos alunos, mas sim no intuito de fazer com que o aluno fortaleça sua identidade cultural no meio evangélico e com o movimento cultural gospel. “Nosso pressuposto é que a cultura gospel só terá participação na diversidade cultural
brasileira quando ela tiver sua identidade fortalecida, pois só existe
diversidade com identidade!”, diz Cecília.

Por ser uma ideia nova, com novas concepções, tanto este quanto os outros projetos surgidos como pontinhos de cultura estão sujeitos a enfrentar certas dificuldades. Porém, talvez o maior obstáculo a ser enfrentado pelo ‘Cultura Gospel’ seja o fato da comunidade ver o projeto apenas e unicamente como um movimento religioso: “Somos um grupo com uma rica história artística, literária, dentre outras coisas ligadas à cultura. As crianças reagem maravilhosamente bem ao projeto, pois este verdadeiramente fortalece sua identidade cultural com algo palpável: a dança e o canto. Criar um talento próprio de sua cultura é se sentir seguro quanto à sua própria identidade e liberdade de expressão. A grande dificuldade, porém, encontra-se na comunidade adulta, pois o adulto sedimenta demais seus conceitos, o que torna muito difícil de ser quebrado. Fazer com que eles percebam que somos
um tipo de manifestação cultura, também, e não apenas religião. Todas as igrejas cantam e dançam, porém elas não entendem que isso é cultura. A comunidade eclesiástica terá sim que aprender a compartilhar esse novo paradigma”.

Cecília fundamentou seus pensamentos e ações no projeto de lei 217/02, de 18 de junho de 2010, que caracteriza a música e os eventos evangélicos gospel como manifestação cultural. Além de dar prosseguimento ao trabalho no próximo semestre, o Meduca sonha em ver o projeto reconhecido em todas as igrejas “Afinal, estamos falando de 35% da população. Um dos maiores redutos de concentração de evangélicos do Estado do Rio de Janeiro é a Baixada Fluminense, então nada mais natural que termos esse reconhecimento”.

Por enquanto, o que se apresenta de concreto para a sociedade iguaçuana são as conquistas almejadas pelo grupo, que foram chamados a participar da Teia Cultural, em Fortaleza, no primeiro semestre deste ano, sendo até então o primeiro pontinho gospel presente nesta Teia. Sem dúvidas, um grande passo no processo de inclusão na diversidade cultura brasileira “Até então, os evangélicos eram denominados como
aculturados. A música está na alma dos evangélicos e música é cultura! Dentro da escola, educação e cultura são dois lados da mesma moeda, vivenciamos muito essa fusão”.

Nos encontros da Teia que estão sendo realizados esse mês em Nova Iguaçu, com reuniões no SESC, um dos pontos levantados pelos pontinhos é que, hoje, há uma superoferta de oficinas nas escolas, tendo talvez mais oficinas que alunos. Para a coordenadora do MEDUCA, essa questão levantada não se apresenta como um ponto negativo, já que, atualmente, o projeto atende a uma demanda de 50% do público esperado. “Temos a ideia de qualidade e não quantidade. Mesmo se tivéssemos a quantidade esperada, não teríamos a qualidade que temos hoje. Tinha que haver mais assistência aos projetos existentes. Nos dão pequenos recursos e esperam gigantes resultados. A secretaria não tem um recurso tão grande para suportar sozinha a demanda de todos s pontinhos, por isso o ministério tem sido de vital importância com as ofertas dos projetos. Talvez isso se dê em função do clamor da população”.

Baseando seus princípios na política de incentivo à cultura, à educação e também ao meio ambiente foi que o MEDUCA criou os cursos gratuitos: ‘palavras picadas’, um curso de artesanato em papel, que busca a formação de artesãos e a geração de renda dos alunos participantes, e o SOS Educação, um serviço de explicador emergencial
para alunos do ensino fundamental, de idade entre sete e quatorze anos, que receberão atendimento rápido e direto caso tiverem alguma dificuldade em uma matéria ou que precisem de uma explicação num determinado tema. Os dois projetos são patrocinados pela Casa da Moeda do Brasil.

Para maiores informações, entrar em contato com o MEDUCA pelos telefones: 2886-4593 / 3759-0647 ou pelo site: www.institutomeduca.blogspot.com

3 Comentários:

Maria do Carmo disse...

Uma bela iniciativa que se faz necessária.
Promover a arte do canto e da dança gospel nesta cidade que é um dos maiores redutos de evangéicos do Brasil.

Anônimo disse...

realmente belo.
acho que um dos grandes problemas religiosos em arrebatar seguidores seja, talvez, a falta de políticas de incentivo à cultura como esse projeto.
parabéns a todos!

Josy Antunes disse...

A irmã Cecília Onófrio e o MEDUCA estão nos nossos arquivos: http://jovemreporter.blogspot.com/2009/05/ponto-gospel.html

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