A verdadeira face

terça-feira, 27 de julho de 2010

por Mayara Freire

Na noite de sábado 17 de julho, a banda Maldita esteve no Studio B, apresentando o show da turnê do novo trabalho, “Nero”. Com muita energia, a banda contagiou a todos com a expressividade dos integrantes da banda, em especial o vocalista Erich Mariani, que entre uma música e outra falava sobre as músicas apresentadas e sobre religiões de forma irônica. Nem pareciam com os rapazes gentis e atenciosos que entrevistei na noite anterior. O reduzido espaço do Studio B permitiu que os fãs da Maldita sentissem o “feeling” da banda bem de perto.

Quando entraram no palco, os quatro integrantes da Maldita estavam sem camisas, com a capa do álbum de fundo, com o bumbo da bateria com a imagem da Maldita, que existe desde o início da banda, e Erich, com uma máscara que foi retirada depois da primeira música. Não sabia o que esperar ao entrevistar uma banda que fala de sentimentos tão obscuros e contestadores. Entretanto, todos foram muito simpáticos ao garantir que jamais deixarão de ser uma banda underground.

Há cinco anos, eles tocavam em Mesquita, o famoso espaço debaixo do viaduto, que era dedicado a bandas de rock independentes. Desde então, a banda já tocou em grandes eventos, ganharam visibilidade e abriu shows para bandas famosas, além de ter emplacado alguns clipes na programação da MTV. Nesta nova turnê, a banda fará shows em São Paulo e Rio de Janeiro. E dizem com personalidade: “Não nos importamos em nos expressar como queremos. Há quem goste ou não. Temos o nosso público”.


culturani Qual é a proposta estética do álbum “Nero”?
Erich No” Nero”, queríamos uma atmosfera do paganismo, e os romanos adoravam. Tinham as religiões monoteístas, como o judaísmo e o cristianismo, mas não era predominantes. Não falamos muito sobre Nero e o Império Romano. Na verdade, o arquétipo do Nero seria um símbolo para representar qualquer tipo excesso patológico e perverso compulsivo. Fomos parar na literatura da perversão, citada por Freud, segundo a qual onde se enquadram psicopatas, pessoas com manias, ausência de fantasias, perversão, a pessoa com mania de dor não tem como fantasiar aquilo, sublimar. A música e a arte sublimam o amor, o ódio, a saudade. Na perversão não existe isso. Usamos a figura do Nero como um ser e personagem para ilustrar o abuso de poder. A música de trabalho é Crepúsculo, uma música antiga que por pouco não mudamos o título, para que não fosse confundida com a série de livros dos vampiros. A segunda é Nero.

culturani Muitas pessoas não gostam da música de vocês por conter letras pesadas e contestadoras, obscuras, mórbidas. Qual o público de vocês?

Magrão Não fazemos nada pensando o que vão gostar. Fazemos o que gostamos e não nos preocupamos. Gótico se identifica, por ter letras mórbidas. Quem gosta de metal se idêntica com o som.

Erich Muita gente sonha com um monte de coisas, fantasia atos e não necessariamente tem coragem para concretizar eles. Isso é a sublimação que eu estava falando antes. Eu acho que a Maldita é um lugar comum para as pessoas que se identificam com essa questão e situação patológica, muitas vezes fantasiosa. Eu acho que se encaixa como uma luva pra esse tipo de gente, até porque se colocar dois psicopatas juntos nunca vai funcionar, eles vão se matar. Então acabamos fabricando esses sonhos e fantasias.
 
culturani Você considera que todos têm um lado mal? Como diz na música “Anjo”, do álbum “Paraíso Perdido”, “Do lado obscuro da mente existem coisas que nunca devem ser ditas, algumas delas podem ser vistas como delicadas, enquanto outras são bizarras demais”.

Erich De modo geral, acho que todo o homem tem uma mulher dentro de si e toda mulher tem um homem. Eu acho que todos têm um lado mal dentro, e um lado bom. Só que as pessoas usam máscara. Nossa verdadeira face fica escondida. Na música, é falada de um modo praticamente em todos os aspectos da Maldita. A questão do extremo, do excesso e do perverso.

culturani Sobre o primeiro CD, “Mortos ao amanhacer”, há rumores de que as letras foram feitas para uma ex-namorada sua. É verdade?
Erich  Sim, é verdade. Fiz a letra quando estava em um momento doentio, onde nada dava certo, tudo dava errado, usava muita droga. E, além disso, tivemos uma relação muito conturbada, doentia. Nos humilhávamos e havia agressões verbais. A música “Carne para uma Rainha” é um exemplo.

culturani E o que eram os sons de fundo que foram inseridos nas músicas?
Erich Os samplers que foram usados foram de filmes. Sempre gostei muito de filmes de terror, como os clássicos de serial killer, como Massacre da Serra Elétrica, Jason, Brinquedo Assassino, Poltergeist, Holocausto Canibal, entre outros. Usamos essas referências no primeiro CD.

culturani Na música “Motel 666”, o que vocês quiseram dizer com a frase “o que tem dentro do seu corpo é o meu coração”?
Erich O que tem dentro de você é meu coração. As pessoas têm mania de projetar sobre as outras, foi isto que quis dizer.

culturani As letras do segundo CD, “Paraíso Perdido”, tiveram um cunho mais contestador em relação sociedade, ao capitalismo. Como foi esta transição?
Erich - O primeiro se trata de coisas muito pessoais, era mais novo quando escrevi aquelas letras. A Maldita existe há 9 anos. São memórias de um jovem. No segundo, saímos desta coisa micro para o macro. Era uma voz não necessariamente minha, mas sim falamos sob uma nova voz, com questões mais abrangentes, como a música ‘Embaixadores da Carne do Amanhã’, e ‘Bastardos da América’, que diz que falamos mal dos Estados Unidos, mas sugamos tudo o que é deles. Nós somos bastardos de um país americano e negamos sua paternidade.

culturani Vocês se consideram ainda do cenário underground?
Lereu Estamos inseridos no cenário underground, no qual tocamos. Conquistamos o público neste contexto, grande parte freqüenta esses lugares. Acho que o público underground é mais fiel.
Magrão Geralmente só vão amigos e sabemos que são pessoas que realmente foram nos ver. Estes lugares estão sempre cheios.
Erich Na verdade há vários indícios de que não somos mais underground, pois já tocamos em vários festivais pelo pais todo, abrimos shows de bandas internacionais, dividimos o palco com o Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura. Mas acho que é sempre underground, mesmo que tocássemos no Faustão.

culturani Como foi a parceria neste novo trabalho com o produtor Stanley Soares, que já trabalhou com o Sepultura?
Vidaut Acho que foi uma experiência única a convivência com ele. Tentamos o melhor resultado possível. O cara tem um know-how que só ele para poder somar e fazer como nós buscávamos de forma que somasse. A produção melhorou, o cara é um músico excelente e foi muito satisfatório. Mas o que mudou efetivamente é o momento. O melhor disco é o do momento. Cada disco vai trazer o que estamos vivendo.

culturani Por que ficaram três anos sem gravar?
Vidaut Somos desorganizados e além do mais, somos independentes. Uma gravadora exigiria CDs periodicamente. Como somos livres disso, vivemos o momento. Ficamos fazendo shows durante este período. Pretendemos daqui a um ano e meio gravar o quarto.

2 Comentários:

Jefferson Loyola disse...

Uma de suas melhores matérias.
OBS: senti sua falta na reunião!!

Jefferson loyola

Igor disse...

E o sorteio de CDs e camisas da banda ?

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